Título: Candidatura Ciro é legítima, diz Tarso Genro
Autor: Taquari , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2010, Política, p. A8
O ministro da Justiça, Tarso Genro, negou ontem que a candidatura do deputado Ciro Gomes à Presidência nas eleições de outubro possa fragilizar o desempenho da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff na campanha.
"É óbvio que queremos que ele (Ciro) esteja conosco desde o primeiro turno. Mas eu entendo que isso não implica em fragilização da candidatura de Dilma. Agora, sua presença junto da ministra fortaleceria a candidatura do governo", afirmou Genro, em evento da 33ª Caravana da Anistia A Comissão de Anistia, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo.
Genro, no entanto, ponderou que considera legítima a pretensão de Ciro de concorrer ao Palácio do Planalto e ressaltou que o PT deve respeitar a sua vontade. "Não temos no campo da esquerda um partido monolítico que feche os demais".
Depois de passar por um período de férias fora do país, Ciro retornou nesta semana às atividades legislativas no Congresso e reiterou sua pretensão de disputar as eleições presidenciais.
Lula pretende conversar com o deputado para tentar convencê-lo a concorrer ao governo paulista para não dividir a base aliada na campanha presidencial. Genro também comentou que a escolha de Dilma para sucessão do presidente foi feita exclusivamente por Lula.
A decisão, acrescentou o ministro, serviu para pacificar o partido em um momento em que não havia candidatos fortes para a disputa após ter se tornado público o escândalo do mensalão, em 2005.
O ministro ainda negou que falte popularidade e simpatia à Dilma e avaliou que "ninguém consegue ter o mesmo carisma do presidente Lula".
Sobre o impasse em torno do vice, Genro observou que caberá somente ao PMDB a escolha e assinalou que o PT não deve se manifestar sobre o assunto.
O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), é o nome mais cotado no momento. Ele, contudo, tem sido preterido por algumas correntes do PT.
No evento, Tarso Genro defendeu a punição de militares que cometeram crimes hediondos durante a ditadura militar (1964-1985).
Segundo ele, não se trata de reaver o ódio e promover o revanchismo. "Queremos apenas afirmar e alertar o que aconteceu no passado para que não se repita novamente", afirmou Genro.
A Caravana da Anistia foi criada em 2001 para julgar processos de reparação econômica por danos morais ou materiais. A comissão já julgou 55 mil processos, sendo 35 mil deferidos.
Genro admitiu que o evento representa o ato final de sua permanência à frente da pasta. O ministro deixará o cargo na quarta-feira para disputar o governo do Rio Grande do Sul. Ele não quis revelar quem irá sucedê-lo.
Disputam a vaga o secretário executivo do ministério, Luiz Paulo Teles Barreto, e o secretário geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP).
Genro também negou divergências com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), que entre suas principais diretrizes pretende criar a "comissão da verdade" para investigar violações e torturas praticadas no contexto da repressão política.
Para Genro, as diferenças de opinião refletem um governo democrático e plural. "O presidente vai mediar a situação. De qualquer maneira, o decreto não vai ser revogado, mas ajustado conceitualmente, de forma que não ocorra mais divergências públicas", explicou.
O PNDH despertou a ira das tropas militares, que divulgaram uma mensagem contra o programa, além de ter colocado em lados opostos Jobim e o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.