Título: Enchentes naufragam plano eleitoral
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2010, Política, p. 10

Dilma e Serra se preparavam para corpo a corpo no Nordeste, mas agora procuram evitar comentários detalhados sobre a catástrofe

As chuvas que inundam o Nordeste brasileiro carregaram ladeira abaixo não apenas cidades inteiras, mas parte dos planos e estratégias dos presidenciáveis para a região. A tragédia natural revelou pelo menos um ponto sensível comum aos dois principais candidatos à Presidência da República: a falta de investimentos necessários para o combate às catástrofes naturais pode ser atrivuída tanto a José Serra (PSDB), em seu período como governador do estado de São Paulo, quanto a Dilma Rousseff (PT), como ex-ministra da Casa Civil.

Inicialmente, Serra e Dilma haviam reservado a terceira semana de junho no calendário para as festas de são-joão. O plano era o de tentar a multiplicação dos votos ao ritmo do forró nordestino. A estratégia acabou abafada pela catástrofe. Mais do que isso, as chuvas nordestinas tiraram uma das principais cartas guardadas pelos petistas para o momento em que a campanha presidencial entrasse na reta decisiva. O comando de Dilma pretendia utilizar as enchentes do início do ano em São Paulo para desmontar a imagem de bom administrador do tucano, que, à época das calamidades, era o governador paulista.

Com a enchente que devastou cidades de Pernambuco e de Alagoas, dois dos maiores quinhões eleitorais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, por extensão, propensos a descarregar votos em Dilma se transformaram em um ponto crítico da campanha governista. Especialmente depois de reportagem do Correio, publicada ontem, mostrando que grande parte das verbas federais para o combate a calamidades públicas foi despejada na Bahia, estado do ex-ministro da Integração Nacional e candidato ao governo baiano, Geddel Vieira Lima (PMDB). Durante a semana, as reações de Dilma e Serra se restringiram ao anúncio de transferência de recursos emergenciais e à sugestão de uma força nacional de combate a futuras calamidades, respectivamente.

Nenhum dos dois candidatos tocou nos nervos expostos. O da petista é a demora contada em meses para que as verbas federais cheguem aos estados afetados. O de Serra se refere ao porquê de não ter implementado as propostas feitas agora, na pré-campanha eleitoral, quando era governador de São Paulo. Um dos articuladores políticos de Serra, o deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA), preferiu não transferir ao Planalto responsabilidade excessiva sobre a tragédia. ¿É leviandade utilizar tragédias para exploração político-eleitoral. Temos de resolver a questão da falta de preparo e da demora em chegar o socorro às vítimas¿, apontou.

No período à frente do governo de São Paulo, contudo, nenhuma ação nesse sentido foi posta em prática por Serra, mesmo diante de situações cíclicas de catástrofes naturais ¿ a cidade histórica de São Luiz do Paraitinga (SP) foi praticamente reduzida aos destroços. Em razão das chuvas, 23 mil pessoas tiveram de deixar suas casas, somente entre dezembro e janeiro últimos. O número de mortos em decorrência de temporais e alagamentos chegou a 64. Quando é analisado o orçamento do governo, percebe-se uma diminuição nos recursos alocados para o combate às chuvas. Somente na limpeza da calha dos rios Tietê e Pinheiros, dois gargalos paulistas durante enchentes, Serra investiu 34% a menos do que o antecessor, Geraldo Alckmin.

Durante a crise paulista, em janeiro passado, Lula chegou a criticar de forma generalizada os municípios e estados brasileiros por permitir a ocupação desordenada em encostas e às margens de rios. Em resposta às tragédias, garantiu que o seu governo fazia ¿um processo de reparação na irresponsabilidade dos que governaram e deixaram que o povo ocupasse encostas de morro¿. Os oito anos à frente do Planalto, contudo, não foram suficientes para colocar grande parte das intervenções em prática.

Casas serão reconstruídas

Larissa Leite

Desabrigadas e desalojadas, vítimas das chuvas e enchentes em Pernambuco e Alagoas receberam uma promessa redentora do governo federal: a construção de novas casas, desta vez em locais seguros. A garantia de um novo lar foi dada ontem pelo Ministério da Integração Nacional. A secretária Nacional de Defesa Civil, Ivone Valente, foi assertiva: ¿Vão ser priorizadas, para a reconstrução das casas, aqueles que tiverem menores condições econômicas¿.

A representante do Ministério, porém, não informou o prazo de construção das novas residências, tampouco de onde viria a verba para essa ação. Em princípio, seria utilizado aporte da Medida Provisória 490, editada na semana passada. A MP conta com R$ 1,2 bilhão que deve ser destinado a estados atingidos por enchentes. ¿Vamos usar a Medida Provisória até quando ela render¿, disse Ivone Valente. O planejamento para a reconstrução das casas está sendo costurado com a participação do Ministério das Cidades.

Os R$ 50 milhões já liberados para Pernambuco e Alagoas ¿ R$ 25 milhões para cada ¿ vieram dessa mesma MP. Apesar do anúncio de reconstrução de edifícios, a secretária enfatizou que a atual prioridade do governo está na assistência humanitária e no restabelecimento de serviços emergenciais, para onde deve ir a verba liberada. Assim, os estados podem investir, de imediato, em ações como a garantia de alimentação, água e abrigo; e na retomada de energia elétrica, comunicação e transporte.

Ivone Valente ressaltou que a liberação desse recurso foi feita em tempo recorde. Na terça-feira, os dois estados enviaram documentos requisitando o apoio federal e, ontem, Pernambuco já tinha a verba orçada. Já Alagoas ainda estava com o dinheiro apenas empenhado devido a ¿um problema no sistema do Diário Oficial do estado¿.