Título: Empreasários catarinenses cobram investimentos em infraestrutura
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2010, Especial, p. A18

A onda de otimismo que toma conta do Brasil neste começo de 2010 deve ajudar a candidata governista, Dilma Rousseff (PT), a angariar votos em Santa Catarina. Além do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) projetado entre 5% e 6% para este ano, a retomada das exportações e os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que devem somar R$ 28,9 bilhões até 2011 no Estado, devem ser grandes aliados da campanha petista entre os catarinenses.

Por outro lado, os empresários ainda clamam por reformas estruturais e agilidade nas obras de infraestrutura, condição determinante para o crescimento sustentável da região. A campanha de José Serra (PSDB) pode ter sucesso no Estado se atender aos apelos das lideranças empresariais catarinenses.

O presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), Alcântaro Correa, coloca na lista obras como a duplicação da BR-101, que se arrasta desde 2005. "Houve uma evolução muito forte na economia e ninguém pode negar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez certo. Mais ainda é preciso garantir o crescimento com infraestrutura e condições de competitividade", opina Alcântaro.

Em 2002, a disputa eleitoral veio carregada de um desempenho econômico negativo do fim da década. No ano anterior, Santa Catarina tinha assistido ao encerramento de 12.789 mil empregos em relação a 2000. Além disso, de 2001 para 2002, a safra havia encolhido cerca de 15%.

Neste cenário, o governador Luiz Henrique da Silveira (LHS) surgiu como uma alternativa à reeleição de Espiridião Amim (PP) no Estado. Na onda de renovação, colou sua imagem à de Lula. Com o apoio do PMDB em Santa Catarina, o petista garantiu vitória com um milhão de votos de vantagem sobre José Serra, o segundo colocado, no primeiro turno. No segundo, a vantagem foi de cerca de 900 mil votos.

O cenário mudou na eleição seguinte. Em 2006, LHS retirou o apoio a Lula e inventou um novo estratagema político: uma aliança nunca vista no Estado, que levou tucanos, demistas e pemedebistas a apoiarem a reeleição do governador. Com a base forte, Geraldo Alckmin (PSDB) passou Lula já no primeiro turno, conquistando 1.889.277 votos sobre 1.108.851 do petista. No segundo turno, o palanque de LHS garantiu ao tucano uma vitória por cerca de 300 mil votos.

Mais uma vez a questão econômica interferiu. As exportações de carne suína e os cortes e miúdos de frango, fundamentais para a economia catarinense, fechavam 2006 com cerca de 25% de queda. O setor moveleiro do Estado sentia reflexos do câmbio e de perda de competitividade no Exterior, e LHS aproveitou a deixa para levar Alckmin a um comício no maior pólo de produção de moveis, São Bento do Sul, no planalto norte catarinense.

Mas apesar do cenário econômico nacional favorável, a candidata governista pode encontrar dificuldades em encontrar uma ampla base no Estado. As acusações feitas pelo Ministério Público a partir da Operação Transparência no início de janeiro - e que respingaram no vice-governador Leonel Pavan (PSDB) - acabaram atrasando a composição das chapas e tornando incerto o espaço que Dilma e Serra poderão ocupar em Santa Catarina.

O nome do vice-governador é um dos que estão em jogo para liderar a tríplice aliança, como ficou conhecida a chapa que uniu PMDB, PSDB e DEM na última eleição e levou Luiz Henrique da Silveira à reeleição em 2006. A reedição da aliança, em 2010, ficou estremecida com os episódios que envolveram o vice-governador. Tanto que o próprio governador chegou a declarar que os partidos deveriam pensar em candidaturas independentes.

A definição de uma candidatura que articulasse PMDB, DEM e PSDB ainda no primeiro turno é fundamental para definir o equilíbrio entre o candidato tucano ao Planalto e a petista, em Santa Catarina. O fiel da balança é o próprio PMDB: se articulado com os outros dois partidos, deve apoiar José Serra. Se houver candidatura própria - hipótese nem de longe descartada por lideranças do partido, entre eles o presidente do PMDB catarinense, Eduardo Pinho Moreira -, o apoio deve pender para Dilma.

"Meu feeling é de que vamos ter candidaturas independentes", diz Pinho Moreira. O presidente é pré-candidato ao governo estadual e enfrenta, dentro do partido, a preferência com o prefeito de Florianópolis, Dario Berger, que se filiou ao PMDB em 2007. Uma convenção marcada para 27 de março, que reunirá os 500 filiados ao partido no Estado, deve definir entre os dois nomes.

Ninguém ignora o peso que o PMDB pode exercer sobre o resultado nas urnas quando o assunto é a disputa à Presidência. "O PMDB será decisivo. Fez diferença em 2002 e 2006 e fará outra vez", admite o senador Raimundo Colombo (DEM), candidato ao governo e defensor da união com o partido de LHS e com os tucanos.

O palanque petista para a candidatura Dilma está garantido. O nome da senadora Ideli Salvatti (PT) está definido e há articulação do partido com o PRB e PR. Os nomes de dois empresários do setor têxtil, Udo Döhler e Ülrich Kuhn - ambos do PR - são cotados para compor a chapa com a petista e fortalecer a relação com os empresários.

Uma aliança com o PP, que tem o nome forte da deputada federal Ângela Amim, ainda no primeiro turno não está descartada. Tudo vai depender de como os partidos aliados do governo se armarem para a eleição.

"Não tem sentido nós nos aliarmos no primeiro turno, já que temos dois nomes com condições boas de votos", diz Ideli. Para a candidata, além do cenário positivo da economia nacional, o perfil de Dilma contribui para reconquistar o desempenho perdido pelo PT na última eleição. "Ela transmite competência, é determinada e tem experiência administrativa", diz.

O deputado estadual Jorginho Mello (PSDB), por outro lado, acha que Serra tem grandes chances de manter a vitória conquistada pelo partido em 2006. "Serra tem uma candidatura que passa segurança e é bem quisto na região", define. "Além disso, o Brasil está crescendo porque as condições ajudaram. Não é milagre do governo Lula", arremata o tucano, que foi presidente da Assembleia Legislativa e esteve cotado como pré-candidato a governador.