Título: Solidariedade sem logística
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2010, Política, p. 10

Brasilienses que quiserem ajudar só poderão fazer doações em dinheiro. Nos estados, voluntários mostram disposição mesmo em condições precárias

A ajuda para as vítimas das enchentes dos estados de Pernambuco e Alagoas deve ser feita por meio dos governos estaduais, que divulgaram contas-correntes onde podem ser depositadas contribuições de qualquer valor. A Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional justificou a descentralização desse apoio com a logística complicada que envolve o envio de mantimentos.

¿O Ministério não foi demandado para centralizar esse apoio, pois ainda não foi necessário. Também considero que a melhor forma para ajudar desabrigados e desalojados seja o depósito direto em contas-correntes¿, afirmou a secretária Ivone Valente. Segundo a secretária, o envio de material para o estado envolve um trâmite complexo e, por isso, a chegada de donativos ao destino final não costuma ser garantida.

Nos locais da tragédia, sobra solidariedade e falta logística nos postos de arrecadação de doações para as vítimas. No maior posto de doação do Recife, localizado no quartel da Polícia Militar (PM), no bairro do Derby, apenas 20 pessoas recebiam doações que chegavam a cobrir boa parte da calçada. Pessoas apareceram de todas as partes da cidade para contribuir com o que podiam: roupas, alimentos, água potável, sapatos, lençóis e colchões. O problema é que o efetivo disponibilizado pela PM para executar as tarefas de seleção e armazenamento é pequeno.

Na tarde de ontem, cinco voluntários já estavam trabalhando no Derby. Entre eles, Janderlery Gomes Santana, de 43 anos. ¿O trabalho é um pouquinho pesado, mas é gratificante¿, disse o voluntário. Ele chegou ao quartel às 8h, para doar roupas e alimentos, e saiu às 16h. Até o fechamento desta edição, o governo de Pernambuco havia contabilizado doações de 8.385 colchões, 14.010 cestas básicas, 6.893 toalhas e 9.343 cobertores.

Ministro faz sobrevoo

Ana Cláudia Dolores

Vencendo a lama e a dificuldade de locomoção nas 54 cidades atingidas pelas chuvas no estado de Pernambuco, equipes dos governos federal e estadual estão percorrendo essas áreas, fazendo um levantamento das necessidades e de como podem tocar o plano de reconstrução. Segundo o governador Eduardo Campos, até a próxima semana, será concluída a identificação dos terrenos que serão desapropriados em 39 municípios onde os estragos foram maiores. Até ontem, o governo havia contabilizado 11.407 casas que foram totalmente destruídas. O número ainda pode crescer, uma vez que os técnicos não conseguiram acessar as localidades mais remotas para verificar os danos causados.

¿Depois da indicação dos lugares, vamos começar as obras de construção¿, disse o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele e o governador do estado realizaram, ontem, um sobrevoo pelos municípios de Ribeirão, Gameleira, Joaquim Nabuco e Água Preta e fizeram paradas em Palmares e Barreiros, onde começou a funcionar um hospital de campanha da Força Aérea Brasileira (FAB).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve desembarcar na Base Aérea de Recife por volta das 9h30 de hoje. A agenda presidencial ainda pode sofrer alterações, mas a previsão é que ele faça um sobrevoo em Barreiros e Água Preta e desça em Palmares, onde deve ver os estragos de perto. De lá, Lula seguirá para Alagoas.

Cenas de barbárie

Rafael Dias

Uma cidade que agoniza. Barreiros, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, mais se assemelha a um cenário nunca antes imaginado. Pessoas vagam pedindo ajuda e a barbárie é assustadora: moradores matam porcos na rua para acabar com a própria fome e bebem água do Rio Carimã, afluente do Rio Una ¿ o mesmo que derrubou duas pontes no último sábado.

Por volta das 15h de ontem, no meio da rua, um grupo se aglomerava em torno de uma mesa improvisada feita de compensado de madeira. Atrás deles, uma panela grande com água quente. Um porco era escalpelado por homens famintos que preparavam a refeição ali mesmo. O gesto não os envergonhava. Felizes, cumpriam o ritual de cortar e assar a carne com o alívio de quem sobreviveu a mais um dia.

Depois de perder mais de mil casas e cinco pontes para a força das chuvas, o município pernambucano mais atingido pela enchente da semana passada definha. Na entrada da cidade, cujo acesso se restringe a veículos que transportam donativos, tratores e carros oficiais, moradores visivelmente abatidos seguem atônitos e passam o dia pedindo alimentos e água.

SERVIÇO

Para ajudar desabrigados e desalojados, foram abertas as contas: Pernambuco: Banco Real ¿ Agência 1016, conta-corrente 6.023.0762 Alagoas: Banco do Brasil ¿ Agência 3557-2 , conta-corrente 5241-8 Caixa Econômica Federal ¿ Agência 2735 conta-corrente 995-6 , Operação 006