Título: Bancos europeus se beneficiariam das regras anunciadas por Obama
Autor: Jenkins , Patrick
Fonte: Valor Econômico, 25/01/2010, Finanças, p. C2

Executivos de bancos avaliam que grupos europeus como Crédit Suisse, UBS, Deutsche Bank e Barclays poderão beneficiar-se, em relação a rivais americanos, das restrições às operações das instituições financeiras anunciadas ontem pelo governo Obama.

Bancos estrangeiros com operações proprietárias seriam afetados pelas regras, que proibiriam o uso de capital próprio dos bancos para investimento em fundos de hedge ou de "private equity", ou para operações de tesouraria, a menos que diretamente vinculado a atividades do cliente. Mas alguns bancos estrangeiros acreditam que poderão escapar à proibição migrando operações de Wall Street para Londres ou para a Europa Continental.

Bancos consultados pelo "Financial Times" disseram reservadamente que analisarão a viabilidade de realocar algumas operações de tesouraria para a Europa nos próximos dias.

Mas CEOs de bancos em todo o mundo ficaram atordoados na semana passada com a perspectiva de uma repressão legislativa de tal magnitude. Havia, no entanto, tanto confusão como choque, dada a escassez de detalhes sobre como o controle iria funcionar na prática.

"Se o imposto de Obama pode sinalizar como isso será aplicado, poderá ser muito prejudicial", disse um membro do conselho de administração de um grande banco europeu.

Bancos europeus não realizam tantas operações próprias de investimento como seus concorrentes nos EUA, como o Goldman Sachs, e a maioria reduziu a escala desse tipo de operações nos últimos dois anos, embora alguns ainda tenham uma série de investimento em "private equity" e em fundos de hedge.

Muitos bancos europeus dizem que operações de tesouraria próprias ou de formação de mercado para seus clientes (market making) representam apenas 1% a 2% de sua receita, em comparação com mais de 10% no caso do Goldman. Analistas de mercado estimam que o Barclays está entre entre os de maior peso nessa área e que as receitas de tesouraria representam entre 5% e 10% de todas as receitas de "trading". No ano passado, o banco britânico gerou controvérsia ao recrutar um time de estrelas de tesouraria do J.P. Morgan oferecendo pacotes de remuneração da ordem de milhões de libras esterlinas.

O Barclays insistiu, na quinta-feira, que a chamada tesouraria pura foi uma parte "absolutamente minúscula" do seus negócios. No entanto, na quinta as ações do banco caíram 6%, acompanhando as quedas dos bancos americanos.

Antes que quaisquer detalhes sobre as propostas fossem anunciados, Josef Ackermann, executivo-chefe do Deutsche Bank, caracterizou os planos de cindir os bancos ou limitar sua gama de atividades como "equivocada". Numa conferência em Londres Ackermann disse que o crucial não é o tamanho de um banco, mas os riscos que carrega.

Qualquer iniciativa visando escapar a uma repressão às operações proprietárias nos EUA, transferindo negócios para Londres ou para o resto da Europa, poderá ser bloqueada por medidas de agências reguladoras como a Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido ou a BaFin alemã, advertiram analistas.

"Operações proprietárias são um alvo fácil - são operações que apenas parecem suspeitas", disse um executivo bancário. "Trading proprietário não foi a causa da crise financeira; más decisões de concessão de crédito é que foram as causas da crise financeira."

O Tesouro do Reino Unido disse que levará semanas para que os detalhes completos sejam esclarecidos e que nesse meio tempo haverá conversações detalhadas entre Londres e Washington.