Título: Emergentes disputam cargo de clima na ONU
Autor: Naidoo, Kumi
Fonte: Valor Econômico, 09/03/2010, Especial, p. A14

África do Sul, Índia e Indonésia estão competindo pelo cargo máximo relacionado às mudanças climáticas nas Nações Unidas, um posto-chave na construção de confiança entre países pobres e ricos, após o fraco resultado da cúpula de Copenhague. Muitos analistas creem que o candidato de um país em desenvolvimento sucederá o holandês Yvo de Boer, que no mês passado anunciou que deixará o cargo de diretor do Secretariado de Mudanças Climáticas da ONU em 1º de julho, após exaustivos quatro anos.

"É uma boa notícia para todo o processo, que está atraindo fortes candidatos de países em desenvolvimento", disse Mark Kenber, Diretor de Política Internacional do Grupo do Clima, em Londres.

Ontem, a África do Sul indicou formalmente o ministro do Turismo (e ex-minsitro do Meio Ambiente), Marthinus van Schalkwyk, de 50 anos, para o cargo. O país disse que alguns governos, instituições empresariais e organizações não governamentais já manifestaram apoio à indicação.

A Índia propôs recentemente Vijay Sharma, um alto funcionário governamental ligado ao ambiente, para suceder de Boer.

A Indonésia já manifestou interesse, mas ainda não convergiu para um candidato. Não se sabe se outros países poderão se interessar. Agus Purnomo, principal negociador da Indonésia em Copenhague, disse haver rumores de que ele poderia ser nomeado. O jornal "Jakarta Post" também mencionou possíveis candidatos, como o ex-ministro das Relações Exteriores Hassan Wirajuda.

A cúpula do clima de Copenhague ficou aquém de firmar um tratado juridicamente vinculante, em grande parte devido a desacordos entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre como dividir o ônus do cortes de emissões.

"Quem for escolhido para suceder De Boer necessitará, acima de tudo, ser capaz de estabelecer confiança entre os principais países industrializados e as economias em desenvolvimento", disse Kenber.

De Boer sugeriu que seu substituto deveria ser de um país em desenvolvimento. A escolha cabe ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para quem uma ação mais mais vigorosa por parte de todos, principalmente para conter as emissões da queima de combustíveis fósseis, é necessária para evitar mais ondas de calor, secas, inundações e elevação dos oceanos.

Delegados de 194 países se reunirão em Bonn, na Alemanha, no próximo mês, para tentar preparar a próxima cúpula climática, no México, de 29 novembro a 10 dezembro. Poucos acreditam que um acordo abrangente esteja fechado neste ano, e a África do Sul sediará a conferência em 2011. Quando foi ministro do Meio Ambiente, Van Schalkwyk criticou o ex-presidente dos EUA, George W. Bush.

As políticas climáticas da África do Sul estão entre as mais ambiciosas nos países em desenvolvimento. O país prevê um pico nas emissões até 2020-25. A maioria dos países em desenvolvimento tem como objetivo apenas conter o aumento das emissões, ainda sem definição de um teto claro. A Índia, por exemplo, comprometeu-se a reduzir a quantidade de carbono emitido por unidade de produção econômica em 20% a 25% até 2020.