Título: Rombo de R$ 47 bi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2010, Economia, p. 20

Deficit crescente contabiliza reajuste de 7,7% a aposentados. Apesar do desequilíbrio, benefícios são, em média, 18,5% dos rendimentos no país

A economia brasileira deve receber uma injeção de aproximadamente R$ 780 milhões em agosto. O dinheiro é referente ao reajuste retroativo dos aposentados. Com o aumento de 7,7% concedido pelo Congresso Nacional e autorizado pelo presidente Lula, o rombo nas contas da seguridade social, em 2010, deve chegar a R$ 47 bilhões, pelo menos. Antes do aumento das aposentadorias, o Ministério da Previdência trabalhava com uma projeção de deficit de R$ 45 bilhões até dezembro. Com os R$ 2,5 bilhões de maio, o buraco já chegou R$ 20 bilhões no acumulado do ano.

Para o ministro da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, o crescimento econômico e do mercado de trabalho amenizou o impacto do custo inesperado nas contas públicas. Aliás, o bom desempenho do emprego formal até maio foi a tábua de salvação para a previdência, o que permitiu a concessão do aumento aos aposentados sem a consequência de desequilíbrios maiores nas contas do governo. ¿Esse crescimento do mercado de trabalho e da economia cura qualquer coisa¿, afirmou Gabas. ¿Tivemos uma melhoria em todos os aspectos das nossas contas.¿

Em maio, a seguridade social urbana ficou no azul, com um superavit de R$ 1,1 bilhão. Já a previdência rural foi a responsável por desequilibrar as contas do governo ¿ registrou um saldo negativo de R$ 3,3 bilhões. Ainda assim, o buraco ficou 2% menor na comparação com abril. De acordo com o ministro da Previdência, a meta do governo é formalizar o máximo de trabalhadores, já que esses benefícios vêm ganhando importância vital para as economias de cidades do interior do país.

Rendimentos Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os benefícios pagos pela Previdência respondem por 18,5% dos rendimentos das famílias no país. Ainda assim, em algumas regiões, onde a dependência desses recursos é maior, há um contigente importante sem cobertura. ¿Com meu barco, ganho em média R$ 400 por mês. Não dá para guardar nada, só comer e pagar dívida. Não sei o que é Previdência Social¿, disse o barqueiro Carlos André da Silva Costa, 27 anos, morador de Barcarena, do interior do Pará.