Título: Com demanda forte, indústria de calçados prepara expansão
Autor: Bueno , Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2010, Empresas, p. B6

Mercado interno em alta,importações em baixa graças à tarifa antidumping imposta sobre osprodutos chineses e exportações em recuperação depois do tombo do anopassado estão animando as indústrias brasileiras de calçados a tirarplanos de expansão da gaveta. Empresas de porte médio como Piccadilly, Bottero e West Coast já anunciaram novas fábricas ou a ampliação das linhas atuais, enquanto grandes empresas como Grendene e Vulcabrás também começam a programar novos investimentos.

Segundoo diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados(Abicalçados), Heitor Klein, o setor opera com uma ociosidade de 15% a20% ante uma capacidade instalada de cerca de 950 milhões de paresanuais. Mas, com o ritmo atual de alta da demanda, ele acredita que nofim de 2010 a produção anualizada já estará nesse patamar. Conforme asestimativas da entidade, no acumulado de 2009 o país produziu 813,6milhões de pares, 0,3% a menos do que em 2008.

AVulcabrás programou para este mês o inicio da ampliação de duasfábricas na Bahia e no Ceará e já encomendou novos equipamentos paraaumentar o nível tecnológico e o valor agregado dos calçados quefabrica, informou o diretor-presidente Milton Cardoso. Com 26 unidadesindustriais no Brasil e na Argentina, a empresa também está concluindoestudos para a expansão da planta de Sergipe e prevê uma produção totalsuperior a 50 milhões de pares em 2010, ante 41,2 milhões no anopassado.

SegundoCardoso, que também preside a Abicalçados, o novo ânimo do setordeve-se à expansão da demanda doméstica e à decisão do governo deaplicar por cinco anos a tarifa antidumping de US$ 13,85 por par decalçado chinês importado (em setembro havia sido imposta uma sobretaxaprovisória de US$ 12,47). Ao evitar a competição predatória no mercadointerno, a medida estimula o aumento da produção no país e garanteganho de escala e de competitividade para a indústria nacional noexterior, disse o executivo.

Emcomparação com o mesmo período de 2009, as importações de calçados noBrasil no primeiro bimestre recuaram pouco mais de 43% em valor evolume, para US$ 42,8 milhões e 4,8 milhões de pares. Só os produtoschineses caíram cerca de 73%, para US$ 13,5 milhões e 1,9 milhão depares, respectivamente. Já as exportações avançaram de US$ 280,2milhões para US$ 295,2 milhões e de 28,8 milhões para 34,2 milhões depares, segundo a Abicalçados. Em 2009 os embarques haviam recuado 23,7%em volume, para 126,6 milhões de pares, e 27,7% em valor, para US$ 1,36bilhão, e as projeções preliminares para 2010 são de uma expansão de 3%.

Como novo cenário, a Vulcabrás admite investir, em 2010 e 2011, ummontante próximo dos R$ 160 milhões que haviam sido aplicados noperíodo 2007/2008, informou Cardoso. Em 2009, com a crise, osinvestimentos limitaram-se a projetos em tecnologia e não ultrapassaramo valor da depreciação dos ativos, já que o volume produzido caiu 6,8%em relação a 2008.

AGrendene, que no ano passado vendeu 165,7 milhões de pares, 13,2% amais do que em 2008 (sendo 48,3 milhões de pares exportados, com altade 0,9%), também "iniciou estudos" para aumentar a capacidade deprodução de suas fábricas, disse o diretor de relações cominvestidores, Francisco Schimitt, em teleconferência com analistas nasemana passada. Ele não deu detalhes, mas informou que os investimentosserão feitos "possivelmente" ainda em 2010.

Comsede em Parobé, a Bottero coloca em operação na próxima segunda-feira,no pequeno município gaúcho de Travesseiro, a sua quinta unidadeindustrial, com capacidade instalada de 400 mil pares/ano, disse ontemo porta-voz da empresa, Luiz Roberto Bianchi. Ele não revelou omontante investido, mas explicou que a nova planta vai atenderbasicamente ao crescimento das vendas domésticas, que absorvem 85% daprodução da empresa.

ConformeBianchi, a Bottero prevê produzir 4,7 milhões de pares de calçadosfemininos de couro neste ano, ante 4,5 milhões em 2009. Além da matrize de uma filial em Parobé, a empresa tem outras duas fábricas em Osórioe em Santo Antônio da Patrulha, todas no Rio Grande do Sul.

AWest Coast, de Ivoti, pretende inaugurar no início de maio uma fábricano município de Nossa Senhora Aparecida, em Sergipe, que recebeuinvestimentos de R$ 5 milhões, disse o gestor financeiro da empresa,Eduardo Schefer. A unidade vai começar produzindo 1 mil pares por dia(o equivalente a 250 mil pares/ano), mas o volume deve dobrar em trêsmeses e chegar a 5 mil pares diários em dois anos.

Conformeo executivo, a capacidade instalada da West Coast em Ivoti é de 3milhões de pares de calçados masculinos e femininos por ano e em 2010 aprodução já deve bater nos 2,5 milhões de pares, 25% a mais do que em2009, quando o crescimento sobre 2008 havia sido de 8,5%. A expansãoserá puxada pelo mercado interno, que deve elevar a participação sobreas vendas de 70% para 80% no período, disse Schefer.

APiccadilly, fabricante de calçados femininos, vai ampliar a capacidadede produção da matriz em Igrejinha e das filiais em Rolante e Teutôniaem 75%, para 70 mil pares por dia até o fim do ano. Conforme odiretor-presidente da empresa, Paulo Grings, tanto as vendas no mercadointerno quanto as exportações - que representam de 25% a 30% das vendas- estão em alta e a empresa prevê fechar o ano com produção acumuladade 8,9 milhões de pares, ante 7,9 milhões em 2009. As ampliações fazemparte de um projeto de investimentos de R$ 6 milhões até 2011.

Peloscálculos do presidente da Abicalçados, os novos investimentos quecomeçam a ser postos em marcha pelas calçadistas também devem aumentaro número de empregos do setor dos 320 mil atuais para 400 mil até o fimde 2011. Só neste ano, por exemplo, a Piccadilly deve ampliar o quadrode 2,2 mil para 3 mil pessoas. A West Coast, que tem 500 funcionários,vai contratar mais 200 para iniciar a operação da fábrica de Sergipe,mesmo contingente que já foi recrutado pela Bottero - agora com 2,2 milempregados - para a planta de Travesseiro. A Vulcabrás, com 40 milfuncionários, 5,2 mil dos quais contratados em 2009, também vaiexpandir o quadro, mas Cardoso não especificou em que medida.