Título: Em Davos, relação de China e EUA é só amizade
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 29/01/2010, Internacional, p. A10

Quem passou os últimos dias lendo sobre os desentendimentos entre Estados Unidos e os chineses por questões como direitos humanos, câmbio desalinhado e o ataque de hackers aos servidores do Google e outras grandes empresas americanas, terá uma surpresa ao constatar a disposição, em relação à China, da elite internacional reunida no Fórum Econômico Mundial. Há críticas a todos esses aspectos, claro, mas o clima é de franco otimismo para os negócios da comunidade internacional na China. E em relação às perspectivas do país e suas relações com os EUA.

"A China tem movido sua taxa de câmbio e procurado atacar os desequilíbrios, mas não é algo que se faça de uma hora para outra, toma tempo", comentou, para o Valor, o vice-presidente do Citigroup, William Rhodes, ao deixar uma sessão dedicada aos EUA e à China, "Remodelando a Agenda Global".

Na sessão, reservada, que contou até com a presença de um subsecretário de governo americano, questões como Google e outros conflitos entre autoridades chinesas e americanas só foram mencionadas por um integrante da plateia, na sessão de perguntas. Os palestrantes, falaram de cooperação.

"Há empresários americanos com quem falo sobre tecnologia de energia limpa que me dizem estar à espera dos chineses, que vão chegar nela primeiro", comentou Bill Rhodes.

O tom geral da discussão tratou exatamente da cooperação entre os dois países no campo da energia renovável, que, segundo o relato dos participantes, tem sido objeto de investimentos pesados na China. "Ambos queremos reduzir gradualmente a emissão de CO2 em nossos países, queremos oferta de energia limpa para atender ao mercado", comparou o diretor do Instituto de Estudos Internacionais da Universidade de Tsinghua, na China.

"Os desentendimentos em Copenhague entre EUA e China ocorreram porque os EUA eram o alvo das criticas no mundo e resolveram fazer da China o alvo, um bode expiatório", analisou.

Nos debates sobre a China, em todo o Fórum, pouco se falou sobre a briga com grandes empresas, e mais sobre o temor de que os desequilíbrios provocados pela desvalorização da moeda local alimentem a nascente inflação no país.

Na quarta-feira, uma sessão sobre o crescimento da Ásia foi acompanhada de um consenso sobre a consolidação da China e da Índia como motor do crescimento mundial e de crescente influência no mundo. O investidor George Soros citou a China como exemplo de administração bem-sucedida das ameaças ao sistema bancário.

Mais que a ausência, por motivos de saúde, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quem provocou frisson entre os engravatados de Davos foi o vice-primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, apontado como um potencial mandatário do país. Ele endossou as recomendações dos especialistas sobre a necessidade de mover a economia chinesa para o atendimento ao mercado interno, mais que para exportações. O governo chinês está atento a essa necessidade e está adotando exatamente essa política, afirmou Li Keqiang.