Título: Paulo Octávio corteja Judiciário para evitar intervenção no DF
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 17/02/2010, Política, p. A8
O governador interino do Distrito Federal, Paulo Octávio (DEM), está buscando "nomes de respeito" para estabelecer um bom relacionamento com o Poder Judiciário e formar um eventual gabinete de governo. "Tenho uma relação de nomes respeitados. E ter uma ou outra pessoa egressa do Judiciário é bom", disse o vice-governador ontem, ao Valor.
Na semana passada, Octávio assumiu o governo do Distrito Federal em razão da prisão e da posterior licença do titular, José Roberto Arruda (sem partido). "É importante ter uma estrutura com pessoas que gostam de Brasília, que têm respaldo, vivência e são conceituadas". O interino convidou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Velloso. "Mas ele não está inclinado", lamentou. Octávio também cogitou um convite aos ex-ministros Maurício Corrêa e Sepúlveda Pertence.
O futuro político de Paulo Octávio depende diretamente do Judiciário. Ele nega envolvimento com um suposto esquema de corrupção no governo do DF. O STF analisará, até a próxima semana, um pedido de intervenção federal no DF feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. O STF também julgará pedido de "habeas corpus" feito por advogados de Arruda, o que pode devolver o cargo ao titular.
Hoje, Paulo Octávio deve ser recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na conversa, o governador interino pedirá ajuda para evitar a intervenção federal no DF. "Vou dizer ao presidente Lula que sou um facilitador, não tenho vaidade de ser governador. Mas temos uma linha sucessória que deve ser respeitada", afirmou. "Os partidos todos são contra a intervenção. Seria uma desprestígio para todo mundo". Em sondagens a integrantes do Judiciário, Octávio afirmou ter ouvido disposição contrária à intervenção. "Não vejo ninguém com vontade disso".
Antes da Justiça, o governador interino terá que avançar nos acordos internos de seu próprio partido - o Democratas analisará pedido de sua expulsão até a próxima semana. "Não sou governador, sou interino. Estou numa situação complicadíssima", admitiu. "Mas posso pedir desfiliação ou sair do governo. É uma situação incrível, com fogo cruzado no DEM que eu nunca vi igual". Dependente da Justiça, Octávio reclama de integrantes do partido. "Há uma suposta denúncia contra mim. Mas não tem nenhum ato meu. O partido sempre me poupou, me homenageou. As declarações do senador Demóstenes atrapalham os entendimentos", afirmou. "Vamos ver se vão fazer isso mesmo. Não tem motivo. O DEM de Brasília é pacífico". Ele disse que se o DEM não pedisse sua expulsão, ele renunciaria a postular qualquer cargo nas eleições de outubro.
Ocorre que o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) insistem em apresentar o pedido de desligamento de Paulo Octávio, além da dissolução do diretório regional e a imediata devolução de todos os cargos de confiança no governo do DF. "Existe uma ligação muito forte entre Arruda e Paulo Octávio. É difícil separar as gestões. Vamos botar um ponto final nisso", disse Caiado. O senador Demóstenes reafirma a intenção de pedir a expulsão. "Paulo Octávio é acusado de irregularidades. Tendo a reunião (do DEM), vou pedir a expulsão, sim", informou.