Título: Dilma evita endossar críticas da esquerda mundial a Obama
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 19/02/2010, Política, p. A7

A relação do Brasil com os Estados Unidos vai ser mantida dentro dos limites estabelecidos entre duas nações soberanas. A definição foi dada ontem pela chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, a representantes de delegações estrangeiras convidados a participar do 4º Congresso Nacional do PT. Para a ministra, o Brasil vai "manter sua cabeça erguida". Lembrou uma frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Quem não se respeita não merece ser respeitado".

Dilma, contudo, não quis endossar as críticas negativas ao primeiro ano de gestão de Barack Obama. Para os representantes das delegações estrangeiras - todos de partidos ou entidades de esquerda - Obama tem sido uma decepção, com uma política externa pior do que a de seu antecessor, George W. Bush. "Eu acredito que ele ainda tenha condições de se recuperar", afirmou a ministra, de acordo com relato de alguns dos presentes.

Dilma citou a participação de Obama na cúpula de Copenhague como prova de que o presidente americano pode reverter as dificuldades que enfrentou até o momento. "Ele teve uma atuação bastante positiva. Foi fundamental para "salvar" o texto final da cúpula", afirmou a ministra.

O encontro durou aproximadamente duas horas e, de acordo com a ministra, "foi bastante afetuoso. Tratamos de presente e de futuro". O pronunciamento da ministra durou cerca de 20 minutos. Ela fez uma comparação entre o governo Lula e o governo Fernando Henrique Cardoso e os avanços obtidos durante os oito anos de governo petista.

A maior parte da reunião foi dedicada às perguntas dos estrangeiros. Os questionamentos concentraram-se, especialmente, em infraestrutura e nos programas do governo para esse setor. Quiseram também saber qual a política para a construção de casas populares e os cuidados que o governo brasileiro está tendo para evitar a bolha imobiliária que prejudicou as economias europeias.

Dilma apresentou as linhas gerais do Minha Casa, Minha Vida e discorreu longamente sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da retomada na capacidade de planejamento do Estado. Quando expôs o pré-sal, Dilma justificou a elaboração de um novo marco regulatório para exploração das camadas de petróleo, substituindo o sistema de concessão pelo de partilha.

A ministra apresentou também os avanços do país na inclusão social, após questionamento sobre os efeitos do programa Bolsa Família. Disse também que essa inclusão foi feita sem rupturas na economia e sem que a inflação voltasse a ameaçar a vida dos brasileiros. E frisou que foi justamente essa estabilidade econômica que permitiu ao país ter êxito nas políticas sociais.

Por fim, a ministra frisou aquele que será um dos principais pilares de seu discurso de sábado, quando será aclamada pré-candidata do PT: a importância de se investir em educação e ciência e tecnologia para que o país possa dar um salto mais amplo após atingir a estabilidade econômica. "Ela está preparada, tem o mapa do Brasil na cabeça e cada vez mais disposta a enfrentar essa batalha", admitiu um prefeito petista que acompanhou a exposição da ministra.