Título: Conferência global de investimento
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2010, Opinião, p. A9

Se o ano de 2009 entrará para a história devido à recessão que atingiu a economia global, então podemos ter certeza de que 2010 será marcado por uma estrondosa recuperação.

Há menos de 12 meses, os principais líderes políticos do mundo, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniram na Cúpula do G-20, em Londres, para buscar alternativas para resgatar a economia global de um colapso do sistema financeiro.

Podemos considerar como um indicador de sucesso que agora o Reino Unido seja o anfitrião de outro encontro de alto nível - a Conferência Global de Investimentos que se inicia hoje em Londres. Desta vez, líderes empresariais de todo o mundo discutirão investimentos e crescimento. Entre eles estarão presentes os executivos-chefes de companhias brasileiras como a Odebrecht Óleo & Gás e a TAM Linhas Aéreas.

No entanto, isso não quer dizer que a passagem da recessão para a recuperação é uma certeza e já está garantida.

A crise imediata pode ter passado, mas a necessidade de uma liderança global e de cooperação econômica é tão premente agora como era há um ano.

A segurança dessa frágil recuperação deve se basear na retomada do consumo e do investimento privados ao mesmo tempo que provê garantias contra os riscos de uma suspensão prematura e desordenada das medidas de estímulo à economia.

Deve-se criar um padrão de demanda novo e mais equilibrado e encontrar novos propulsores do crescimento global. Sem isso, a perspectiva de uma década perdida de baixo crescimento e alto desemprego será iminente.

Internacionalmente, ainda é necessário equilibrar a relação de riscos futuros, recompensas e responsabilidades entre o setor financeiro global e as sociedades às quais eles servem.

A fé do mundo na abertura dos mercados e os méritos da globalização, que foram colocados à prova pela crise, também precisam ser restabelecidos.

Internamente, o Reino Unido se comprometeu - por lei - a reduzir pela metade seu déficit até 2014. A melhor forma de fazê-lo é por meio do crescimento e do aumento da competitividade de nossa economia, fortalecendo as novas indústrias e desenvolvendo uma força de trabalho capacitada.

Atrair investimentos é essencial. A cooperação internacional é necessária para promover a inovação e desenvolver setores de forte crescimento que trarão benefícios a todos. Os governos precisam dar ao setor empresarial a liberdade necessária para florescer.

No Reino Unido, estamos comprometidos com a abertura de nossa economia e com a consolidação da posição britânica de ser o melhor país na Europa para se fazer negócios.

Empresas como o grupo brasileiro Marfrig (proprietário das empresas Moy Park no Reino Unido) têm obtido sucesso em seus negócios no Reino Unido, atraídas pelo fuso horário e pelo fácil acesso à Europa, ao outro lado do Oceano Atlântico e ao redor do mundo.

Para melhorar o ambiente de negócios, estamos simplificando os processos de planejamento, desenvolvendo nova infraestrutura, e mantendo uma regulamentação estável e clara.

Surgirão novas oportunidades em nosso parque industrial de primeira classe, assim como nas áreas tecnológica, de pesquisa e desenvolvimento, científica e nas indústrias criativas - todas contando com o apoio do extensivo setor de serviços britânico já existente.

Mesmo durante a recessão, atraímos investimento internacional - incluindo sete projetos de investimento brasileiros - que, no ano passado, criaram e garantiram mais de 78 mil empregos.

Mantivemos nossa posição como o melhor lugar na Europa para atividades de inovação, da indústria farmacêutica, tecnologia da informação e comunicação, serviços financeiros e para a indústria criativa - um setor que vai do cinema à moda, da arquitetura à mídia.

Quinze dos 75 remédios mais vendidos no mundo foram descobertos ou desenvolvidos no Reino Unido.

O Reino Unido tem o mais extenso mercado de banda larga no G-7, o grupo dos sete países mais desenvolvidos, quatro das seis principais universidades do mundo, e já é um grande exportador de bens e serviços de baixo carbono. E agora o Reino Unido ostenta a maior capacidade instalada em todo o mundo para a geração de energia eólica em alto mar.

Nesta semana em Londres, teremos a oportunidade de compartilhar conhecimento, consolidar relacionamentos e aprender lições a partir da crise financeira e da recessão. O foco estará no investimento, na inovação e nas indústrias do futuro.

Por uma década, o Reino Unido tem sido um dos centros econômicos globais. À medida que caminhamos da recessão para a recuperação, estou otimista de que o Reino Unido continuará sendo um ótimo lugar para fazer negócios - e um excelente lugar a partir do qual se farão negócios.

Gordon Brown é primeiro ministro do Reino Unido desde 2007. Anteriormente, foi o ministro da Fazenda Britânico (Chancellor of the Exchequer). Nasceu em 1951, na Escócia, é casado e tem dois filhos.