Título: Urânio contamina mais poços na Bahia
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2010, Brasil, p. A3

Na véspera da visita de cinco técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à Indústrias Nucleares do Brasil (INB), nesta semana na cidade de Caetité, interior da Bahia, o fechamento de mais três pontos de abastecimento de água no município por contaminação radioativa trouxe mais polêmica a um assunto que já preocupa o Instituto de Gestão de Águas e Clima da Bahia (Ingá) há mais tempo. O instituto teme que a atividade industrial seja a fonte poluidora. De 2008 para cá, foram examinados 29 pontos de abastecimento de água na cidade e oito apresentaram problemas com radioatividade.

Dos três poços fechados semana passada, um era para consumo humano e dois estão dentro da unidade de beneficiamento de urânio da INB. Não há provas, no entanto, de que a mina seja a causa do problema. "Essa é a pergunta que não quer calar. O que temos é a informação de que dentro da área da INB a contaminação é muito maior do que nos outro pontos", diz o diretor-geral do Ingá, Julio Rocha.

No poço da prefeitura do povoado Barreiro, zona rural de Caetité, que abastece cerca de 15 famílias, o índice de radioatividade estava três vezes acima do padrão permitido pelo Ministério da Saúde, enquanto em um dos poços dentro do pátio da INB, para uso industrial, o índice estava 40 vezes acima do permitido.

Nesta semana sairá o resultado da análise sobre qual o minério que causou a contaminação na água dos três pontos, mas uma conclusão sobre a fonte poluidora - se é o urânio natural presente no solo ou o manipulado na mina - só poderá ser conhecida daqui a seis meses. É o prazo para serem concluídos os estudos sobre a formação do lençol freático da região, que mostrará se há ligação entre a unidade da INB e as demais áreas poluídas. Já foi realizado um estudo semelhante antes sobre outros pontos contaminados, porém, e não foi identificada uma causa. "O solo da região é rochoso, o que não permite saber quais as ligações entre os lençóis de água. Por isso estamos investindo em um mapeamento hidrogeológico de todo o aquífero", explica Wanderley Matos, diretor de monitoramento e informação do Ingá. O instituto quer que a INB financie o estudo.

Em nota divulgada na sexta-feira, a assessoria da INB descartou a responsabilidade da mina na contaminação do poço de água da comunidade de Barreiro. "O poço de Barreiro, onde as águas apresentaram maior concentração de urânio fica situado a seis quilômetros acima da mina da INB e, pelo caminho natural das águas, nenhum material proveniente da produção de urânio chega lá."

Helena Beltrão, assessora do presidência da empresa, Alfredo Tranjan, disse ao Valor que o fato não vai gerar nenhum estresse por conta da visita a Caetité dos técnicos da AIEA, nesta semana. "Tudo será mostrado a eles. Não temos nada a esconder. Através do Instituto de Radiossimetria, entidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear [CNEN], do Ibama e da própria AIEA é feita uma fiscalização dos níveis de concentração de urânio no aquífero da região várias vezes ao ano", informou.

Helena diz que, por ser uma província uranífera, com grande quantidade de urânio em seu solo e subsolo, Caetité já apresentou vários casos de concentração de urânio em poços de água antes mesmo da INB se instalar por lá.