Título: Cinco distritais na berlinda
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 24/06/2010, Cidades, p. 36

Depois da cassação de Eurides Brito, devem ter prosseguimento os processos que analisam a quebra de decoro parlamentar de outros citados na investigação da Polícia Federal

Depois da cassação de Eurides Brito (PMDB), entram na fila do julgamento político outros cinco deputados distritais citados no escândalo da Caixa de Pandora. Benício Tavares (PMDB), Rôney Nemer (PMDB), Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP) e Rogério Ulysses (sem partido) estão sujeitos à perda de mandato por quebra de decoro parlamentar. Até hoje, o processo contra esses parlamentares estava suspenso, mas depois de uma reunião marcada para esta tarde, as ações devem ter encaminhamento.

É bem provável que a maioria dos integrantes da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados vote a favor do andamento dos processos. Compõem a Comissão os deputados Érika Kokay (PT), Aguinaldo de Jesus (PRB), Raimundo Ribeiro (PSDB), Batista das Cooperativas (PRP) e Paulo Roriz (DEM). Entre os cinco, há pelo menos três votos favoráveis ao prosseguimento das ações. É esperado que a petista Érika Kokay mantenha o posicionamento em prol da investigação dos acusados.

Mesma postura é aguardada de Raimundo Ribeiro. Ele foi o corregedor ad hoc que aceitou a abertura do processo contra os oito distritais citados no inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ribeiro sustenta a tese de que o andamento dos processos dará oportunidade a que todos os acusados se defendam. Paulo Roriz também deve abraçar a mesma argumentação.

O encaminhamento dos processos contra os cinco distritais não significa que todos terão o mesmo desfecho de Eurides, a degola política. Muito provavelmente, eles vão se salvar da cassação. Mas ao permitir a continuidade das ações, os distritais da Comissão de Ética consideram que darão uma resposta ao Ministério Público e à sociedade. Há um mês, o MP cobrou da Câmara Legislativa a análise dos processos contra os demais deputados investigados na Caixa de Pandora.

Punição máxima A cassação de Eurides Brito foi a segunda em toda a história da Câmara Legislativa. Antes dela, apenas Carlos Xavier havia recebido punição máxima por quebra de decoro parlamentar. Ele foi acusado de ser o mandante de um assassinato. Em geral, os deputados se protegem até as últimas consequências. No caso de Eurides, no entanto, ela insistiu em permanecer no cargo e se defender até o fim do processo. Foi alertada pelos colegas de que eles não conseguiriam salvá-la. O desgaste era considerado muito alto. Com isso, a deputada acabou perdendo o mandato e é vista como bode expiatório da crise política na Câmara.

Destino diferente tiveram Leonardo Prudente e Júnior Brunelli. Ambos se envolveram em situações igualmente escandalosas, mas em modalidades diferentes. Eurides foi gravada enfiando dinheiro de origem suspeita, entregue por Durval Barbosa, na bolsa. Prudente, nas meias. E Brunelli puxou a oração de propina. A diferença é que Prudente e Brunelli renunciaram para evitar a cassação.

Na mira da Comissão de Ética

Aylton Gomes (PR)

Apontado por Durval Barbosa em depoimento ao Ministério Público; citado em conversa interceptada pela PF como beneficiário de pagamentos de mesadas em troca de apoio ao governo Arruda.

Benedito Domingos (PP)

Segundo Durval Barbosa, ele recebeu R$ 6 milhões em 2006 para fazer com que seu partido, o PP, apoiasse Arruda na campanha de 2006. Também seria beneficiário de pagamentos de mesada.

Benício Tavares (PMDB)

Aparece em vídeo com Durval Barbosa sendo citado como beneficiário de pagamentos mensais em troca de suporte para José Roberto Arruda, tanto no PMDB quanto na Câmara Legislativa

Rogério Ulysses (sem partido)

Teve a casa e o gabinete investigados em cumprimento a mandado de busca e apreensão. Citado por Durval Barbosa como beneficiário de mesadas para se alinhar a favor do governo Arruda.

Rôney Nemer (PMDB)

Citado em conversa interceptada pela PF entre Durval Barbosa, José Roberto Arruda e José Geraldo Maciel como beneficiário de pagamentos mensais em troca de apoio político ao Executivo local