Título: Denúncia contra PTB afeta candidatura de Monteiro Neto
Autor: Camarotto , Murillo
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2009, Política, p. A8

O PTB pernambucano perdeu no início deste mês a única secretaria que comandava no governo Eduardo Campos (PSB). Em meio a denúncias de superfaturamento de shows, o deputado estadual Silvio Costa Filho deixou a cadeira de secretário de Turismo. O imbróglio acabou tendo que ser administrado pelo deputado federal Armando Monteiro Neto, que preside o PTB local e tem seu nome garantido na disputa ao Senado na chapa de Campos em 2010.

Apesar de não ter o nome envolvido nas denúncias - que já estão sendo apreciadas por Ministério Público Federal, Polícia Federal e Tribunal de Contas -, Monteiro Neto vem sendo alfinetado pelo tucanato local, especialmente pelo senador e presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, seu provável adversário. Oposição ao governo Campos, o PSDB pretende explorar o episódio na campanha de 2010, segundo garantiu a líder do partido na Assembleia Legislativa, Terezinha Nunes.

Ao Valor, Monteiro Neto se disse "muito tranquilo" em relação à tentativa da oposição em vincular seu nome ao escândalo. Apesar da tranquilidade declarada, devolveu a provocação: "Seria o mesmo que eu tentar debitar ao presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra, as denúncias que envolvem o Rodoanel em São Paulo, ou perguntar a ele para onde foi o dinheiro do Detran lá do Rio Grande do Sul", disparou o deputado.

Dentro do governo, a versão corrente é de que o escândalo não terá força para arranhar o prestígio de Monteiro Neto como um dos candidatos do governador, "a não ser que apareçam fatos novos", segundo ponderou uma fonte de peso na administração estadual. Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro Neto tem na boa relação com o empresariado um dos seus principais ativos políticos que, segundo a mesma fonte, o credenciam como "candidato consensual" ao Senado na chapa de Campos.

E essa "garantia" não vale pouco. A disputa pelas candidaturas ao Senado na chapa do governador é ferrenha e acabou levando até a saída do ex-prefeito do Recife João Paulo Lima e Silva (PT) da Secretaria de Articulação Regional. Além dele, estão colocados para o Senado os nomes de petistas como o do ex-ministro da Saúde, Humberto Costa e do deputado federal Maurício Rands. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho (PSB), corre por fora, já que uma das vagas deve ficar com o PT.

De seu lado, Eduardo Campos optou por não se aprofundar nas denúncias. Sua declaração mais enfática sobre o assunto foi a de que seu governo "agiu rápido" ao pedir auditoria ao Tribunal de Contas e - mesmo que nas entrelinhas - ao tirar do cargo o ex-secretário.

Silvinho, como é conhecido o ex-titular do Turismo, estava no governo desde novembro de 2007. Há cerca de três meses, migrou para o PTB juntamente com o pai, o deputado federal Silvio Costa. Os dois pertenciam, até então, aos quadros do PMN, sigla que deve fazer oposição a Campos no ano que vem.

As denúncias que resultaram na queda Silvinho foram feitas em 24 de novembro por DEM e PSDB, que acusavam superfaturamento na contratação de shows realizados no interior do Estado entre o fim de 2008 e meados deste ano. A maior parte dos recursos supostamente envolvidos nas irregularidades, num montante total de R$ 6,9 milhões, teria origem no Ministério do Turismo, que os teria repassado ao governo estadual por meio da Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), cujo presidente, José Ricardo Diniz, também caiu.

Pelo esquema denunciado, o dinheiro entregue a Empetur teria sido repassado às prefeituras das cidades, a maioria administrada pelo PTB, onde foram realizados os shows. Ocorre que os valores apresentados nas notas referentes ao pagamento dos cachês dos artistas são bastante superiores aos de tabela. Procurados, muitos artistas contestaram as quantias descritas nas notas, o que agravou a situação.

Declarando-se inocente, Silvinho pediu investigações ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas após deixar o cargo. Já seu pai acusou os prefeitos e as empresas organizadoras pelas irregularidades, chegando, inclusive, a pedir publicamente a prisão do prefeito de Carpina, Lula Sampaio, do PTB. Mesmo que discretamente, Monteiro Neto defendeu o ex-secretário, dizendo confiar na sua inocência. Porém, ficou irritado com a reação de Silvio Costa, o pai, que classificou de "desastrosa".