Título: Disputa entre senadores ameaça unidade pemedebista na convenção
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/02/2010, Política, p. A9

Uma disputa na bancada do PMDB do Senado ameaça a unidade que os pemedebistas pretendem exibir amanhã em sua convenção nacional, em Brasília, convocada para eleger o novo comando partidário e reconduzir o deputado Michel Temer (SP) à presidência da legenda.

Os senadores Romero Jucá (RR), líder do governo, e Valdir Raupp (RO), ex-líder da bancada, concorrem à vaga de vice-presidente, estimulados por alas divergentes do partido. Se não houver entendimento, a escolha caberá ao diretório nacional a ser eleito na convenção.

Raupp tem apoio do líder Renan Calheiros (AL) e da maior parte da bancada. Jucá tem a preferência da ala pemedebista da Câmara - que continuará ocupando os postos estratégicos da executiva que está sendo negociada: presidência, secretaria-geral e tesouraria. Deputados do partido afirmam que, se a disputa entre os senadores chegar à convenção, o líder deve vencer.

Argumentam que, como líder do governo, Jucá será mais útil no processo eleitoral, por ter "mais desenvoltura" e facilidade na relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governo. Por outro lado, o estilo de Jucá causa resistência à sua indicação na bancada do Senado, onde é visto como menos subordinado ao comando partidário e com "voo próprio".

Os pemedebistas do Senado estão atualmente fora da Executiva e do diretório por causa de um racha na convenção passada. A divergência entre as duas bancadas é histórica. Desta vez, negociam a composição da chapa e o retorno dos senadores, com a intenção de fortalecer o partido na eleição nacional. O Senado terá quatro vagas na executiva. Renan indicou Jucá, Raupp e Wellington Salgado (MG), suplente do ministro Hélio Costa (Comunicações). Como líder, ele é membro nato.

A queda de braço no Senado não respinga na reeleição de Temer. Com exceção dos diretórios de Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, que entraram com ações judiciais para tentar cancelar a convenção - e perderam -, há convergência em torno da recondução de Temer ao comando partidário.

Contrários à aliança do PMDB com o PT na eleição para a Presidência da República, esses diretórios não querem fortalecer Temer, por enquanto o escolhido da cúpula partidária para ser o vice na chapa da ministra Dilma Rousseff , candidata do presidente Lula à sucessão no Palácio do Planalto.

A tentativa desses diretórios de suspender a convenção nacional é considerada uma postura equivocada pelo deputado Eliseu Padilha (RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães. Ele próprio é contrário à aliança com o PT, mas participa ativamente das negociações pela formação do novo diretório. Defende a unidade partidária e diz que a convenção de amanhã nada tem a ver com a aliança eleitoral com o PT.

"A minha orientação, como presidente da Fundação Ulysses Guimarães, é que todos os convencionais procurem preservar a unidade do partido na chapa da Unidade, a única que foi registrada", disse. Segundo Padilha, "para preservar a democracia interna" existe um pacto na direção do partido no sentido de que, institucionalmente, a questão da candidatura própria a presidente da República ou aliança com o PT só será analisada na convenção nacional de junho.

Renan Calheiros diz que "não é recomendável" discutir agora a questão do vice de Dilma e da aliança com o PT. Mas ele avalia que a eleição de um diretório negociado, resultado da composição entre Câmara e Senado, "aproxima" o partido de Lula. "A divisão fragiliza o PMDB. Expõe a ambiguidade vivida pelo partido nos últimos tempos", diz.

A convenção do PMDB começará amanhã às 9h. Os 570 convencionais (senadores, deputados federais, delegados, membros dos diretórios etc.) estarão reunião no auditório da Câmara. Ao todo, são 797 votos, pois vários pemedebistas têm direito a mais de um voto, dependendo dos cargos que ocupa ou ocupou.

Esses convencionais vão eleger o diretório nacional (119 integrantes), a quem cabe eleger a comissão executiva nacional (19 vagas). A votação deve ser encerrada às 17h. Assim que o diretório estiver eleito, a cúpula pretende eleger a Executiva.

A presença de líderes e dirigentes do PT na convenção é esperada pelos pemedebistas. Na terça-feira, o partido homenageou o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), novo líder do governo na Câmara, com um jantar na casa do deputado Eunício Oliveira (CE), que será o primeiro tesoureiro. Vaccarezza tem proximidade com os pemedebistas. Defende a aliança e a indicação de Temer para vice de Dilma, por considerá-lo "a cara do PMDB".