Título: Dilma e Marina evocam ineditismo de candidatura e cortejam voto feminino
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2010, Política, p. A8
Em sessão solene doCongresso Nacional em homenagem ao Dia Internacional da Mulher,transformada pelos aliados do governo em palanque para a suacandidatura à Presidência da República, a ministra Dilma Rousseff (CasaCivil) afirmou que "o Brasil está preparado para ter uma mulherpresidente". Defendeu que a mulher atinja "um novo patamar derepresentação política institucional" e passe a ser "protagonista".Falou como candidata, citando questões pessoais, como o fato de ser mãee "se Deus quiser" ter um neto ou neta até setembro.
Emdiscurso longo, alimentado por dados que a oposição promete contestarhoje, Dilma citou a facilitação na compra de eletrodomésticos do paíscomo um dos benefícios que o governo Luiz Inácio Lula da Silva teriaproporcionado à mulher brasileira. "Com mais créditos que demos poreste país afora, com menos juros e impostos menores, cada vez maismulheres puderam comprar lava-roupas, microondas, aspirador de pó econquistar tempo livre, tempo para terem suas atividades como cidadãs ecomo seres humanos plenos", disse.
Aministra foi o centro das atenções dos presidentes do Senado, JoséSarney (PMDB-AP) - que a definiu como "mulher lutadora, vencedora,competente e que realiza, neste instante, um grande trabalho peloBrasil" -, e da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Para o pemedebista,nome da cúpula do seu partido para ser vice na chapa da ministra, elamostra "que a mulher ganhou seu espaço definitivo na vida públicaadministrativa do país".
Mascoube à senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), coordenadora da bancadafeminina no Senado, a propaganda eleitoral mais direta. "E agora nósmulheres temos a grande chance de ser presidente da República, porqueuma mulher chegar à Presidência da República é a mulher na Presidênciada República. Somos nós. Eu me sentirei na Presidência da República, eacredito que cada mulher deste país vai se sentir presidente daRepública com uma mulher na Presidência. Não tenho dúvida disso",afirmou a petista, logo após elogiar o "brilho ímpar" do discurso daministra, na véspera, em evento no Rio de Janeiro.
Asenadora Marina Silva (PV-AC), também pré-candidata a presidente,estava presente à sessão e não recebeu menção dos governistas. QuandoMarina discursou, Dilma não estava mais presente. "Não é a toa que, sóapós 500 anos de história de Brasil, tenhamos, pela primeira vez nahistória deste país - como diz nosso presidente Lula - a possibilidadede termos mulheres na Presidência da República. E isso é uma conquistadas mulheres por sua luta nos últimos cem anos, mas é também umaconquista particular da sociedade brasileira", disse.
Asenadora citou, como um dos "desafios muito fortes" de sua vida, adecisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. "Não foi algo fácil; foialgo sofrido, foi algo sentido. E a razão pela qual saí foi a mesmarazão pela qual fiquei durante 30 anos: a defesa da minha causa. E qualé essa causa? É a causa que deve ser de todos nós, homens, mulheres,jovens, crianças, direita, esquerda, centro, todos os homens emulheres, a perspectiva de termos uma sociedade culturalmente diversa,politicamente democrática, economicamente próspera e socialmente justa."
Partiuda senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) a homenagem à ex-ministra,lembrando sua condição de presidenciável. Integrante da ExecutivaNacional do PSDB, Marisa contestou os discursos de Dilma e de Serys.
"Acreditoque a escolha do próximo chefe da Nação não deve pautar-se em questõesde gênero, raça ou nível social, mas sim em quem trouxer as melhorespropostas para o futuro e tiver verdadeiro comprometimento com asolução dos grandes problemas nacionais", disse a tucana.
"Alémdisso", continuou, "é importante levar em conta a história de vida,experiência administrativa, comprometimento político-partidário ecredibilidade de cada candidato. É preciso votar em alguém que sejalíder e que, independentemente do sexo, tenha experiência."
Aotérmino da sessão, Dilma teve o primeiro encontro com Marina, desde quea ex-ministra saiu do PT para filiar-se ao PV, com projeto de secandidatar a presidente. As duas se abraçaram rapidamente. Aocumprimentar Dilma, Marina chamou-a de "ministra". Como resposta, Dilmaobservou que a senadora nunca a havia chamado de ministra. "Então táDilma, Deus a abençoe", afirmou.
Dilmalistou ações do governo Lula que estariam mudando a vida de milhões de"brasileiros e brasileiras". Citou o fato de ser a mulher quem recebe oBolsa Família, a preferência que as mulheres têm para serem titularesno Programa Minha Casa, Minha Vida, a titulação compartilhada depropriedade nos assentamentos e de agricultura familiar que estão sendolegalizadas, o Programa de Eletrificação Rural, "que significou acabarcom a busca da água na cabeça" e o Programa Saúde da Família.