Título: Operadoras preparam-se para ciclo de consolidação
Autor: Moreira , Talita
Fonte: Valor Econômico, 18/02/2010, Empresas, p. B3

À medida que a economia mundial começa a se recuperar, a palavra consolidação volta a fazer parte do vocabulário das empresas de telecomunicações. Executivos das operadoras e analistas preveem uma retomada das fusões e aquisições no setor.

A competição acirrada, retornos financeiros aquém do desejado e a falta de novos mercados para explorar são os fatores que vão desencadear essa tendência, afirmaram representantes do setor ontem, durante um painel no Mobile World Congress, evento sobre telefonia móvel que se realiza nesta semana em Barcelona.

"Tenho uma história triste para contar: é difícil encontrar novas licenças para entrar no mercado, mesmo nos países emergentes", afirmou o empresário Naguib Sawiris, controlador da operadora egípcia Orascom. "Ganhamos muito com o crescimento orgânico da base de assinantes, mas o tempo desse dinheiro fácil acabou."

De acordo com Sawiris, a consolidação no segmento das operadoras tem que acontecer porque só assim as empresas terão a escala necessária para sobreviver. "Uma empresa grande, como a Vodafone, tem melhores condições de competir. Pode negociar melhor os preços dos aparelhos, ditar tendências no mercado e oferecer tarifas de roaming mais atrativas", acrescentou.

O grupo egípcio tem cerca de 120 milhões de clientes de telefonia fixa, móvel e internet, espalhados em mercados tão diversos quanto a Itália, a Namíbia e a Coreia do Norte. Sawiris não revelou quais países poderiam lhe interessar. Alguns anos atrás, o nome da Orascom surgiu entre os potenciais interessados em adquirir a antiga Brasil Telecom (hoje parte da Oi), mas essa informação nunca foi confirmada pela companhia.

O caminho das compras também desperta o interesse da Etisalat, dos Emirados Árabes Unidos. A operadora, que já tem negócios em 18 países africanos e asiáticos, tem planos de aumentar sua presença no mercado indiano, afirmou o executivo-chefe da operadora, Mohammed Omran.

Vamos continuar a fazer aquisições na África e queremos nos tornar um dos consolidadores na Índia. Temos habilidade para isso, disse o executivo, ressaltando que a companhia não tem dívidas e tem dinheiro em caixa para bancar eventuais negócios.

Apesar do discurso, os dois executivos afirmaram que também aceitariam ver suas empresas como alvos de aquisição. "No meu caso, só concordaria se eu pudesse ser cogestor", ponderou Sawiris.

As declarações dos executivos egípcio e emiradense dão uma pista de quais regiões do planeta devem ser palco desse processo de concentração. A África e parte da Ásia ainda têm um mercado fragmentado e pouco explorado pelas grandes operadoras globais, apesar da presença de algumas delas, como a própria Vodafone. Portanto, naturalmente esses continentes têm oportunidades em potencial.

No entanto, o analista Gareth Jenkins, do UBS, não descarta a possibilidade de que a Europa também atravesse um processo de consolidação. "Em geral, três operadoras por mercado é um bom número para se ter uma rentabilidade adequada e às vezes vemos casos em que há quatro ou cinco", observou.

A espanhola Telefónica pode puxar a fila, se confirmada a expectativa de que adquira o controle total da Telecom Italia numa transação que teria grande impacto no mercado brasileiro, onde ambas já atuam.

Para o analista do UBS, outro campo onde a concentração dever aumentar é o de equipamentos para infraestrutura de telecomunicações. Na avaliação de Jenkins, há um grande potencial de fusões e aquisições com a participação dos fabricantes europeus que incluem empresas como NokiaSiemens e Ericsson. "Os europeus vão ter de responder aos fornecedores chineses, que estão com custos muito baixos."

Também devem ocorrer negócios, segundo Jenkins, entre as companhias de tecnologia, principalmente as fabricantes de equipamentos. Esse setor movimentou negócios da ordem de ¿ 500 milhões no ano passado e essa cifra deve aumentar em 2010, conforme as projeções do analista. Uma em cada cinco companhias dessa área dever participar de aquisições, disse Jenkins