Título: Amorim critica ameaças de sanção ao Irã e pede diálogo
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 10/02/2010, Internacional, p. A18

O governo brasileiro voltou a apoiar o Irã ontem, em meio a ameaças dos EUA e da Europa de sanções a Teerã por conta do programa nuclear iraniano.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) deveria convocar uma reunião para comprometer as autoridades iranianas com as declarações de que o Irã está disposto a negociar, disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. Ele voltou a criticar a aplicação de sanções para dissuadir o Irã de suas ambições em energia nuclear. "Já vi esse filme antes, e não termina bem", afirmou, lembrando as mal-sucedidas sanções contra o Iraque, no passado.

"O Brasil fez seu papel: procurou aproximar as posições. Agora cabe aos dois lados procurar uma solução", comentou o ministro, ao negar que o governo brasileiro esteja sofrendo pressões para apoiar sanções contra os iranianos, acusados de avançar em pesquisas nucleares com fins militares. O presidente dos EUA, Barack Obama, já afirmou que é inaceitável um Irã com armas nucleares.

"Os que querem sanções devem estar mais preocupados agora em conseguir apoio dos membros com poder de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas", disse Amorim, em referên-cia a Rússia e China, que relutam em seguir as propostas de sanção feitas por EUA e França.

Amorim admite que a ameaça de sanções é uma arma diplomática das potências ocidentais para pressionar o Irã. "Certamente, de algum modo a ameaça pode pesar, mas, se sanções forem aplicadas, só vão dificultar qualquer flexibilidade do governo [iraniano]", argumenta. Ele disse que, na questão nuclear, a oposição ao regime dos aiatolás é tão contrária à influência externa quando o governo de Mahmoud Ahmadinejad. "Acompanhei o resultado das sanções das Nações Unidas no Iraque. Sofreram os setores mais frágeis da sociedade e não se mudou a posição do governo", compara Amorim.

Ele ressalva que sua manifestação contra as sanções não é antecipação do voto que o Brasil terá, caso o tema seja posto em discussão no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde o país ocupa uma das cadeiras rotativas. A atuação do Brasil dependerá da situação política mundial no momento da votação, desconversa o ministro.

"Os dois lados, o Irã e o Ocidente, têm de ter clareza das limitações e sentar um com o outro, sem declarações que dificultem um acordo", sugere Amorim, para quem a AIEA deveria tomar a iniciativa de uma reunião do tipo.

Amorim entende que as potências ocidentais, como Estados Unidos e França, não confiam nas garantias do Irã de que seu interesse em enriquecer o urânio é limitado ao uso pacífico da energia nuclear. Mas argumenta que esse temor não é afastado com a rejeição do acordo proposto na AIEA, pelo qual o Irã entregaria o urânio enriquecido a baixos teores para ser enriquecido a 20% (para uma bomba, é preciso enriquecimento próximo a 90%; mas é bem mais fácil e rápido passar de 20% para esse teor do que enriquecê-lo a 20%).

"Sem acordo, o Irã resolve enriquecer o urânio em seu território e é muito pior", argumenta, defendendo a continuidade das negociações para uso de terceiros países como intermediários no processo de enriquecimento do combustível nuclear. O Irã se recusa a aceitar limites para a quantidade de urânio a ser usada nesse processo, com o argumento de que é o país comprador quem define quantidades. Os iranianos teriam de mudar de posição e aceitar limites, opina o ministro.