Título: Dilma antecipa investimentos sem confirmação
Autor: Rosa , Rafael
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2010, Política, p. A9

O ritmo e a empolgação da pré-campanha eleitoral, ainda não oficializada, e a animação de uma claque de 3 mil funcionários da Petrobras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, fez a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, anunciar que a estatal deverá investir cerca de R$ 85 bilhões este ano. O anúncio foi recebido com reservas pela direção da empresa, já que o dado oficial ainda não foi divulgado. "Eu vi a Petrobras saltar de um investimento de R$ 20 bilhões para algo de mais de quatro vezes superior. Hoje, esse ano, a Petrobras está investindo mais ou menos R$ 85 bilhões", afirmou a ministra.

A ministra - que é conselheira da Petrobras, cargo que exercerá até o fim do mês - aumentou o orçamento da estatal, já que a previsão no Orçamento Geral da União é de R$ 79,29 bilhões para este ano segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA) enviada ao Congresso em setembro. Esse valor é 19,9% maior que a projeção para os investimentos realizados em 2009, de R$ 66,138 bilhões segundo a ONG "Contas Abertas". O dado final, no entanto, será conhecido apenas quando a empresa divulgar o balanço do quarto trimestre, previsto para este mês.

Além disso, os investimentos da estatal neste e nos próximos anos vão depender da aprovação do projeto que prevê a capitalização da companhia. Ela pode chegar a US$ 50 bilhões (cerca de R$ 88 bilhões) segundo projeção do banco Credit Suisse, que foi endossada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Se confirmado esse número, será o maior aumento de capital da história do mercado mundial.

A ministra passou o dia no Rio ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pela manhã, junto com o governador Sérgio Cabral, inauguraram um centro esportivo na Rocinha, favela da Zona Sul. E à tarde foram ao Comperj.

Dilma Rousseff fez questão de enumerar para a plateia as iniciativas tomadas pelo governo no setor de óleo e gás e que, segundo ela, garantiram a criação de empregos no Brasil e o aumento dos investimentos no setor. Sutil, a ministra ressaltou que "o nosso país tem presente e tem futuro", sem falar em continuidade. "Nós vivíamos num país sem perspectiva. Agora não. Agora o nosso país tem presente e tem futuro e tem futuro porque tem presente. E tem presente porque o governo Lula teve vontade política e transformou as condições de produção de petróleo e gás", disse Dilma, sem se colocar explicitamente como sucessora.

Em seu discurso, Lula afirmou que vai continuar com a rotina de viagens para inauguração de obras pelo país. O presidente afirmou que a visita aos canteiros de obras serve como uma medida de fiscalização sobre o andamento dos trabalhos.

"Eu adotei uma filosofia de vida de que é o olho do dono que engorda o porco. Eu tenho que estar presente sempre para saber se as coisas que nós decidimos estão funcionando", frisou Lula. "Há menos de um mês, se a gente não fica esperto, essa obra estaria parada, a obra da Repar estaria parada e a obra da refinaria de Pernambuco estaria parada", acrescentou, lembrando das obras questionadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que segundo ele, em caso de paralisação, teriam significado a demissão de 27 mil trabalhadores.

Para o presidente, as obras do Comperj representam a retomada dos investimentos em obras de grande porte no país. A última refinaria construída no Brasil data do início dos anos 80 e Lula ressaltou que, há cinco anos, o governo teve que convencer a diretoria da Petrobras da necessidade da construção de novas unidades de refino no país. O presidente também afirmou que vai voltar ao Comperj, que já visitou três vezes, para novos eventos.

"Eu ainda virei mais vezes aqui. Para desgraça dos meus opositores e para desgraça daqueles que acham que eu deveria ficar sentado em Brasília recebendo eles, eu vou continuar andando por esse país", ressaltou, a despeito das recentes críticas de uso da máquina pública para impulsionar a campanha da pré-candidata Dilma.

Pela manhã, na Rocinha, Lula fez críticas à sua categoria e dizer que "muitos governantes" só procuram as comunidades mais carentes em época de eleição. "Durante muito tempo governantes achavam que pobre só era gente em época de eleição e fora dessa época não valia mais nada", afirmou Lula.

Ele disse que em seu governo não há diferença social. "O que está se fazendo é dizer para essa gente que no meu governo não tem diferença de origem social, seja pobre ou rico, tem o mesmo tratamento. Não queremos tirar benefícios que o rico tem, mas queremos que o pobre suba um, dois degraus".

Lula enalteceu a parceria entre os três níveis de governo e disse que o PAC vai levar dignidade e qualidade de vida à comunidade, como forma de combate à criminalidade. "Minha vinda aqui é o retrato mais fiel de que prefeito, governador do Estado e presidente da República querem provar ao mundo que é possível a Rocinha e as chamadas favelas serem tratadas com dignidade", disse.

Lula destacou a importância do centro esportivo da Rocinha, lembrando que o esporte pode ser um caminho para combater a marginalidade. "Você que é encrenqueiro, saia da rua e entre aqui para aprender um esporte e ganhar uma medalha olímpica", disse. "É verdade que na Rocinha deve ter algum bandido, no Pavão-Pavãozinho deve ter algum bandido (...), mas quem é que disse que não tem bandido nos prédios chiques de Copacabana", questionou o presidente.

Lula e Dilma encaminharam ontem ao Tribunal Superior Eleitoral contestação à representação proposta pelos partidos de oposição contra campanha eleitoral antecipada. A defesa do presidente argumentou que Lula não poderia constar na ação porque, por definição, propaganda eleitoral é feita apenas pelo próprio candidato. Além disso, a defesa alegou que não há provas de que Dilma teria ciência prévia sobre uma eventual declaração qualificada de eleitoreira.