Título: PMDB tem direito de indicar mas quem vai escolher o vice é Dilma, diz Lula
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2009, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, durante café da manhã com jornalistas, que o PMDB tem o direito de indicar um nome para vice na chapa presidencial da chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff. Mas é a Dilma quem vai escolher seu companheiro na chapa presidencial.

Lula elogiou o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), chamando-o de leal companheiro, mas admitiu que, se a "eleição presidencial não comportar dois candidatos da base, ele terá que ter a lealdade de discutir isso com o Ciro". Na sucessão paulista, o presidente disse que o maior erro do PT é não repetir candidato, começando toda disputa do zero. Defendeu ainda uma política de alianças com outros segmentos, além da esquerda. Comentou o fracasso nas negociações da Cúpula sobre o Clima em Copenhague, mas manifestou otimistmo em relação ao governo do presidente Barack Obama. Sobre as matérias em tramitação no Congresso, Lula acredita que aprovará o projeto original do pré-sal.

Em relação à desistência do governador de Minas, Aécio Neves, de disputar a eleição presidencial, Lula disse não saber "se é algo definitivo ou uma resposta às pressões internas para que Serra seja o candidato". E demonstrou ceticismo com uma chapa puro-sangue tucana: "Não sei se uma chapa com dois Tostões (ex-jogador do Cruzeiro) daria certo".

A seguir os principais pontos da entrevista:

Vice de Dilma: O PMDB tem todo o direito de indicar um nome para a chapa, mas quem vai escolher o vice é a Dilma. No momento certo, PT, PMDB e a Dilma vão sentar para conversar isso e eu não quero estar presente. Já dei sugestão para o principal que foi escolher a Dilma como candidata a presidente. Quando você é ex-presidente, nem vento bate nas suas costas. O Temer é um grande companheiro, um grande presidente da Câmara. Mas não quero dizer algo para depois vocês dizerem que eu escolhi um ou outro nome.

PMDB com Serra: Não acredito que isso possa acontecer. Mas respeito a autonomia dos partidos.

Desistência de Aécio: Não sei se é definitivo ou não. Tinha uma pressão interna muito grande para o Serra ser o candidato. Vou conversar com o Serra antes do Natal (dia 22, em São Paulo) e com o Aécio depois do Natal. É sempre bom conversar com o Aécio.

Melhor adversário: A estratégia montada para a Dilma vai ser a mesma, queremos uma eleição polarizada com dados comparativos dos dois governos

Chapa puro sangue: Tenho dúvidas, não sei se um time com dois Tostões e dois Dirceu Lopes (ex-jogadores do Cruzeiro) ou dois Coutinhos (ex-jogador do Santos) daria certo.

Pesquisa: Desde que começou o meu segundo mandato o (José) Serra ( governador de São Paulo) está na frente das pesquisas e continua na frente. Eleição é como campeonato brasileiro, o Palmeiras ficou um tempão na frente e aí deu Flamengo. Não estou preocupado com a rejeição da Dilma. Rejeição é algo que se trata com carinho, mas ainda é cedo. Temos que trabalhar . Agora é cedo para dizer qualquer coisa.

Desincompatibilização: Até o afastamento, a Dilma é ministra e vai exercer o seu cargo até o limite legal de tempo. Vai visitar e inaugurar obra.

Ciro Gomes: Se o Ciro achar que tem de ser candidato, ele tem todo direito. Agora, se eu perceber que o jogo politico não comporta mais de uma candidatura da base, tenho de ser leal e discutir isso com ele. Mas isso vai ser mais para março e abril.

Críticas de Ciro: Ai, meu Deus do Céu, isso é a liberdade de expressão. O Ciro sabe que temos de fazer alianças com os partidos que existem no país, não podemos fazer aliança com partidos extraterrestres.

PT paulista: O PT nunca repetiu candidato em São Paulo. Do ponto de vista político isso não bom. O candidato começa com 5%, termina com 30%. Depois, escolhe outro que começa com 5%. O PT precisa entender que se 30% elegesse alguém não precisava de aliados. Se precisa de 50% mais um para ser eleito, precisamos discutir com os partidos e saber quem tem esses 20% complementares, não sei se partido, empresário ou personalidade. . A palavra é aliança política. O PT sempre fez aliança pela esquerda, a soma do zero pelo zero. Não agrega segmento novo. Não pode ser a soma de nós com nós mesmos.

Caso Arruda: Eu não posso agir como um cidadão comum. Eu não sou o Lula, sou uma figura institucional. Até o momento, o processo de investigação está me parecendo sério. Não é caso de intervenção federal porque este país tem normas

Ética nas eleições: Ética não é uma coisa secundária nem na vida pessoal nem na vida pública. A população, quando escolhe um candidato, leva em em conta a conduta pessoal dele, mas analisa também se a vida dele (eleitor) melhorou ou não.

Acordo pré-sal: Estou convencido que o Pré-sal será aprovado nos moldes do acordo feito com os governadores e com as lideranças. A proposta é boa, atende todo mundo.

Veto: Teoricamente, o presidente pode tudo. Mas esperamos aprovar algo que não precise do veto do presidente.

Contas públicas: Estamos com a dívida pública sobre controle e a perspectiva de crescimento é a melhor possível. Não vou arriscar um percentual. A economia vai crescer de forma vigorosa em 2010.

Salário do funcionalismo: Não faremos arrocho salarial. A máquina pública estava destruída e atrofiada e os funcionários públicos de alto escalão estavam porcamente remunerados.

Inflação: Para mim, inflação é uma coisa preciosa. O combate à inflação é algo do qual não abdicaremos.

Superávit primário: Não existe necessidade de aumentar a meta de superávit primário. Hoje todo mundo sabe o que o governo é capaz de fazer. Nem durante a crise econômica econômica você ouviu alguém falar em aumento de superávit. A Dilma tem juízo político e econômico, não rasga nota.

Desonerações: Eu espero não precisar fazer mais em 2010. Mas se tiver algum setor que precisa, podemos discutir. A manutenção de algumas alíquotas (nos patamares atuais) vai depender da arrecadação.

Governo Obama: Continuo com uma expectativa muito boa. Ele está no primeiro ano, tem dificuldades no Congresso, que sempre foi duro com todos os presidentes. Ele assumiu compromissos com parte da população que não era ouvida. O povo americano foi muito ousado ao eleger o Obama. Como ele é muito inteligente, ele sabe disso. Ele é muito novo na poltica. Tudo tem seu tempo de calejamento. O Congresso americano sempre foi muito duro com os presidentes.

Caso Battisti: Assim que receber a decisão do Supremo Tribunal Federal, vou tomar a melhor decisão para o Brasil. Não me importa o que disse o Supremo. Ele teve a chance de fazer e fez. Eu não dei palpite.

Salário mínimo e aposentados: Nós repusemos aos aposentados brasileiros as perdas com a inflação. Os que ganham salário-mínimo tiveram aumentos substanciais. Todo mundo sabe que a Previdência tem um limite. Se a Previdência quebrar, será ruim para todos os brasileiros.

CoP-15: Nós fizemos a nossa proposta, mas os demais países não evoluíram, estavam reféns da proposta americana enviada ao Congresso Nacional. O Brasil vai trabalhar para cumprir suas metas. Quando os países ricos dizem que estão dispostos a dar US$ 110 bilhões até 2012, parece que é muito, mas não é. No caso brasileiro, por exemplo, temos um investimento público e privado de US$ 160 bilhões até 2020. Nós queremos que os governantes assumam a responsabilidade de dar esse dinheiro com o aval do Tesouro. Se o mercado quiser dar também, é lucro.