Título: Argentina destrava importação de pneus
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2010, Brasil, p. A4

Em uma medida que deverá beneficiar principalmente a indústria brasileira, o governo da Argentina retirou a importação de pneus para caminhões e máquinas agrícolas do sistema de licenças não automáticas. Trata-se do primeiro setor em que as licenças deixarão de ser aplicadas, depois de uma reunião entre ministros brasileiros e argentinos, em fevereiro, com promessas mútuas de relaxamento das medidas protecionistas. A retirada da exigência de licenças não automáticas valerá por três meses.

Durante esse período, a Secretaria de Indústria fará um monitoramento do comércio para avaliar sua continuidade. A colheita de grãos acima das expectativas iniciais motivou a decisão, segundo comunicado divulgado pelo Ministério da Produção. A mesma resolução assinada pela ministra Débora Giorgi determina "a agilização dos trâmites para ingressar no país dos demais modelos de pneus".

Com o aquecimento do mercado brasileiro de automóveis, as montadoras instaladas na Argentina vinham se queixando, nos últimos meses, das dificuldades para importar pneus usados em seus veículos, já que a demanda aumentou e a indústria local não estaria dando conta de atender as encomendas.

De acordo com a consultoria argentina IES, os fornecedores brasileiros foram responsáveis por 54,5% dos US$ 250 milhões que a Argentina importou em pneus no ano passado. Das importações totais do setor, 78% são para automóveis, 14% para caminhões e ônibus, e 7% para máquinas agrícolas, incluindo tratores. Por isso, segundo Alejandro Ovando, economista e diretor da IES, a medida anunciada pelo governo argentino é um "sinal positivo" de distensão do comércio bilateral, "mas não soluciona a questão central, que são os pneus para automóveis".

Os números compilados pela consultoria sugerem que, pelo menos no setor de pneus, não houve desvio de comércio significativo a favor da China, como efeito da aplicação das licenças não automáticas. Mas os fornecedores brasileiros perderam espaço para a própria indústria argentina. Em 2008, 47% do consumo aparente de pneus na Argentina era atendido por fabricantes nacionais e 53% por importados. Em 2009, os fabricantes nacionais atenderam 58% do consumo e a participação dos importados diminuiu para 42%.

Embora continue valendo o mecanismo das licenças não automáticas para os pneus voltados à montagem de automóveis, o Ministério da Produção prometeu que as empresas importadoras terão uma "logística mais ágil". Giorgi justificou a medida com a "excelente reação do setor automotivo no contexto de recuperação econômica da Argentina, depois da crise internacional". O governo brasileiro vinha reclamando, até o fim de 2009, que a liberação das licenças superava o prazo legal de 60 dias.