Título: Mercado de concurso público atrai novos investimentos
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Fonte: Valor Econômico, 22/12/2009, Empresas, p. B1

Após um 2009 com apenas quatro negócios fechados na área de educação, já é esperado que investidores e grandes instituições de ensino voltem às compras no próximo ano e uma das áreas que devem despertar atenção é a das escolas preparatórias para concursos públicos.

A Academia Brasileira de Educação, Cultura e Empregabilidade (Abece), holding carioca formada por nove empresas com aproximadamente 70 mil alunos inscritos, está negociando a compra de mais três cursos preparatórios no Rio, em São Paulo e em Brasília - um deles está em fase final de aquisição.

O grupo SEB, que hoje tem apenas cursos voltados para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), vai entrar no mercado de concursos públicos em 2010. A nova divisão será um dos alicerces para que o número de alunos da Praetorium, escola preparatória adquirida em 2008 pelo SEB, salte dos atuais 10 mil para 15 mil. Desse volume, 50% será de matrículas para os cursos de concurso público, segundo Nilson Curti, diretor de operações do SEB.

Instituições de ensino interromperam as aquisições neste ano por causa do cenário econômico. Mas nos bastidores, as conversas continuaram. "Temos um assédio diário de fundos de private equity e empresas de educação", disse Wilson Granjeiro, dono da Gran Cursos, escola preparatória sediada em Brasília e com 16,8 mil alunos.

Granjeiro, um ex-servidor que chegou a prestar nove concursos públicos e abriu sua própria escola em1985, está de olho nessa boa maré. Ao ser questionado pela reportagem do Valor se teria interesse em vender sua escola, ele disse sem pestanejar: "estou aberto para ter um sócio para a escola crescer e também para vender toda a escola. Já tenho outros projetos, que não posso revelar".

O interesse, de fato, existe. Em outubro de 2008, a Anhanguera desembolsou R$ 180 milhões pela LFG, uma das maiores escolas preparatórias do país, com 64 mil alunos e 370 unidades. Duas semanas depois, o SEB pagou R$ 11,1 milhões pelo Praetorium, escola mineira com 1,9 mil estudantes. Em 2008, a Abece também entrou no mercado de cursos preparatórios.

Os compradores enxergam um cenário interessante. "No governo Lula, o mercado de concursos públicos cresceu em média 40% ao ano", disse Ryon Braga, presidente da Hoper Consultoria, especializada na área de educação.

Dados da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anfac) mostram que são registradas, por ano, cerca de 10 milhões de inscrições para as provas de concursos públicos. Desse total, aproximadamente 3 milhões de pessoas fazem, antes do exame, cursos preparatórios. "O principal fator para a pequena participação dos cursos preparatórios em relação ao mercado é a ausência do acesso à informação e não a renda (do candidato)", disse Braga.

Outra característica que faz os investidores se interessarem pelos cursos preparatório é que eles não são regulados pelo Ministério da Educação (MEC). Os cursos preparatórios não são obrigados, por exemplo, a ter um determinado número de professores com doutorado ou mestrado e podem demitir professores a qualquer momento do ano letivo - ao contrário das faculdades.

O setor de escolas preparatórias também é marcado pela forte presença de marcas regionais, apesar de os mercados do Rio e Brasília serem os mais representativos quando se trata de funcionalismo público. Segundo a Anpac, há aproximadamente 500 cursos preparatórios espalhados no país.

No grupo das maiores escolas focadas em concurso público, estão a carioca Academia do Concurso, as paulistas LFG, Damásio de Jesus e Central de Concursos, além das mineiras Praetorium e Orvile Carneiro e a paranaense Aprovação.

Para 2010, está prevista a realização de concursos públicos para mais de 50 mil vagas, o que deve atrair uma leva dos chamados "concurseiros", pessoas que prestam concursos públicos. Para atender esse contingente, o SEB pretende expandir a rede atual da Praetorium de 120 unidades para 250 unidades no próximo ano. Parte dessa expansão será possível após um investimento de R$ 3,5 milhões a R$ 4 milhões na plataforma de tecnologia, uma vez que as aulas são telepresenciais, ou seja, transmitidas via satélite.

A Gran Cursos, com oito unidades próprias, também tem engatilhado um projeto de expansão. O objetivo é abrir até 2013, por meio de franquias, 25 escolas, sendo uma em cada capital do país. "Vamos investir de R$ 2 milhões a R$ 3 milhões por ano para a expansão", disse Granjeiro.