Título: Brasil fica entre líderes em fusões e aquisições em 2009
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2010, Empresas, p. B9

O Brasil foi destaque no movimento global de fusões e aquisições da indústria de mineração e metais em 2009 e deverá permanecer como um dos 20 principais do setor em 2010. Assim indicam os negócios anunciados neste início do ano pela Vale e pela CSN, avalia Luiz Claudio Campos, diretor de Project Finance da Ernst& Young para o Brasil. A consultoria acaba de concluir estudo sobre Transações Globais no Setor de Mineração e Metais em 2009, ao qual o Valor teve acesso.

Campos destacou o apetite que vêm demonstrando as grandes empresas brasileiras em ir às compras, dando como exemplo o anuncio feito pela Vale de suas aquisições de ativos de fertilizantes da Bunge Participações e Investimentos, no começo deste ano, que lhe custaram US$ 5,5 bilhões, incluindo ações da Fosfértil, Mosaic e Yara. No caso da CSN, ressaltou a oferta hostil de mais de US$ 6 bilhões feita pelo controle da cimenteira portuguesa Cimpor, num negócio disputado por outros dois grandes grupos nacionais - Votorantim e Camargo Corrêa.

Em 2009, o Brasil ficou em quarto e sexto lugares, respectivamente, no ranking dos 20 maiores mercados-alvo e dos 20 maiores compradores de ativos de minério e metais no mercado global, segundo o levantamento da E&Y. A Vale figurou na relação dos 13 "megadeals" de 2009, citada em duas transações. Numa, a empresa atuou como compradora de ações da ThyssenKrupp CSA, numa operação de aumento de participação na futura usina de aço, pela qual pagou US$ 1,4 bilhão. Na outra, a Vale foi alvo de aquisição ao ter suas ações preferenciais (PN) adquiridas no mercado pelo Barclays PLC, banco do Reino Unido, que desembolsou US$ 3,5 bilhões por um volume de papéis equivalente a 5% do capital total da mineradora.

Além destas operações, a Vale, como consta do estudo, respondeu por compras totais de ativos no valor de quase US$ 3 bilhões, somando a participação na CSA. A mineradora pagou R$ 750 milhões por minas de minério de ferro em Corumbá (MS) e US$ 850 milhões por minas de potássio na Argentina e Canadá da concorrente australiana Rio Tinto.

A Usiminas também é mencionada no trabalho da consultoria como alvo dos japoneses. A Nippon Steel, uma das controlados da siderúrgica brasileira, gastou U$ 205 milhões para adicionar 3,4% à sua participação acionária na empresa, ficando com 26,7% na companhia.

O diretor de Project Finance da E&Y diz que, dentre os grupos de empresas brasileiras, é grande o potencial de aquisição da Vale em 2010. "A Vale até agora só gastou metade do caixa de US$ 15 bilhões que dispõe para ir às compras". Segundo ele, a meta da mineradora é diversificar seu portfólio e adicionar valor a seus ativos de mineração. Campos acredita que o grupo EBX, dono da mineradora MMX, também poderá vir a ser um "player" consolidador neste segmento, tão logo concretize suas empresas.

O trabalho da Ernst&Young mostra que o Brasil está entre os que mais receberam investimentos na área de mineração no ano passado. Esta situação deve se repetir este ano, principalmente por parte da China, país líder de fusões e aquisições no mundo e com grande apetite pelos ativos minerais e metálicos de países sul-americanos.

Em 2009, a China foi a campeã de fusões e aquisições no setor de mineração e metais, segundo a E&Y. Ao todo, no período, foram fechados 1047 negócios neste segmento no total de US$ 60 bilhões, com a China respondendo por 27% deste valor. Em 2008, estas transações somaram 919 e renderam US$ 126,9 bilhões. Os números confirmam a queda no valor dos ativos no pós-crise.

Em 2010, Campos prevê que os ativos de mineração tenderão a se valorizar por conta do aumento de preço das commodities e serão alvo dos países emergentes, que terão posição ativa como compradores, liderados pelos chineses, além de India e Brasil. "As grandes empresas dos mercados emergentes em processo de internacionalização sairão à caça de ativos dos países desenvolvidos, ainda enfraquecidos pela crise", observou ele.

Mas o executivo alerta para o fato de a economia mundial ainda continuará volátil e o crédito bancário escasso. "Isso vai exigir diversificação das fontes de recursos para fechar negócios, seja via emissão de papéis, troca de ativos ou através de fundos de participações", afirmou.