Título: Meirelles desiste de concorrer ao governo de GO
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2010, Política, p. A7

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, anunciou ontem que não será candidato ao governo de Goiás nas eleições deste ano. Antes de fazer o anúncio, comunicou a decisão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB). Com a decisão, resta ao presidente BC definir, até o fim de março, se permanecerá na instituição até o fim do mandato de Lula ou tentará uma candidatura ao Senado por Goiás ou à Vice-Presidência da República, na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nos últimos dias, surgiu uma nova possibilidade: ficar no BC e, se Dilma for eleita, assumir algum cargo no próximo governo.

Na conversa de ontem, por telefone, Lula reiterou a Meirelles que gostaria que ele ficasse no cargo até 31 de dezembro. O presidente gostaria, na verdade, que o presidente do BC fosse o vice de Dilma, mas o próprio Meirelles, em conversas recentes com interlocutores políticos, considera remota a chance de isso acontecer. Recém-filiado ao PMDB, ele não tem força no partido para ganhar a indicação.

Meirelles pretendia anunciar a desistência depois do Carnaval. Chegou a solicitar uma audiência com o presidente Lula para a próxima semana. Ele já tinha tomado uma decisão, mas antecipou o anúncio para ontem por causa das pressões do PMDB goiano. Sem Meirelles no páreo, o prefeito Iris Resende deverá ser o candidato pemedebista ao governo do Estado.

"Entendo as razões políticas que levam alguns integrantes do partido a considerar necessário construir agora uma candidatura do PMDB ao governo do Estado. Sendo assim, tomei a decisão de liberar o PMDB de Goiás de qualquer compromisso de dar prioridade ao meu nome e deixá-los à vontade para comporem a chapa ao governo imediatamente, se assim julgarem necessário, sem a minha participação", declarou o presidente do BC em nota oficial distribuída no início da noite de ontem.

Meirelles, na verdade, não apreciava a ideia de se candidatar ao governo de Goiás. Ele achava, segundo relato de um amigo, que havia se preparado "a vida inteira" para o cargo que vem exercendo há mais de sete anos - a presidência do Banco Central. "Voltar para Goiás agora não faz sentido", comentou esse amigo. Mais recentemente, ele ouviu a mesma opinião do presidente Lula. Por isso, não o anima muito também disputar uma vaga no Senado por seu Estado natal.

"O meu histórico e a minha experiência nos últimos sete anos me levaram à conclusão de que posso contribuir mais para o país nos temas nacionais", disse Meirelles ontem. "O que acho mais importante é ajudar a consolidar no Brasil o valor da estabilidade e da previsibilidade na economia."

O desejo de Meirelles, assim como o de Lula, é ser vice de Dilma. Neste momento, no entanto, o mais cotado para compor chapa com a ministra é o presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB). Ainda assim, há no partido e no governo quem acredite que Meirelles tenha chances de vir a ser indicado pela legenda. "O momento agora é de Temer. Ele está pronto para "voar", mas a convenção nacional [agendada para junho] será a verdadeira batalha", diz um entusiasta da candidatura Dilma-Meirelles.

Enquanto preside o BC e assiste às especulações em torno de seu nome, Meirelles não tem espaço nem sequer para fazer articulação política. A liturgia do seu cargo é incompatível com a vida partidária. Curiosamente, foi Temer quem, na segunda-feira, fez uma proposta para aproximá-lo das atividades partidárias - o presidente da Câmara convidou--o para, junto com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, elaborar o programa do PMDB (ver reportagem nesta página).

Mesmo o presidente Lula, que confidenciou recentemente a um ministro que gostaria de ver Meirelles no próximo governo por considerá-lo o mais habilitado a defender o legado de sua gestão na economia, tem evitado interferir diretamente na escolha do PMDB, receoso de rachar o partido e prejudicar a candidatura Dilma. Nas poucas vezes em que falou sobre o assunto - especialmente, quando sugeriu ao partido que apresentasse uma lista tríplice de pré-candidatos a vice -, feriu suscetibilidades na cúpula da legenda.

Fechada a porta da candidatura ao governo de Goiás, Meirelles tem um mês e 20 dias para decidir seu futuro político - o prazo para desincompatibilização, com vistas a uma disputa eleitoral, termina em 3 de abril. Acostumado a lidar com estatísticas, ele calculou, para um amigo curioso, antes da decisão anunciada ontem, as probabilidades das opções que ele tem pela frente: sair candidato em Goiás (2%); disputar o Senado (10%); ser vice na chapa de Dilma (10%); ficar no BC até o fim do ano (50%); e voltar para a iniciativa privada (28%).