Título: Mercado financeiro eleva projeções para câmbio e inflação
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 09/02/2010, Brasil, p. A3

O mercado financeiro voltou a apostar no aumento da inflação neste ano. Há quatro semanas, acreditava que a inflação de 2010, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fecharia em 4,5%. Na semana passada, já estava projetando 4,62%. Nesta semana, segundo o Boletim Focus divulgado ontem pelo Banco Central (BC), elevou a previsão para 4,78%, acima, portanto, da meta de 4,5% perseguida pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Os agentes do mercado financeiro também estão prevendo um dólar mais forte no fim do ano - R$ 1,80, face a R$ 1,76 da pesquisa anterior e a R$ 1,75 de quatro semanas atrás.

Ao decidir sobre a taxa básica de juros (Selic), o Copom olha para as expectativas de inflação do mercado. Além das expectativas, orienta suas decisões de acordo com as projeções de inflação, a análise de cenários alternativos das principais variáveis que influenciam os preços e o balanço de riscos associados às suas projeções. Na última ata, divulgada na semana passada, o Copom sinalizou que poderá aumentar a Selic no curto prazo.

O IPCA é usado pelo regime de metas para inflação administrado pelo Banco Central, mas, nessa pesquisa do Focus, os agentes do mercado também se mostraram pessimistas em relação a outros três índices.

A expectativa para o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) no fim deste ano elevou-se de 4,6% para 5,13%. Há quatro semanas, era de 4,44%. Para o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), as expectativas também mostram deterioração. A projeção do mercado financeiro saltou de 4,41%, há quatro semanas, para 4,84%. Na pesquisa anterior, era 4,8%. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor calculado pela Fipe (IPC-Fipe) também subiu, segundo a pesquisa do BC, de 4,5% para 5,04%. Há quatro semanas, era 4,42%.

Na avaliação de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, o resultado do IPCA de janeiro foi mais alto do que se esperava e, dessa maneira, obrigou muitos agentes do mercado financeiro a ajustarem seus modelos para o ano. No primeiro mês de 2010, o IPCA apurado foi de 0,75%, enquanto a maioria dos analistas aguardava 0,6%.

No caso do Fator, Gonçalves disse que o IPCA projetado para o fim do ano subiu de 4,4% para 4,6%, refletindo, principalmente, o impacto da valorização do dólar em relação ao real.

A conta da maior elevação dos preços, segundo o economista, considerou fatores sazonais, como o reajuste do transporte coletivo, as mensalidades escolares e os aumentos de alguns alimentos. Gonçalves afirmou também que pesou o fato de a pressão da demanda não ter arrefecido.

A nova onda de crise financeira na Europa lançou, segundo o economista do Fator, incertezas no mercado quanto ao comportamento do câmbio e das commodities. Apesar disso, ele comentou que "não assusta" a expectativa de 4,78% para o IPCA no fim de 2010. Ele lembrou que o centro da meta de inflação é 4,5% e a curva de juros futuros ignorou a inflação maior como um problema para este ano. Em 2009, o IPCA foi de 4,34%.

De acordo com o economista Fábio Silveira, da RC Consultores, a expectativa de inflação mais alta ainda é um problema "modesto" para 2010 porque o mercado não está apostando em cenários muito negativos para as cotações das commodities e para o câmbio. O que a pesquisa Focus revelou, na opinião dele, teve três causas principais.

Em primeiro lugar, desde novembro há um movimento de alta dos preços internacionais de matérias-primas. Além disso, o real vem se desvalorizando frente ao dólar há mais de 40 dias, o que também arrasta os preços em reais no mercado doméstico. Por fim, o aquecimento da economia brasileira, com mais crescimento e mais renda, reforça a pressão altista dos preços. "O ponto fundamental é que o Brasil está crescendo e esse cenário facilita o repasse dos aumentos de custos dos insumos", avaliou Silveira.