Título: Importações mantêm trajetória de alta no início do ano
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 08/03/2010, Brasil, p. A3

O volume de importações segue em alta forte no começo de 2010, dando continuidade à trajetória de expansão que ganhou fôlego na segunda metade do ano passado. Impulsionado pela recuperação da economia e pelo dólar ainda barato, o crescimento das compras externas é mais expressivo nos setores de bens intermediários (insumos como produtos químicos, aço, borracha e plástico), bens duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) e bens de capital.

Em janeiro, o volume de importações de intermediários cresceu 3,5% em relação a dezembro, enquanto o de duráveis subiu 5,1% e o de bens de capital, 4,6%, na série ajustada pela LCA Consultores, com base em dados da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). A expectativa de empresários e economistas é que a alta continue nos próximos meses, embora possa haver algum arrefecimento no ritmo de expansão, especialmente se confirmada a moderação na velocidade de crescimento da economia sugerida pelos indicadores dos últimos meses, como aponta o economista Douglas Uemura, da LCA.

Responsável por quase 60% da pauta de importações do país, as compras de bens intermediários começaram a se recuperar no segundo trimestre de 2009, ganhando força a partir de julho. Entre abril de 2009 e janeiro deste ano, o volume importado de insumos cresceu 45,4%, na média móvel de três meses, conceito usado para suavizar oscilações mensais. O indicador até janeiro é a média nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Um dos destaques são as importações de produtos químicos, que no período subiram 45%, segundo a média trimestral.

O gerente de comércio exterior da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Renato Endres, diz que a força das importações no começo do ano surpreendeu o setor. Segundo dados da Abiquim, em janeiro, o volume importado subiu 66,4% sobre o mesmo mês de 2009. A base de comparação é fraca, por causa do impacto da crise no início do ano passado, mas ainda assim a alta é significativa. Endres acredita que, neste ano, importações e exportações voltarão ao patamar de 2008, tanto em valor como em volume. No caso do volume importado, isso significa alta de 27,4% em relação a 2009.

O economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, diz que as compras externas de bens intermediários respondem principalmente ao aquecimento da atividade na indústria. As importações de insumos costumam crescer em média três vezes mais do que o ritmo de expansão da produção industrial. Se a indústria crescer de 8% a 10% neste ano, as compras de intermediários tendem a aumentar de 24% a 30%. "O câmbio tem algum efeito para elevar as importações de intermediários, mas o que predomina é a atividade."

As importações de bens de capital, que respondem por algo como 15% da pauta de compras externas do país, demoraram um pouco mais para ganhar força. A reação mais firme se deu apenas no terceiro trimestre do ano passado. Entre agosto de 2009 e janeiro deste ano, o volume importado subiu 16,7%, na média móvel de três meses.

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), Thomas Lee, não esconde a satisfação com o desempenho recente do setor. As empresas do segmento, segundo ele, fizeram compras expressivas neste começo do ano, com o objetivo de ter estoque suficiente para atender a forte demanda que se desenha para os próximos meses. Lee diz que as importações em janeiro e fevereiro cresceram de "cinco a seis vezes" em relação ao mesmo período de 2009. "Mas a alta fica distorcida, porque a base de comparação era muito baixa, por causa da crise." Ele espera expansão de 50% neste ano, depois da queda de 50% registrada em 2009. Ele destaca a demanda expressiva da indústria automobilística e do setor agrícola.

Na Trumpf, que traz para o Brasil máquinas fabricadas pelo grupo na Alemanha, Áustria e EUA, o ano começou de modo promissor. Em janeiro e fevereiro, o volume de vendas foi expressivo, chegando a cerca de dois terços do nível observado nos meses de 2007 e 2008, anos de forte atividade e com alta expressiva do investimento. Em janeiro de 2009, no auge do impacto da crise, a empresa, que tem como um de seus grandes diferenciais máquinas de corte a laser, de alta tecnologia, não vendeu nenhuma máquina. "A máxima de que os negócios no Brasil só começam depois do Carnaval não valeu neste ano", diz o gerente de vendas e marketing da Trumpf, Walter Mello. Para março, ele acredita em vendas 50% superiores às registradas nos dois primeiros meses do ano, o que significa voltar aos melhores momentos de 2007 e 2008.

A alta mais expressiva de compras externas é a de bens duráveis, que viu a média móvel de três meses subir 77,2% entre abril de 2009 e janeiro deste ano. O peso desses produtos na pauta de importações, porém, é pequeno, de cerca de 5%. Ribeiro diz que, no caso dos duráveis, o câmbio têm influência bem mais significativa do que nos intermediários ou de capital. Na casa de R$ 1,80, o dólar continua favorável às compras externas. Os automóveis são item importante na importação de duráveis. As compras de veículos, reboques e carrocerias cresceram 52,8% entre abril de 2009 e janeiro deste ano, na média móvel trimestral.

Os números recentes não levaram Ribeiro a mudar as projeções para as importações neste ano. Ele estima alta de 25% do valor das compras externas sobre 2009, dos quais 23% devido ao aumento do volume importado. No caso das exportações, a elevação deve ser de 10%, prevê Ribeiro, dos quais algo como 5% explicados pelo volume. Para ele, o saldo comercial deve cair de US$ 25,3 bilhões em 2009 para US$ 8 bilhões neste ano.