Título: No Paraná, expectativa da safra impacta chances das candidaturas
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2010, Especial, p. A18

Mais do que de alianças e cabos eleitorais, o governador José Serra (PSDB) e a ministra Dilma Rousseff (PT) vão depender da ajuda dos céus e de bons ouvidos para ter eleitores motivados no Paraná. Por ser um Estado agrícola, sua economia depende de boas safras. Em 2010, o Paraná espera recuperar a posição de maior produtor nacional de grãos, perdida no ano passado para o Mato Grosso devido a problemas climáticos. Na área industrial, mais do que ouvir, os empresários querem falar.

"Tudo o que for boa notícia agora vai favorecer a candidata Dilma", comenta o cientista político Sérgio Braga. Segundo ele, o agronegócio está dividido no Estado e vai querer saber das propostas que virão pela frente. "Vai ser um pleito mais determinado pelo futuro do que pelo passado", opina ele. "Mesmo quando as perdas referem-se ao clima, os agricultores reclamam, porque a economia do interior depende disso", explica outro cientista político, Ricardo Costa Oliveira, professor da Universidade Federal do Paraná.

Nos últimos dez anos, o Paraná ficou duas vezes atrás do Mato Grosso em produção, nas safras 04/05 e 08/09. Em parte por causa da estiagem, geada ou excesso de chuvas e também pela expansão daquele Estado, que contou com a ajuda de paranaenses que se mudaram para lá atrás de áreas maiores para plantio.

Na outra ponta, questionado sobre o que espera dos candidatos, o presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Rodrigo Rocha Loures, tem resposta pronta. "Queremos que nos ouçam mais. O governo há muito tempo não ouve os empresários", afirma. De acordo com levantamento da Fiep, a indústria paranaense fechou 2009 com queda de 5,77% em suas vendas. A crise econômica teve parte da culpa, mas a instituição também reclama do câmbio, dos juros e da carga tributária, entre outros problemas.

Uma das incertezas que se somavam à expectativa do desempenho da agricultura e das respostas aos pleitos dos empresários foi resolvida na semana passada, quando o PSDB local indicou o nome do prefeito de Curitiba, Beto Richa, como pré-candidado ao governo. Até Serra foi consultado recentemente sobre qual nome preferia para ser seu principal cabo eleitoral no Estado, Richa ou o senador Alvaro Dias. A resposta de Serra, ninguém sabe. O prefeito garante que ela não foi dada. "Ele não pode se colocar em problemas locais. Não tem de se meter nesse tipo de discussão. Tem de ser preservado", disse Richa ao Valor.

Alvaro deixou claro que não gostou da decisão e houve um racha. Segundo o senador, ela favorece os adversários. Resta saber como ele vai se posicionar nos próximos dias. E também se Dilma vai conquistar o apoio do irmão de Alvaro, o senador Osmar Dias (PDT), o primeiro a informar que era pré-candidato ao governo do Paraná. É uma maneira de a candidata do PT ter um palanque forte no Estado, já que não tem isso do PT ou do PMDB, partido cujo pré-candidato é Orlando Pessuti, vice de Roberto Requião, que não tem bons números nas pesquisas. Além disso, Requião, que no passado defendeu candidatos do PT, nos últimos dias aumentou as críticas ao governo federal e aos repasses feitos ao Estado.

"É a eleição mais confusa no Paraná em muitas décadas", diz o cientista político Oliveira. Segundo ele, muitos candidatos estão esperando definições de outros, há partidos divididos, como o PSDB, e outros que não construíram candidatos fortes, como PT e PMDB. Na opinião de Braga, isso não quer dizer que os políticos estejam parados. "Estão no estágio da briga de babuínos", diz.

Embora Richa esteja bem cotado nas pesquisas para o governo, o histórico de votação dos candidatos a presidente no Estado não dá margem para deslizes. Em 2002, Lula venceu Serra no primeiro e no segundo turno da eleição. Em 2006, Lula perdeu no Estado para o ex-governador Geraldo Alckmin, mas melhorou o desempenho na reta final. Ficou com 37,9% dos votos no primeiro turno, contra 53% do tucano, e conseguiu 49,25% no segundo turno, encostando nos 50,75% de Alckmin.

"Alguns vendem a ideia de que seria melhor escolher o Alvaro, mas o Osmar nunca disse que desistiria", diz uma fonte, que prefere não ser identificada. O presidente do PSDB no Estado, Valdir Rossoni, questiona se o eleitor de Osmar vai votar no PT. Na eleição anterior, Osmar disputou contra Requião e também contra Lula. "Não tenho dúvida de que o Serra terá um excelente palanque no Paraná", diz ele. Se o nome dos candidatos for analisado por regiões, Osmar é mais conhecido no interior. Richa é forte na capital, onde exerce o segundo mandato como prefeito. E, segundo o TRE, Curitiba e região metropolitana representam quase um terço do eleitorado do Estado.