Título: PMDB reforça unidade para negociar vice e futuro governo
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2010, Política, p. A6

O PMDB reelegeu o deputado Michel Temer (SP) para a presidência do partido, num dos raros momentos de entendimento entre suas correntes, desde a eleição de Tancredo Neves, em 1984. Com a recondução praticamente unânime de Temer (591 dos 597 votos na convenção de sábado), os pemedebistas entram com mais força na negociação com o PT para a formação de uma coligação entre as duas siglas, nas eleições de outubro. O PMDB reivindica a vice-presidência na chapa de Dilma Rousseff e efetiva participação no governo, se a ministra vencer as eleições.

Na prática, isso significa atrair o PT mais para o centro. Os primeiros esboços do programa de governo em confecção no PT, de forte viés estatizante, são vistos com desconfiança no PMDB. Entre outras coisas, os pemedebistas querem uma participação correspondente a seu tamanho na equipe que vai formular o programa de governo de Dilma, caso se transforme em coligação eleitoral a atual aliança política entre os dois partidos. Ao compor uma chapa única para a convenção de sábado, o PMDB deu mais uma demonstração de como administrar divisões internas do partido, sobretudo em momentos politicamente decisivos.

Muito embora seja o partido com as maiores bancadas do Senado e da Câmara, a posição do PMDB já foi mais confortável na aliança com o PT. De um lado o partido sofre com o assédio do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) sobre os petistas, de outro, o próprio PT, com o avanço de sua candidata nas pesquisas, passou a imaginar que pode esfriar a escolha do candidato a vice na chapa da ministra, enquanto espera pelo momento de negociar à sua feição.

Com o entendimento em torno de Temer, o PMDB volta fortalecido à mesa de negociações dos aliados. O nome de Michel também se fortalece, no caso de prosperar a aliança com Dilma.

"Nós somos sobreviventes", dizia o deputado Jader Barbalho (PA), ao final da execução do Hino Nacional, o encerramento tradicional das convenções do PMDB. Jader, ele próprio um sobrevivente, referia-se às apostas que davam como certo que o PMDB não sobreviveria à abertura democrática de 1985, pois os segmentos abrigados sob seu guarda-chuva se dispersariam com o fim do regime militar.

Sábado o PMDB deu outro exemplo de sobrevivência. Para se fortalecer na sucessão presidencial, o grupo político de Temer - que comanda o partido desde 1995 - e a ala pemedebista do Senado abafaram suas divergências para compor uma Executiva Nacional de unidade.

A partilha de cargos da Executiva Nacional entre Câmara e Senado, no entanto, não significa divisão de poder: o controle partidário continua nas mãos dos deputados, embora os senadores sejam pessoalmente mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma proximidade que, durante boa parte do governo Lula, estimulou a divisão, concentrou o poder real no PMDB do Senado até os escândalos que minaram a força política do grupo, ao atingir suas figuras-chave, como o ex-presidente José Sarney e o atual líder da bancada, Renan Calheiros (AL).

A convenção reconduziu Temer à presidência do partido em um clima morno como há muito não se via em conclaves do PMDB. Na realidade, em matéria de animação o que mais chamava a atenção era o entusiasmo quase militante com o qual o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), que cantou o Hino Nacional a plenos pulmões.

Temer exerce a presidência do PMDB desde 2001 - algumas vezes eleito, outras por prorrogação do mandato --, e manteve os cargos estratégicos nas mãos de aliados: o secretário geral será o deputado Mauro Lopes (MG) e o tesoureiro, o deputado Eunício Oliveira (CE). A Câmara ocupa 11 das 14 vagas da Executiva e tem nove dos 10 suplentes. Até o PMDB de São Paulo, controlado pelo ex-governador Orestes Quércia, votou integralmente em Temer: na ausência dos titulares, votaram os suplentes. Sem maior problema. Essa é uma ambiguidade com a qual sabe conviver o PMDB.

Excluído da atual direção por ter sido derrotado na convenção anterior, o grupo do Senado ficou com a 1ª e a 3ª vice-presidências - que serão ocupadas, respectivamente, pelos senadores Valdir Raupp (RO) e Romero Jucá (RR) - e com a primeira secretaria-geral, para a qual foi eleito Wellington Salgado (MG).

Até a manhã de sábado, a pretensa unidade do PMDB estava ameaçada por uma disputa entre Raupp e Jucá pelo cargo de vice-presidente. A bancada do Senado - à frente Sarney e Renan - indicou Raupp, ex-líder da bancada. Jucá, líder do governo no Senado, anunciava disposição de levar a briga até a convenção. Caberia ao diretório decidir. Ele contava com apoio de parte da Câmara.

Para evitar confronto com o grupo de Sarney e Renan num momento em que se quer mostrar união, Temer e aliados decidiram aceitar a indicação oficial da bancada do Senado. Acomodaram Jucá na terceira vice-presidência. A decisão foi tomada na manhã de sábado, em reunião entre Temer, Moreira Franco, Eunício Oliveira e Henrique Alves (RN), líder da bancada pemedebista.

Temer permanecerá na presidência do partido e no comando da Câmara dos Deputados. Não abrirá mão de conduzir as negociações políticas com o PT e de fazer interlocução com o Palácio do Planalto. A reeleição de Temer fortalece sua provável indicação para ser vice na chapa de Dilma. A questão da aliança com o PT não foi oficialmente tratada na convenção, embora estivesse por trás de cada discurso.

O tom emocional foi dado por Sarney, em discurso interpretado como prestação de contas ao partido. O ex-presidente enumerou conquistas de sua gestão e afirmou, repetidas vezes, que em seu governo está o "DNA dos programas sociais".

Os diretórios do PMDB de Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, que têm maioria favorável à candidatura própria à Presidência, foram derrotados na tentativa de cancelar a convenção.