Título: PIB põe em xeque voto de protesto no Sul
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2010, Especial, p. A18

Em 2006, o fraco desempenho da economia gaúcha em contraste com o crescimento brasileiro azedou a relação do eleitorado local com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ele, depois de ter vencido os tucanos Fernando Henrique Cardoso e José Serra em 1994, 1998 e 2002, sofreu a primeira derrota para um adversário do PSDB no Estado, na época Geraldo Alckmin. Agora a situação mudou. Com a retomada do crescimento estadual próximo à média nacional, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sem o fantasma do escândalo do mensalão, de 2005, a disputa entre PT e PSDB pode ficar mais acirrada.

No primeiro mandato de Lula (2003-2006), enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 14,7%, conforme o IBGE, a economia gaúcha avançou apenas 6,8%, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado. Em 2004 e 2005, sob secas severas, a agropecuária encolheu 10,6% e 17,4% no Rio Grande do Sul, respectivamente, e junto com a valorização do real influenciou a queda do PIB industrial do Estado de 4,1% em 2005 e de 2% em 2006, de acordo com a FEE.

"A economia foi determinante para a derrota do presidente Lula no Estado em 2006", admite o ex-secretário nacional de finanças do PT e candidato a deputado federal Paulo Ferreira. Para o professor de pós-graduação em ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), André Marenco, o Rio Grande do Sul não se beneficiou tanto das políticas sociais do governo Lula como a região Nordeste. Mais recentemente, ressalva, os gaúchos começaram a perceber efeitos positivos do PAC, como a consolidação do polo naval de Rio Grande, e o lançamento de obras rodoviárias, de saneamento e habitação.

De 2007 a 2009, por exemplo, a economia gaúcha avançou 9,8% (com média de 3,2% ao ano), já bem mais próximo do crescimento acumulado de 11,3% do PIB brasileiro no período (com média anual de 3,6%). É um dado que pode ajudar a pré-candidata governista, mas ela ainda tem um longo caminho a percorrer. Na pesquisa do instituto Datafolha divulgada no fim de dezembro, no cenário que inclui o pré-candidato do PSB, Ciro Gomes, Dilma aparece com 21% das intenções de voto no Rio Grande do Sul no primeiro turno contra 36% do provável candidato do PSDB, José Serra. O desempenho ficou bem próximo da média nacional: 23% da ministra contra 37% do tucano.

Dilma não tem o carisma de Lula e nunca concorreu a qualquer cargo eletivo, mas o fato de ela ter feito carreira política no Rio Grande do Sul, onde foi secretária estadual de Minas e Energia nos governos de Collares (1991-1994) e Olívio Dutra, do PT (1999-2002), também anima os petistas. Outro elemento da equação, que pode ser decisivo para o resultado da possível disputa contra Serra, ainda está em aberto: quem receberá o apoio e o palanque do PMDB gaúcho, historicamente próximo dos tucanos, para reforçar a campanha presidencial.

O PDT, que deve compor a chapa com o prefeito de Porto Alegre e pré-candidato pemedebista ao governo gaúcho, José Fogaça, cobra o apoio a Dilma, já que é aliado nacional do PT. "Se o PMDB nacional aprovar o apoio a Dilma e Fogaça seguir a orientação, ela terá condições de superar a votação do presidente Lula no Estado em 2006", acredita Ferreira, para quem o "ciclo de crescimento" estimulado pelo governo federal chegou ao Sul do país. Na última eleição, Lula teve 30,7% dos votos totais para presidente no Estado no primeiro turno e 42,9% no segundo.

Na mesma linha, Marenco entende que a composição tornaria a vitória de Dilma no Rio Grande do Sul mais provável até do que a do pré-candidato do partido ao governo estadual, Tarso Genro. Conforme o professor, o apoio do PMDB a Dilma limitaria as opções de Serra no Estado ao palanque da governadora e provável candidata à reeleição Yeda Crusius (PSDB), que ainda luta para se livrar do desgaste e dos altos índices de rejeição provocados pelas sucessivas denúncias de corrupção contra o governo.

Mas os tucanos também estão no páreo pelo apoio do PMDB. Embora afirme que o palanque do partido é o "melhor" para Serra no Estado, o deputado federal e vice-presidente nacional do PSDB, Cláudio Diaz, vai procurar os dirigentes do PMDB, do DEM, do PTB, do PP e do PPS para tentar montar uma ampla base de apoio para o governador de São Paulo. "O jogo ainda não está jogado", afirmou Diaz, que conta com a proximidade histórica entre tucanos e pemedebistas gaúchos e com o fato de que provavelmente eles estarão juntos contra Genro no segundo turno da eleição estadual.

O quadro ainda é incerto, mas há pouco mais de duas semanas, quando esteve no Estado com Lula para anunciar obras de saneamento e habitação na região metropolitana de Porto Alegre, Dilma reuniu-se com Fogaça na prefeitura. Oficialmente o encontro serviu para tratar de investimentos federais na cidade, mas depois dele o prefeito admitiu seguir a orientação do PMDB nacional se a convenção nacional do partido, em junho, formalizar o apoio à ministra. "Dilma mostrou (no governo Lula) disposição de ajudar o Rio Grande do Sul", afirma o deputado federal pemedebista Mendes Ribeiro Filho, defensor de primeira hora do apoio à pré-candidata do PT.

O senador Pedro Simon, presidente estadual do PMDB, evita "entrar em detalhes" sobre o apoio a Dilma ou a Serra no Estado para não "enfraquecer" a tese da candidatura do governador pemedebista do Paraná, Roberto Requião, à Presidência. Mas alguns dias depois do encontro de Dilma com Fogaça, ele afirmou em entrevista à rádio Gaúcha que tem "muita simpatia" pela ministra e que ela fez o governo Lula "crescer". Para ele, uma eventual vitória de Serra significaria o quinto mandato presidencial para um político de São Paulo. "É algo profundamente negativo", comentou na ocasião.