Título: Patrus é o maior defensor da candidatura Alencar
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2010, Política, p. A7

A proposta do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, de lançar o nome do vice-presidente José Alencar para o governo de Minas Gerais, acirrou a disputa entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva naquele Estado. O PMDB mineiro já avisou que respeita Alencar, mas não aceita a ideia de que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, dispute o Senado novamente. Aliados do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT) dizem, por sua vez, que a jogada de Patrus é inútil, pois Alencar preferiria disputar uma vaga no Congresso. Interlocutores de Patrus alegam, no entanto, que o vice-presidente tem dito que "fará o que lhe pedirem".

Lula não se manifestou ainda sobre a possibilidade de Alencar concorrer ao Palácio da Liberdade. Mas, segundo apurou o Valor, o presidente respeitará qualquer decisão do seu vice. "O que ele quiser disputar, vai disputar. Lula tem uma dívida muito grande com o Alencar e não vai lhe pedir absolutamente nada", afirmou um ministro com livre trânsito no gabinete presidencial.

A preocupação do vice-presidente é ajudar a unificar a base aliada do governo, de forma a fortalecer a candidatura da ministra Dilma Rousseff à sucessão de Lula. O objetivo, portanto, é pacificar a disputa entre Patrus, Pimentel e Costa. Patrus e Pimentel, do PT, brigam pela candidatura ao governo de Minas. O ministro Hélio Costa, por seu turno, trabalha para que seja ele o candidato apoiado pelo PT.

Patrus quer lançar Alencar ao governo mineiro e entrar na chapa como seu vice, com Hélio Costa disputando o Senado e Pimentel, uma vaga na Câmara. "O Hélio Costa já disse ao presidente que, se o Alencar concorrer ao governo mineiro, ele abre mão da disputa", disse um ministro.

Há aproximadamente um mês, Lula e Alencar conversaram pela primeira vez sobre o futuro. O vice-presidente estava bastante animado com os mais recentes exames mostrando a reversão do câncer abdominal. Insinuou, então, que poderia concorrer novamente a um cargo eletivo em outubro deste ano. Durante a reunião ministerial, o presidente lançou Alencar para o Senado e prometeu pedir votos para ele.

Articuladores políticos da candidatura de Dilma trabalhavam com dois cenários. Como antecipou o Valor, o primeiro deles seria Alencar concorrer ao Senado como suplente - o que o pouparia do desgaste de uma campanha eleitoral disputada - Costa, Patrus ou Pimentel. Como os três são aliados do governo, qualquer um deles poderia assumir um ministério num eventual governo Dilma Rousseff, o que abriria uma vaga para Alencar assumir o mandato.

Outra alternativa seria Alencar disputar uma vaga na Câmara, mas deixando claro que faria tal gesto em busca de uma unidade mineira em torno de Dilma Rousseff. No fim da semana passada, contudo, Patrus apresentou sua proposta para, segundo ele, auxiliar a unidade mineira.

Petistas próximos a Fernando Pimentel afirmam que a iniciativa de Patrus é sinal de desespero político. O ministro estaria sem opões viáveis. "O Patrus percebeu que o cenário para ele estava difícil. O nosso grupo ganhou o diretório estadual, que define a chapa majoritária, e Aécio Neves [PSDB] e Itamar Franco [PPS] vão concorrer ao Senado", provocou um auxiliar do ex-prefeito de Belo Horizonte.

Para esse militante partidário, Alencar não tem condições de disputar o governo local. "Ele ficou orgulhoso e lisonjeado de receber o título de petista honorário. Mas sabe que disputar o Executivo é temerário, por sua idade e seu histórico de saúde", completou.

Aliados de Patrus acham que, como experiente político mineiro, Alencar está ganhando tempo e adiando ao máximo a decisão. "Primeiro, ele fala que prefere concorrer a uma vaga no Congresso. Depois, diz que poderá concorrer ao governo estadual. Mas conclui afirmando que fará o que lhe pedirem", declarou um petista ligado ao ministro.