Título: Netinho de Paula evoca periferia em disputa por vaga ao Senado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2009, Política, p. A8
Estreante no mundo político, o pagodeiro e apresentador de TV Netinho de Paula desponta como pré-candidato ao Senado por São Paulo. Há apenas um ano no cargo de vereador pelo PCdoB, Netinho foi o terceiro vereador mais votado da Câmara paulistana em 2008 e aparece em sondagem divulgada ontem com 22% das intenções de voto, empatado com a subsecretária da Lapa, Soninha Francine, e pouco abaixo de Orestes Quércia, presidente do PMDB regional, com 24%.
Boa parte da popularidade do cantor, ex-integrante do grupo "Negritude Júnior", vem do programa "Show da Gente", apresentado aos sábados no SBT e cujo destaque é o quadro "Dia de Princesa". O segredo de Netinho reside na periferia de São Paulo, de onde veio. No quadro do programa, um dos mais vistos do SBT, Netinho vai a bairros pobres da cidade e oferece desde serviços de salão de beleza, mobília, bicicleta, bolsa de estudos em escolas e faculdades e até emprego. "O programa mostra coisas que o Estado poderia fazer e não faz", disse o vereador. Netinho aproveita o dia de gravação para instalar o que chama de "gabinete itinerante" nos bairros da periferia. Lá, sua equipe ouve as mais diversas queixas dos moradores, de problemas de saúde à falta de vagas na escola pública e encaminha ao gabinete.
Com 39 anos, sete filhos de quatro casamentos, é fundador da ONG Instituto Casa da Gente, onde oferece aulas de reforço e de artes a 700 crianças em situação de risco e preside a Comissão de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente na Câmara, mas envolveu-se em episódios polêmicos. Em 2005, agrediu a então mulher, Sandra Mendes de Figueiredo, após uma briga. No mesmo ano, deu um soco um repórter do programa de TV "Pânico".
Sua plataforma política é "dar voz aos mais pobres de São Paulo e diminuir as diferenças sociais entre os bairros da periferia e os mais ricos da cidade". "É preciso ter uma visão menos elitista de São Paulo", disse. Recém-chegado ao PCdoB, convidado pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-P) e pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva, Netinho quer ser o "primeiro senador negro de São Paulo".
Na avaliação do presidente do PT de São Paulo, Edinho Silva, o PCdoB é um aliado fundamental nas eleições de 2010 e Netinho, uma "liderança em ascensão" que deve ser valorizada. "Ele dialoga com a juventude da periferia, um setor social muito importante para a candidatura Dilma", afirmou. Silva, no entanto, diz que o PT ainda deve definir se a segunda vaga da coligação ao Senado ficará com o PCdoB ou com o PSB, cujo candidato é o vereador Gabriel Chalita. "A decisão vai ser o que for melhor para a construção da candidatura da Dilma", afirmou o presidente estadual do PT de São Paulo.
No primeiro ano na Câmara Municipal, Netinho apresentou nove projetos de lei, mas até agora foi aprovado apenas o que institui o dia de combate à intolerância religiosa. Boa parte de seus projetos trata da área da educação, como a instalação de salas de aula para cursinhos de pré-vestibular no ensino público ou instituição do período integral no ensino infantil.
Segundo a pesquisa Datafolha, feita na semana passada. o senador Aloizio Mercadante (PT) lidera a disputa para uma das duas vagas ao Senado por São Paulo, com 32% das intenções de voto, seguido pelo senador Romeu Tuma (PTB), com 27%, Quércia e Netinho. Soninha Francine (PPS), obteve 22%. Gabriel Chalita aparece com 7% e o secretário estadual de Educação, Paulo Renato (PSDB), 6%.
Na avaliação de Chalita, ainda é cedo para basear escolhas somente em pesquisas. "É preciso ver o potencial de crescimento, o perfil de cada um. A pesquisa agora não garante quem vai ganhar na campanha", disse Chalita.