Título: Preços industriais caem mais de 4% no ano
Autor: Villaverde , João
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2009, Brasil, p. A3
Os preços industriais vão encerrar o ano com queda entre 4% e 5% no atacado, primeira deflação no segmento desde 1998. Calculado desde 1947 (com pesquisa retroativa a 1944), o Índice de Preços Industriais no Atacado (conhecido como IPA Industrial) alcançou 4,55% no acumulado do ano até novembro , dentro do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M), e caiu mais 0,18% na segunda prévia do índice referente ao mês de dezembro. Este será o segundo maior tombo na história do índice - em dezembro de 1947, chegou a mergulhar 14,83%.
A queda nos preços industriais é uma das principais razões para os preços no atacado fecharem o ano em deflação. O movimento de queda do IGP-M ao longo do ano se aprofundou com a divulgação da segunda prévia do índice de dezembro (também menos 0,18%), que ampliou a queda já verificada na primeira prévia do mês (- 0,16%). Assim, o mercado já trabalha com variação entre menos 1,5% e menos 1,7% do IGP-M neste ano - a primeira vez desde 1989, quando o índice passou a ser calculado. "Este foi um ano único, com uma crise econômica mundial de enorme magnitude que retraiu a demanda e consequentemente os preços", avalia Francis Kinder, economista da Rosenberg & Associados.
Desde dezembro do ano passado, os preços dos bens industrializados no atacado só registraram alta em setembro e outubro deste ano, pressionados pelo aumento da demanda do varejo, que construía estoques para as festas de fim de ano. O consumo doméstico não se retraiu após a eclosão da crise mundial, no fim do ano passado, tendo apenas diminuído o ritmo de avanço. A indústria, no entanto, sofreu os efeitos mais firmes, com o corte de linhas de crédito - internas e externas - e da demanda por exportações.
Além disso, o país crescia a taxas de 6% ao ano no momento da crise, sustentado, em boa parte, pela expansão dos investimentos - na faixa de 15% ao ano. Assim, no momento de acirramento das condições econômicas, os estoques estavam altos, uma vez que o nível de utilização da capacidade instalada na indústria se encontrava em patamares elevados (86,3% em junho, segundo a FGV). A queda na produção industrial - que alcançou o fundo do poço em fevereiro deste ano, com 77,2% - foi determinante para derrubar os preços no atacado. Alguns itens, destaca Kinder, registraram quedas superiores a 70%, como fertilizantes e produtos químicos de modo geral.
"O IPA industrial se derreteu a partir do fim de 2008 e só deve se recuperar em 2010", afirma Laura Haralyi, especialista em inflação do Itaú Unibanco. Segundo Laura, a derrocada das expectativas, diante das perspectivas pessimistas para 2009, se somou à desvalorização cambial. Antes da crise, o dólar chegou a valer R$ 1,56, em agosto, antes de subir a R$ 2,34, em dezembro. A desvalorização cambial, no entanto, não foi suficiente para contrabalançar os efeitos negativos que a queda do comércio mundial provocou na indústria. Por outro lado, a entrada de capital estrangeiro, em 2009, reverteu rapidamente o repique na taxa de câmbio - oscilando hoje na faixa de R$ 1,70. "A valorização foi positiva para conter cotações ainda mais, uma vez que os produtos importados também perderam força", afirma a analista.
A partir de agora, o nível de atividade da economia será preponderante para a análise dos índices. "Já tinha sido no começo deste ano, quando os preços dos serviços, captados pelo IPCA e pelo IGP-M, demoraram a ceder", afirma Kinder. De acordo com Laura, os preços de serviços ainda registravam alta nos primeiros meses do ano, sem, no entanto, compensar a queda verificada nos preços de produtos agrícolas e industriais. "Agora veremos o contrário", diz ela, uma vez que os bens industrializados devem se recuperar lentamente a partir de janeiro, e os de serviços e administrados ainda repercutirão, ao longo do primeiro semestre, a queda defasada pela qual passou a atividade após a deflagração da crise mundial.
O IGP-M serve de indexador para diversos preços, como aluguéis e condomínios, e, assim, afirma Kinder, "refletirá em 2010 a queda deste ano". No acumulado em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular variação superior a 5% ao ano, no primeiro trimestre de 2010. "A retomada da produção industrial já está ocorrendo e será maior no ano que vem, mas, ao mesmo tempo, teremos maior participação dos importados."