Título: A emergentes, FMI receita até controle de capitais
Autor: Ribeiro , Alex
Fonte: Valor Econômico, 24/02/2010, Finanças, p. C10

Economias emergentes que se preparam para apertar a política monetária, como o Brasil, terão que contemplar o uso de instrumentos adicionais de política econômica, como contração fiscal e controles de capitais, para evitar que os juros altos produzam novas bolhas financeiras. Ao menos essa é a recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI) em um documento divulgado ontem sobre as chamada "estratégias de saída", ou seja, o desmonte das monumentais medidas de estímulo monetárias e fiscais adotadas pelos países para enfrentar a atual crise financeira mundial.

Um importante funcionário do FMI lembrou ontem, ao explicar o documento, que as economias emergentes estão à frente dos países desenvolvidos no processo de recuperação econômica. Por isso, os emergentes terão que agir antes, apertando a política monetária para evitar a aceleração da inflação, o que vai aumentar o diferencial de juros em relação às economias avançadas. Os juros relativamente maiores tendem a reforçar o fluxo de capitais especulativos às economias emergentes.

"A solução não é subir os juros nas economias desenvolvidas porque isso poderia matar a sua recuperação econômica e, por tabela, no resto do mundo", disse esse funcionário do FMI. "Infelizmente, os países emergentes terão que se adaptar à situação e usar o "mix" adequado de políticas fiscal e monetária." Em outras palavras, os emergentes devem considerar cortar gastos públicos para contrair a demanda agregada, reduzindo a pressão inflacionária, para não sobrecarregar a política monetária.

Segundo o documento do FMI, na maioria dos países desenvolvidos os estímulos monetários e fiscais terão que ser mantidos ao longo de 2010 para, provavelmente, começarem a ser removidos apenas em 2011. Países emergentes, por outro lado, já sinalizam apertos monetários a partir de já. No Brasil, o mercado financeiro espera uma alta de juros em breve.

Com seu documento divulgado ontem, o FMI já começa, na prática, a exercer o mandato conferido pelo grupo de 20 países mais ricos do mundo, o G-20, para monitorar os desequilíbrios entre as economias globais. O funcionário do FMI explicou que os próximos passos incluem fazer sugestões individuais para os países ajustarem suas políticas econômicas de forma a não provocarem novos problemas.

No documento divulgado ontem, o FMI não dá conselhos para países em particular. No caso do países emergentes com fortes fluxos de capitais, a resposta de política econômica pode variar bastante, diz o Fundo. As opções incluem aperto fiscal, apreciação cambial, limites regulatórios sobre o sistema financeiro para evitar a criação de bolhas e "controles de capital temporários cuidadosamente desenhados".

Não há menção explicita à China, mas a recomendação para permitir a apreciação cambial é claramente dirigida àquele país. A valorização da moeda, segundo o documento, permite combater a inflação sem lançar mão de medidas monetárias mais fortes. A expectativa é que, nos próximos meses, o FMI emita recomendações explicitas para países como China e Estados Unidos. O alto índice de poupança na China e sua moeda apreciada são apontados como alguns dos principais causadores da crise financeira atual, ao lado do excesso de consumo e endividamento dos americanos.

Na semana passada, o FMI divulgou um documento em que enterra, de uma vez por todas, sua histórica oposição aos controles de capitais. Até então, o entendimento do FMI era que esses controles eram ineficazes. Agora, a leitura é que países que impuseram controles localizados de capitais tiveram maior crescimento econômico nessa crise.

Já o documento divulgado ontem faz, na prática, recomendações aos países, incluindo o controle de capitais. Mas essa não é a primeira opção no leque de políticas defendidas pelo FMI. O organismo estabelece um roteiro de medidas para serem adotadas antes do controle de capitais, incluindo política fiscal, política cambial e regulação bancária.

Quanto às economias desenvolvidas, o FMI diz que algumas delas (certamente se referindo a Grécia, Portugal e outros países europeus em crise) devem promover apertos fiscais, ainda que a recuperação econômica não esteja a pleno vapor. No caso desses países, a preocupação maior deve ser recuperar a confiança dos mercados. Ao adotarem estratégias de saída, diz o FMI, os países desenvolvidos devem não apenas conter o crescimento de suas dívidas, mas fazê-las cair aos níveis anteriores da crise financeira atual.