Título: BNDES muda sistema de cobrança de débitos antigos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/03/2010, Agronegócios, p. B14

Semter a exata noção do total das dívidas dos produtores rurais em linhasde crédito para investimentos, o Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) decidiu adotar um sistemadeclaratório unilateral para acelerar a cobrança de débitos antigos e aconcessão de novos empréstimos ao setor.

Onovo modelo permite aos produtores apresentar uma estimativa própria dedébitos, o que ajudaria na retomada do pagamento das parcelas em atrasoe reduziria uma inadimplência projetada em 20% da carteira de R$ 18bilhões. O questionamento dos valores do passivo pelos produtores temelevado o endividamento e emperrado novas operações de crédito. "Essesistema atende ao produtor e mantém a agilidade na ponta", afirmouontem o chefe da Secretaria de Gestão da Carteira Agrícola do BNDES,William Saab.

Amudança de procedimento já surtiu efeito. Até março, o bancodesembolsou R$ 1,2 bilhão aos produtores na linha Finame Agrícola - emtodo o ano passado, haviam sido R$ 2,8 bilhões.

Emaudiência pública no Senado para debater as dívidas de investimento, aFederação Brasileira de Bancos (Febraban) estimou entre R$ 2,8 bilhõese R$ 3,5 bilhões o passivo global do setor rural com linhas deinvestimento. Desse total, apenas metade seria "viável de recuperação",segundo o especialista da Febraban, Ademiro Vian.

Ainstituição solicitou medidas do governo para evitar novasrenegociações. "É preciso adequar essas dívidas ao fluxo de caixa doprodutor, e não renegociar, jogando para o fim dos contratos", afirmouVian.

Na audiência,onde poucos senadores tiveram participação, os produtores ruraissurpreenderam ao afirmar a disposição do setor em vender patrimônio emtroca da obtenção de descontos nas dívidas de investimentos. "Para terbônus, o produtor precisa desimobilizar ativos", disse o consultor daConfederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Guilherme Dias. Aproposta, segundo ele, seria "equilibrar" uma contrapartida dosprodutores em uma eventual nova renegociação dos débitos deinvestimento.

"Ogoverno põe um "x" e o produtor ajuda pagando essa dívida". O chamado"encontro de contas" daria "sustentabilidade" aos produtoresprofissionais. "O rebate [no passivo] seria semelhante àdesimobilização". Dias afirmou que outra contrapartida do setor seria a"pejotação" ou a transformação dos produtores em pessoas jurídicas."Isso daria mais transparência a tudo".

Osenador Gilberto Goëllner (DEM-MT) cobrou mais rapidez do governo pararesolver a questão do endividamento com investimento. Mato Grosso tem amaior parte do passivo. "Precisamos de uma solução sem subsídios oufora de um contexto viável por meio de um fundo garantidor", afirmou."Não podemos penalizar quem pagou em dia, mesmo sabendo das diferençasentre o passado e os novos empréstimos".