Título: Demanda e reposição de estoques puxam produção em janeiro
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Fonte: Valor Econômico, 03/02/2010, Especial, p. A14

A base deprimida de janeiro de 2009, o mercado interno aquecido, a recomposição de estoques, o reforço da produção nos setores ainda beneficiados pelos impostos reduzidos e as obras de infraestrutura fizeram de janeiro um mês de forte produção industrial. Na lista de fatores positivos ainda está de fora a exportação, mas empresários falam em produção ou vendas entre 5% e 40% maiores que as de igual período do ano passado no mercado interno. Quanto maior a queda em 2009, maior a recuperação em 2010.

O setor de distribuição de aço teve um começo de ano promissor. O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, estima que o setor tenha vendido cerca de 315 mil toneladas em janeiro, número 43% acima do registrado no mesmo mês de 2009, e muito próximo das 316 mil toneladas de janeiro de 2008 - um mês bastante robusto. Em janeiro de 2009 as vendas haviam caído 30,3% em relação ao primeiro mês do ano anterior.

"O setor não tem do que reclamar neste começo de ano", diz Loureiro, observando que a distribuição de aço no quarto trimestre também foi bastante expressiva, atingindo 904 mil toneladas, 39% a mais do que no mesmo período do ano anterior. "Fechamos 2009 com queda de 8,6% nas vendas. No começo do ano passado eu imaginava um recuo superior a 20%."

Segundo ele, os setores que têm puxado a recuperação são os ligados à fabricação de bens de consumo duráveis, como a indústria automobilística e de eletrodomésticos de linha branca. As perspectivas também são positivas para o segmento de bens de capital, diz Loureiro. "A crise no setor sucroalcooleiro, por exemplo, ficou para trás, os projetos voltaram à baila. E a construção civil industrial também deve ir bem", acrescenta.

Loureiro diz ainda que as empresas retomam a recomposição de estoques, num momento em que as perspectivas são de uma produção em níveis elevados. "Mas são estoques operacionais, e não especulativos [relacionados à expectativa quanto ao movimento dos preços]", afirma ele, que não espera um aumento das cotações do aço nos próximos meses.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, se mostra animado com o desempenho do setor em janeiro. Ainda que não disponha de números sobre o faturamento no mês passado, ele diz que o desempenho foi positivo especialmente nas áreas ligadas à infraestrutura, como transmissão e distribuição de energia elétrica. "Eu vi a preocupação de clientes em formalizar contratos de fornecimento ao longo do ano. São encomendas firmes, o que não costuma ocorrer em janeiro", afirma ele, que também vê um quadro positivo ligado à infraestrutura de telecomunicações, num cenário bastante favorável para o investimento no país.

Barbato espera um faturamento de R$ 125 bilhões para o setor em 2010, 11% acima de 2009. Ele vê o mercado interno como principal motor para o segmento, mas o câmbio ainda valorizado e a fraca demanda externa indicam que as exportações devem perder mais espaço no faturamento do setor.

Já na Indústria São Roberto, de papelão ondulado, o resultado de janeiro ficou abaixo do esperado, após um bom desempenho no quarto trimestre. O presidente da empresa, Roberto Nicolau Jeha, diz que, em novembro e dezembro, o faturamento cresceu 8% em relação ao mesmo mês do ano anterior. "Em janeiro, houve empate ou uma alta pequena, de 1%, sobre janeiro de 2009, um mês que tinha sido fraco, por causa do impacto da crise", afirma Jeha, com base em números preliminares. Para ele, é possível que tenha havido antecipação de compras dos clientes nos últimos meses de 2009.

Antes mesmo da Copa do Mundo, quem fabrica televisores teve um janeiro bastante favorável. O diretor da área de eletrônicos de consumo da Samsung, Marcio Portella Daniel, conta que as vendas de TVs de LCD superaram em mais de 40% o registrado no mesmo mês de 2009. "Do varejo ao atacado, a reposição de produtos está bastante forte", afirma ele.

O aumento da confiança do consumidor, a queda do desemprego, o crédito abundante e a oferta de novos produtos têm ajudado a sustentar a demanda, segundo Daniel. Para ele, o resultado do começo do ano ainda não está ligado à Copa do Mundo. "O efeito da Copa deve começar a ser sentido a partir do segundo trimestre."

A Fabrimar, uma das mais tradicionais fabricantes de metais sanitários do país, registrou em janeiro um aumento de 15% na produção sobre igual mês do ano passado, segundo o diretor-comercial, José Fernando Coleiro - esse é o mesmos aumento que a empresa espera obter ao longo de todo 2010.

Uma das principais razões para tanto otimismo, de acordo com Coleiro, está na diversificação de linhas para alcançar imóveis destinados à classe média baixa (classe C), sem deixar de lado o foco nas classes A e B. O executivo disse que a abertura para produtos mais baratos não significará perda de margem e nem de faturamento, porque o mercado de construção está aquecido tanto para imóveis mais caros como mais baratos.

A diversificação da linha de produtos, de acordo com Coleiro, já foi responsável pela reação em 2009, fazendo com que, apesar da crise, a produção da Fabrimar tenha ficado superior à de 2008. "Colocamos no portfólio alguns produtos para a chamada classe C que alavancaram nossa produção."

O diretor da Fabrimar explicou que o mercado imobiliário do Rio de Janeiro também já começa a reagir à sucessão de eventos previstos para a cidade e o país nos próximos anos, começando pelos Jogos Olímpicos Militares de 2011, passando pela Copa das Confederações de 2013, Copa do Mundo de 2014 e chegando aos Jogos Olímpicos de 2016. Vários projetos, incluindo reformas de grandes prédios no centro da cidade, já estão em andamento, permitindo prever que em 2010 e 2011 o crescimento da produção da empresa pode até ultrapassar 15%.

A presidente do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Papel, Papelão e Cortiça do Rio de janeiro, Ângela Costa, disse que o setor no Rio de Janeiro deverá também crescer acima da média nacional, estimada "conservadoramente" entre 3% e 4%. Segundo ela, janeiro já apresentou produção acima da meta nacional, tanto no Estado como na sua empresa, a Papillon Indústria e Comércio de Embalagens. A empresa produz 600 toneladas de papelão para embalagens por mês e possui 110 empregados, número que deve crescer este ano.

Ângela disse que o setor de papelão do Rio conseguiu fechar 2009 empatado com o ano anterior, depois de estar caindo 8%. A reação, de acordo com a empresária, veio no quarto trimestre.

O diretor-executivo da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Flávio Dutra, ainda não tem números sobre o desempenho do Polo Industrial de Manaus (PIM) em janeiro, mas diz que os números positivos de dezembro sugerem um bom resultado no primeiro mês do ano. Segundo ele, o varejo fez um volume considerável de pedidos tardios em dezembro, para atender a demanda no Natal. "As encomendas estão fortes", diz Dutra, que aposta num ano positivo especialmente para os fabricantes de televisores.