Título: Dilma apresenta-se como opção contra enchentes e mudanças na economia
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 08/02/2010, Política, p. A6

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República, valeu-se ontem, de uma só vez, dois temas delicados para seu provável principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto, o governador paulista, José Serra (PSDB): as enchentes, que desde dezembro já mataram mais de 70 pessoas no Estado de São Paulo; e as mudanças no rumo da economia.

As enchentes surgiram pela primeira vez como argumento eleitoral para atacar o PSDB, no contexto da comparação entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que os petistas querem impor à campanha deste ano.

"Comparar não é olhar no retrovisor, é escolher que caminho seguir. É importante saber se vamos fazer obras de saneamento ou não. O que se fazia antes de 2003? Muito pouco. Antes se privilegiava apenas uma parte da população. Se não fosse assim, como se explica quando quem morre em alagamentos e desmoronamentos sejam os setores mais populares? Como vai resolver a enchente se não investe em drenagem? Pode ser que não aconteça em 5, 10, 20, 50 anos, mas um dia acontece. Não vai ser possível não comparar essas situações", afirmou, durante encontro da Juventude do PT, em Brasília.

O viés de confronto com a oposição permeou todo o discurso da ministra, que respondeu as críticas de FHC, publicadas ontem em um artigo nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo", no qual ele ataca a estratégia petista de fazer uma campanha comparativa entre os governos Lula e FHC. "Se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer", escreveu o ex-presidente. A ministra também comparou a área educacional, no que se refere a investimentos em escolas técnicas e nas universidades federais.

Em relação à economia, Dilma comprometeu-se, ontem, a seguir os preceitos da Carta ao Povo Brasileiro, documento que precedeu as eleições de 2002 em que o PT garantiu que, se vencedor, cumpriria os contratos e preservaria os fundamentos macro-econômicos. Ela lembrou que o governo Lula manteve os princípios da carta e que não há qualquer risco de alteração na política econômica no caso da candidatura governista ser vitoriosa nas eleições deste ano. Insinuou que o risco de alterações está na candidatura de Serra. "Aliás, não somos nós que estamos falando em mudar a economia".

Apresentada ao país em junho de 2002, a "Carta" foi um documento produzido pela direção da campanha eleitoral do então candidato Lula. Seu objetivo era tranquilizar os empresários e o mercado, que se encontrava com elevada instabilidade diante da possibilidade de vitória do petista nas eleições daquele ano. O texto falava em manter o equilíbrio fiscal, respeitar contratos, preservar o superávit primário e assegurar o controle da inflação.

Questionada ontem se haveria a necessidade de elaborar uma nova "Carta" para responder aos críticos que apontam a possibilidade de uma maior presença estatal na economia no caso de vitória petista em outubro, ela disse que isso não será preciso, vez que a "Carta" de 2002 foi consolidada com sucesso durante os últimos oito anos.

"A ´Carta´ está bem implementada em nosso governo. Está aí nos U$ 242 bilhões de reservas internacionais, no controle da inflação, de política fiscal responsável. Está absolutamente implementada. Essa é uma tentativa (de discurso) que não pega", afirmou, antes de discursar para cerca de 500 jovens durante um encontro da Juventude do PT, em Brasília.

A ministra comentou a convenção do PMDB de anteontem, que reelegeu o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), presidente do partido, aumentando as chances de ele ser indicado seu vice na chapa governista. Na convenção, as lideranças pemedebistas avocaram para si a responsabilidade pelos programas sociais implementados pelo governo federal. "O PMDB é absolutamente confiável. A gente incentiva que todos os integrantes tomem para si as políticas sociais do governo. Conseguimos fazer um governo em que as pessoas assumam as coisas como suas".

Dilma foi recebida pelos jovens petistas aos gritos de "presidenta". Subiu ao palanque ao lado do presidente do PT, José Eduardo Dutra, e do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e fez discurso com forte tom eleitoral. Atacou a oposição, sempre comparando a era Lula com a de FHC. Ao final, convocou os presentes à campanha. "Espero contar com a juventude para que o projeto de continuidade do governo Lula seja vitorioso em 2010. Tenho certeza de que esta força vai mais uma vez levar o PT e seus aliados à vitória".