Título: UE dá apoio político à Grécia, mas evita ajuda financeira
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/02/2010, Finanças, p. C18

A União Europeia (UE) deu apoio político condicional à Grécia para evitar o risco de calote e defender o euro, mas não anunciou pacote financeiro para o país em reunião de emergência ontem em Bruxelas, e o mercado continuou insatisfeito. Os líderes dos países da zona euro garantiram a Atenas que ajudarão se o país tiver problema para refinanciar uma dívida estimada entre US$ 55 bilhões e US$ 70 bilhões. Ou seja, se o mercado não comprar os títulos gregos, os parceiros compram. Mas insistiram que essa ajuda virá se Atenas de fato cortar as despesas.

No entanto, a falta de detalhes do plano europeu decepcionou os investidores. Os mercados de ações e de bônus tiveram leve altas, mas o euro desvalorizou 0,9% em relação ao dólar americano e ainda está submetido a pressões.

Em todo caso, os líderes europeus ameaçaram adotar "ações determinadas e coordenadas se for necessário para salvaguardar a estabilidade do bloco". Para o presidente francês Nicolas Sarkozy, esse apoio politico da UE à Grécia deveria ser suficiente para desencorajar os especuladores, o que ainda está para ser comprovado. Antes de desembarcar em Bruxelas, o primeiro-ministro grego George Papandreou deu entrevista ao jornal francês "Le Monde" dizendo que Atenas precisava do "apoio psicológico e político da Europa", não citando recursos, mas descartando recorrer ao FMI.

Mas mesmo a solidariedade custará caro. A Alemanha recusou praticar a "política do cheque em branco" e cobrou caro pelo apoio. A chanceler Angela Merkel se encontra numa situação difícil, com problemas na sua coalizão. De um lado, socorrer quem gasta muito é impopular entre a população alemã. De outro lado, como a maior economia do continente, Berlim precisa estar firme na defesa da estabilidade do euro.

Atenas, que já tinha se comprometido a baixar o déficit público de 13% para 3% em 2012, foi pressionado a adotar "medidas adicionais com rigor e de maneira efetiva" para equilibrar seu orçamento. Sob pressão, Papandreou prometeu que a Grécia fará "tudo o que for necessário, incluindo adoção de medidas adicionais" para controlar o déficit público. Na prática, os gregos estão sob tutela da Europa. Medidas suplementares deverão ser detalhadas em reunião dos ministros de finanças na terça-feira, em Bruxelas.

"A Comissão (Europeia) vai monitorar estreitamente a aplicação das recomendações em ligação com o BCE e proporá as medidas adicionais necessárias, apoiando-se na expertise técnica do FMI. "Uma primeira avaliação será feita em março", disse o presidente da UE, o belga Herman Van Rumpuy, em comunicado.

No mercado, certos analistas julgaram arriscada a mensagem europeia para a Grécia primeiro colocar a casa em ordem e depois ver a ajuda. Consideram que o problema do endividamento "está se propagando rapidamente". A Espanha está no alvo dos mercados e o primeiro-ministro Jose Luis Zapareto passou a insinuar que os mercados estão contra os socialistas europeus - que dirigem a Espanha, Portugal e Grécia. Um analista reconheceu que Papandreou, na Grécia, herdou uma situação explosiva da centro-direita.

Para analistas, apesar da falta de medida concreta, a Alemanha e a França deram o sinal correto que dá um impulso na própria integração monetária, de recorrer a um país em dificuldades. Já na Espanha, a reação foi outra. "Grécia e os outros nas mãos da França e da Alemanha", intitulou o jornal "Expansion", de Madrid. "El Economista" colocou em manchete : "Quem manda mesmo são os de sempre, Paris e Berlim".

O fato é que o primeiro presidente europeu, Van Rumpuy, é apagado e o presidente da Comissão Europeia teme incomodar os principais líderes do continente. E sobrou para eles. Os alemães ficaram irritados também com um documento de trabalho do presidente da UE, Van Rumpuy, reclamando que a Alemanha tem uma "política econômica pouco cooperativa", visando a diminuição progressiva das diferenças econômicas entre os 27 países membros.

A Grécia se compromete a fazer esforço suplementar para garantir a redução de seu déficit fiscal, e de seu lado os países da zona euro se dizem prontos a preservar a estabilidade financeira da zona euro. Os líderes quiseram enfatizar que a tragédia grega não acabará na morte do euro. A questão é que isso pode frear o contágio a outras economias vulneráveis e altamente endividadas.