Título: Teles mudam estratégia para rentabilizar redes 3G
Autor: Mahlmeister , Ana Luiza
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2010, Empresas, p. B1

A disputa pelo cliente de banda larga móvel será acirrada neste ano. Os consumidores têm celulares mais novos que podem acessar as redes de terceira geração (3G). O serviço atraiu 4,5 milhões de usuários no Brasil no ano passado e esse número deve mais que dobrar em 2010, segundo analistas. Aparelhos com um pouco mais de recursos - nem precisa ser o celular inteligente ("smartphone") - permitem acessar e-mails e redes sociais, trocar mensagens instantâneas, navegar na web e consumir pacotes de dados: é aí que a operadora extrai mais receita.

A notícia ruim é que a simples oferta de conexão à banda larga móvel, com o modem espetado no notebook, tem baixo consumo de serviços e hoje representa mais de 70% dos clientes das operadoras nas redes 3G. "O modelo de internet móvel no Brasil não é sustentável", afirma o diretor de marketing da TIM, Rogério Takanayagi. O executivo argumenta que dar apenas a conexão não rentabiliza a rede.

Uma pesquisa da Acision, empresa que oferece serviços para as operadoras móveis, mostra que a média de rentabilidade com mensagens (SMS) no celular, o serviço mais popular atualmente, é de US$ 243 por megabyte trafegado, enquanto no acesso à internet móvel esse valor cai para US$ 1. "O desafio é ter uma oferta de serviços atraente tanto para usuários de telefones inteligentes quanto de notebooks", diz a diretora de marketing da Oi, Flávia Bittencourt.

Tradicionalmente, a venda de serviços de valor agregado pelo celular no Brasil é fraca. Nos primeiros anos de implantação da telefonia móvel, o foco das operadoras foi na cobertura geográfica para aumentar o número de clientes. "Só agora começam a pensar seriamente em serviços", diz Rafael Steinhauser, presidente da Acision na América Latina.

Segundo Erasmo Rojas, diretor da 3G Américas, associação que reúne as companhias que defendem o padrão tecnológico GSM, a receita média por usuário no Brasil é de US$ 13 mensais, sendo que apenas 12% vêm da venda de serviços ante 21% no México e 25% nos Estados Unidos. Com o aumento da competição, a tarifa do minuto de voz tende a cair, intensificando a necessidade da oferta de serviços de valor agregado. "Neste ano, o consumo de serviços deve crescer e o Brasil está bem posicionado para isso, pois mais de 45% dos brasileiros têm menos de 25 anos", diz Rojas.

A guerra de preços para atrair o cliente de dados já começou. A TIM iniciou a disputa por assinantes com o lançamento de um pacote que permite trafegar 100 megabytes por mês a R$ 9,90 (para clientes empresariais em planos pós-pagos). Para Takanayagi, o futuro da rede 3G está nos telefones inteligentes. "Temos que estimular ao máximo o uso do celular, baixar a tarifa dos serviços e oferecer uma rede de qualidade", afirma. Segundo o executivo, a TIM está fazendo uma pesquisa na Ásia para trazer ao Brasil aparelhos inteligentes mais baratos, com sistemas operacionais abertos como o Android, do Google, para que dispositivos mais sofisticados possam chegar às camadas de menor renda.

Ampliar a oferta de aplicativos para os telefones inteligentes é um movimento que só tem ganhado adeptos. Na esteira da Apple, com a App Store, e da Ovi, da Nokia, fabricantes como RIM e Samsung e as operadoras começam a se mexer. Na semana passada, durante o Mobile World Congress, em Barcelona, 24 operadoras anunciaram uma iniciativa conjunta para o desenvolvimento de aplicativos móveis, entre elas a América Móvil, AT&T, Telefónica, Telecom Italia, China Unicom, Deutsche Telekom, NTT Docomo, Sprint, Vodafone e Verizon.

No caso das lojas dos fabricantes de aparelhos, cada uma trabalha com seu próprio sistema operacional. "A ideia das operadoras é oferecer aplicativos multiplataforma com um modelo de negócio que remunere bem o desenvolvedor de forma a ampliar a oferta de programas e concorrer com as lojas dos fabricantes", diz Paulo Breviglieri, que comanda a Qualcomm no Brasil. A empresa oferece a plataforma Plaza Mobile de portais de aplicativos e fechou recentemente contratos com a TIM e a Claro. A primeira vai lançar em abril a TIM Web Store com aplicativos diversos para telefones inteligentes; a segunda anuncia uma loja de aplicativos "widgets", ícones que baixados no celular permitem automatizar tarefas e facilitar o acesso a sites na internet.

A Vivo já havia anunciado em janeiro uma plataforma para estimular a criação de aplicativos. Os interessados se cadastram no site e baixam um kit com as informações técnicas. Depois de testado, o software entra para a Vivo Downloads Store. Inicialmente os desenvolvedores vão criar aplicativos baseados em SMS (troca de mensagens) e posteriormente relacionados a MMS (troca de imagens) e wap (acesso à internet). O desenvolvedor fica com 70% de participação na receita da venda do conteúdo, elevando o percentual médio praticado nesse mercado, que é de 10%.

Combinar ofertas pagas e gratuitas é a estratégia da Claro para extrair renda com serviços de internet móvel. Fiamma Zarife, diretora de valor agregado, explica que o "streaming" de vídeo - quando o usuário assiste ao conteúdo no site, sem precisar fazer o download do arquivo para o computador - é gratuito, mas a operadora ganha em outras ofertas, como o estímulo à participação de jogos de perguntas, votações, músicas pagas etc.

O pacote "Minha TV", por exemplo, tem assinatura mensal de R$ 10 para uma série de canais e conta com pacotes separados, como o de desenhos, por R$ 5,99. Para o usuário da banda larga móvel no notebook, a Claro lançou no fim do ano passado um conjunto de ferramentas de segurança com blocos de serviços pagos como filtros de acesso à internet, para que os pais possam controlar a navegação de seus filhos, e firewall (módulo de segurança antivírus).

A frustração do assinante que busca na banda larga móvel a mesma experiência da fixa faz com que a perda de clientes seja alta nesse mercado. "A procura pela banda larga móvel foi além do que esperávamos e o perfil de uso é similar ao da fixa, com alto consumo de vídeo", diz Flávia Bittencourt, da Oi.

Com isso, 5% dos assinantes consomem 80% da banda. O cliente também exige uma qualidade, que hoje não é viável. A executiva diz que a Oi foi ganhando experiência na venda do serviço, de forma a direcionar o produto para o assinante que precisa de mobilidade. "Não é mais vendido como substituto da internet fixa", diz. A empresa aparelhou seu call center para dar mais detalhes aos interessados, como avisar sobre os limites de velocidade nos horários de pico e incluir uma "degustação" antes da compra. Conforme o caso, a operadora oferece outras opções de serviços fixos, mais adequados à necessidade do cliente. "Não dá mais para vender de forma irresponsável, oferecendo modem grátis e planos ilimitados", afirma.

Essa é a tendência, esboçada por todas as operadoras, para não sobrecarregar a rede. "A ideia é oferecer uma tarifa por determinado tráfego de quilobits de dados e taxar o excedente", diz Takanayagi, da TIM, que nos próximos meses terá novo portfólio de serviços. O executivo reforça que a empresa também posicionou o produto de modo a não concorrer com a banda larga fixa. "Pensamos numa forma de cobrança diferenciada, pela qual quem usa mais paga mais, e que não prejudique o assinante que consome pouca banda", diz. Outra medida é estimular ao máximo o uso do celular na rede 3G.