Título: PF flagra suposto suborno no Distrito Federal
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2010, Polìtica, p. A8
A Polícia Federal prendeu ontem Antônio Bento da Silva, identificado como possível assessor do Governo do Distrito Federal (GDF). No momento da prisão, realizada em um restaurante da cidade, ele entregava uma sacola com aproximadamente R$ 200 mil ao jornalista Edmilson Edson dos Santos, conhecido como Edson Sombra.
Silva faria parte do Conselho Fiscal do Metrô do Distrito Federal. O jornalista é apontado como a principal testemunha de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais e delator do esquema de corrupção que envolve o governador José Roberto Arruda (sem partido).
Silva e Sombra foram ouvidos na Superintendência da Polícia Federal. A PF investiga se o dinheiro seria uma tentativa de suborno para Barbosa.
A Polícia Federal foi avisada há dez dias pelo jornalista, de que o servidor aposentado o assediava para prestar declarações falsas aos policiais sobre o funcionamento do suposto esquema de corrupção no governo local.
Sombra afirmou à PF que Silva estava interessado em oferecer uma quantia de dinheiro em troca de direcionamentos para seu depoimento. A Polícia Federal passou a monitorar Silva, que também é gerente comercial do jornal que Sombra tem na cidade.
O jornalista - que é a principal testemunha de Durval Barbosa delator do esquema - teria telefonado na quarta-feira para a Polícia Federal informando do encontro na manhã de ontem em um restaurante, no setor Sudoeste de Brasília, onde foi realizada a prisão em flagrante.
A assessoria de imprensa de Arruda informou que Silva é servidor aposentado da Companhia Energética de Brasília (CEB) e, atualmente, trabalharia como gerente comercial de um jornal da cidade dirigida por Wânia Luiza, que seria mulher de Edson Sombra. Em nota, o GDF afirma que a tentativa de suborno foi uma "armação de Durval Barbosa", delator do esquema de corrupção.
"Fica evidenciada mais uma tentativa de armação do grupo de Durval Barbosa para comprometer o GDF e turvar as investigações. O GDF repudia as insinuações divulgadas e nega qualquer envolvimento com este lamentável episódio", disse.
Segundo a nota, Silva tentava intermediar encontros de Sombra, principal testemunha de Durval, com o governador José Roberto Arruda (sem partido), investigado por suposta participação no esquema de pagamento de propina a aliados. A nota afirma, ainda, que Silva tentava negociar patrocínio do GDF para o jornal da mulher de Sombra. Segundo o governo, os pedidos de publicidade foram todos negados.
O GDF afirma que Silva foi indicado para o Metrô por Barbosa e que causa "estranheza" o fato de o jornal ter retirado hoje qualquer menção ao nome de Silva no expediente eletrônico do jornal. Fontes do governo, no entanto, dizem que Silva teria chegado ao Metrô pelas mãos do ex-secretário de Governo José Humberto Pires, também investigado pelo esquema.
Depoimento do delator ao Ministério Público indica que o jornalista foi um dos principais incentivadores para que o esquema fosse denunciado. Sombra, ainda de acordo com o depoimento, recebeu cópia dos vídeos que mostram Arruda, secretários de governo, assessores, deputados distritais e empresários negociando suposta propina.
Ao todo, o inquérito do Superior Tribunal de Justiça (STJ) envolve 36 pessoas, entre autoridades do governo local, deputados distritais e empresários. Segundo o inquérito, há indícios da prática dos crimes de formação de quadrilha, peculato, corrupção ativa e passiva, fraude de licitação e crime eleitoral.
Antônio Bento da Silva está preso em uma cela da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Silva prestou depoimento à PF e passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). A polícia também ouviu o jornalista. Sombra foi liberado e deixou o local sem falar com a imprensa.