Título: Empresas do país mandam US$ 4,28 bilhões ao exterior
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2010, Finanças, p. C5

As empresas brasileiras mandaram para o exterior neste ano, até ontem, US$ 4,28 bilhões a título de investimentos, cifra superior aos investimentos estrangeiros diretos no Brasil (IED) que, em igual período, atingiram cerca de US$ 3 bilhões. Esse é um fenômeno relativamente raro, já que o Brasil é, historicamente, um receptor de investimentos diretos e captador de poupança externa. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central e representam um caminho inverso ao que ocorreu no ano passado, quando as empresas brasileiras repatriaram US$ 10,08 bilhões, provavelmente por causa da crise financeira global.

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (Depec-BC), Túlio Maciel, informou que, do total dos investimentos do país no exterior deste ano, US$ 1,247 bilhão referem-se a remessas feitas em janeiro e US$ 3,037 bilhões ao levantamento preliminar do BC sobre operações de fevereiro.

Já o fluxo líquido de investimentos estrangeiros no Brasil (IE) em janeiro, embora positivo, foi um dos mais baixos da série histórica, de US$ 789 bilhões. Segundo Maciel, já houve expressiva recuperação em fevereiro, quando os ingressos somaram US$ 2,2 bilhões até o dia 23. A projeção do BC é que em fevereiro o IED feche em US$ 2,7 bilhões. Maciel acredita que houve antecipação de investimentos estrangeiros em dezembro, quando chegaram a US$ 5,947 bilhões.

As projeções do Banco Central para o balanço de pagamentos em 2010 embutem a expectativa de que os investimentos brasileiros no exterior gerem saídas líquidas de US$ 5 bilhões este ano. O fato de que essas remessas atingiram quase isso em menos de dois meses indica que a autoridade monetária não contava com tal movimento.

Ainda assim, pelo menos por enquanto, o BC não pretende alterar suas projeções, nem em relação ao IBD nem para o restante do balanço. Segundo Túlio Maciel, a avaliação é de que o fluxo visto nesse início de ano não manterá a mesma força nos meses seguintes. Tampouco a projeção de IED será alterada por enquanto, acrescentou ele, mantendo a previsão de que o Brasil receberá US$ 45 bilhões de investimentos estrangeiros diretos em 2010, praticamente o mesmo valor recebido em 2009. Túlio destacou que tanto o fluxo de IED quanto o de IBD têm normalmente comportamento errático quando analisados mês a mês.

O fluxo líquido de IBD, cujo recorde anual foi atingido em 2006 (US$ 28,2 bilhões), é reflexo da internacionalização das empresas brasileiras (de controle nacional ou estrangeiro). Por isso, na avaliação do BC, é de se esperar que continue tendo influência negativa no balanço de pagamentos, ou seja, que não implique repatriações líquidas.

A repatriação ocorrida em 2009 é considerada atípica pela autoridade monetária, que viu nisso um efeito da crise financeira. Maciel sublinhou que as repatrições de 2009 envolveram basicamente investimentos diretos feitos na forma de empréstimos entre empresas do mesmo grupo (matriz e filial). Os investimentos brasileiros diretos na forma de participação no capital de empresas não geraram repatriação líquida em 2009 e sim saídas líquidas de US$ 4,54 bilhões, ante retornos líquidos de US$ 14,62 bilhões dos empréstimos intercompanhias, destacou.

Túlio não soube dizer se houve, em janeiro e fevereiro, alguma grande operação que justificasse a remessa de US$ 4,28 bilhão a título de IBD. Mas informou que, em termos brutos, em janeiro, os investimentos diretos feitos na modalidade participação no capital partiram principalmente da indústria brasileira de alimentos, segmento que respondeu por 72,9% das saídas brutas de IBD em janeiro nessa modalidade, que foram de US$ 1,238 bilhão. Em segundo lugar, aparece a indústria metalúrgica, com 12,4% (o restante está bem pulverizado).