Título: Redrado promete desafiar cerco policial e voltar ao BC
Autor: Internacional
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2010, Internacional, p. A11

O governo da Argentina enviou policiais federais para a porta do Banco Central com a missão de impedir que o presidente da instituição, Martín Redrado, entre no prédio esta manhã. Redrado, pivô de uma crise com o governo iniciada semanas atrás, prometeu ontem que iria cumprir seu expediente hoje "como todos os dias de trabalho" e que se manterá no cargo até que o Congresso decida seu futuro.

Redrado foi demitido por um decreto da presidente argentina, Cristina Kirchner, mas obteve uma liminar que o garantia no cargo.

Na sexta-feira, no entanto, um tribunal de segunda instância determinou que que a manutenção ou não de Redrado deverá ser resolvida pelo Congresso conjuntamente com o Executivo. Mas deixou dúvidas sobre o que acontece com ele antes de uma comissão mista da Câmara e do Senado se pronunciar. Advogados do economista dizem que a decisão da corte o resguarda no cargo. O governo diz que não, que ele não pode mais ficar e por isso mandou, no sábado, quatro policiais federais para impedir sua entrada no BC.

A briga se deve à rejeição de Redrado de atender a uma decisão do governo de usar US$ 6,5 bilhões das reservas do país para criar um fundo para o pagamento da a dívida pública neste ano.

Em um artigo publicado na edição de ontem do jornal "La Nación", Redrado disse manter sua decisão de "seguir desempenhando meus deveres de funcionário até que o Congresso disponha em contrário, para ser leal ao interesse geral, à missão que me impõe a lei e às minhas convicções". O Banco Central na Argentina tem autonomia em relação ao Executivo. Uma comissão mista do Congresso deve emitir esta semana uma posição sobre o destino de Redrado.

Segundo seus advogados, ele irá para o BC hoje no horário de sempre, entre 8h30 e 9h, apesar de o chefe de gabinete de Cristina, Aníbal Fernandez, ter dito que a ordem de enviar a polícia para o prédio atendia a um pedido presidencial para que Redrado não voltasse "nunca mais ao Banco Central".

No texto, Redrado diz: "Seria de minha parte uma irresponsabilidade aceitar pressões que deixem o caminho livre a quem queira manejar as reservas de todos os argentinos sem seguir os passos que exige a lei para a remoção dos diretores do Banco Central." Na noite de sexta, a direção do BC se reuniu - sem Redrado - e nomeou o vice-presidente da instituição, Miguel Pesce, como presidente.