Título: Centro-Oeste vive novo ciclo de investimentos no setor de alimentos
Autor: Zanatta , Mauro
Fonte: Valor Econômico, 11/03/2010, Especial, p. A16

A vocação natural doschapadões de Goiás para o agronegócio tem estimulado uma nova onda deinvestimentos da indústria de alimentos na região Centro-Oeste. Águaabundante, alta tecnologia nas lavouras, diversidade dematérias-primas, incentivo fiscal e proximidade de grandes centrosconsumidores desataram uma intensa corrida por grãos, cereais, hortas epomares no Brasil Central.

Onovo Eldorado tem como epicentro a cidade goiana de Cristalina, a 120quilômetros ao sul de Brasília. Maior Produto Interno Bruto (PIB)agropecuário do Estado e 21º do país, a cidade de 40 mil habitantesvive um momento de euforia, algo inédito desde o fim do garimpo decristais, no início do século passado. Mas a aposta da agroindústria naregião tem um alcance mais amplo. Municípios como Luziânia, Orizona,Goiandira e Morrinhos animam a febre da industrialização do campo, cujoinvestimento total deve ultrapassar R$ 1 bilhão nos próximos três anos.

Donada maior área irrigada por pivôs centrais na América Latina, Cristalinaconta os dias para o início das operações de três grandes fábricas deconservas e atomatados. "Vamos sair do amadorismo para um modeloaltamente profissional", diz a líder empresarial Joana D"Arc Assad,dona do principal magazine local. O ânimo renovado se explica pelaatração de R$ 500 milhões em investimentos e a geração de 3 milempregos diretos. "É a reversão de um processo de esvaziamentohistórico", afirma o prefeito Luiz Carlos Attiê (DEM).

Atrás de cada novaindústria, Cristalina espera receber outras seis empresas - deembalagens a transportes, de manutenção a serviços. Os fatoresdecisivos são semelhantes aos motivos que levaram grandes frigoríficos,como Perdigão e Sadia, a migrarpara o Centro-Oeste no fim dos anos 1990. Custos baixos, mão de obrabarata, logística privilegiada e produção de até quatro safras por anoalimentam a nova onda de prosperidade industrial.

Encravada em meio a 20 mil hectares de lavouras, a multinacional francesa Bonduellereflete a tendência na região. Em agosto, abrirá as portas de umaplanta de R$ 115 milhões, que processará 120 mil toneladas anuais demilho, ervilha, brócolis, couve-flor, cenoura e beterraba. Lídermundial na industrialização de vegetais, a empresa já planeja osprimeiros embarques à Argentina. "Seremos uma plataforma para osmercados da América Latina e Estados Unidos", diz o diretor da empresa,João Alves Neto, que administrará 500 empregados no auge da produção.

Antesmesmo da nova onda industrial, Cristalina já exibia o 16º PIB entre os246 municípios de Goiás. Com altitude média de 1.200 metros, a cidadetem hoje 570 pivôs, responsáveis por irrigar 48 mil hectares com a águade 256 riachos e ribeirões. "Mas podemos triplicar essa área em poucotempo", calcula o dirigente rural Alécio Marostica.

Cliente antiga das indústrias da região, a paulista Fugini Alimentosjá reservou lugar na ascensão local. A nova fábrica de R$ 90 milhões daempresa será inaugurada no aniversário de Cristalina, em 18 de julho. Àbeira da BR-040, uma linha produzirá 110 mil toneladas de tomate porano, além de conservas de milho, ervilha, batata e cenoura. Em MonteAlto (SP), a Fugini processa hoje apenas 30 mil toneladas. No auge, em2012, terá 500 empregados em três turnos e demandará 85 caminhões paratransportar tomate e milho diariamente. "Vamos gerar muito empregoaqui", diz o gerente de operações Geraldo Silva, ao listar vagas paramanutenção de máquinas e serviços terceirizados.

Aos 40 anos de atividade, a catarinense Incotriltambém planeja um salto estratégico no Centro-Oeste. Investirá R$ 5,5milhões em nova planta de conservas de milho, ervilha, pepino eatomatados. Encurralada pela concorrência de indústrias do PlanaltoCentral, a família Weschenfelder rendeu-se às contas. Em Cristalina,cortará os custos pela metade, elevará em 45% o rendimento das lavourase reduzirá, de 45 para 25 dias, o tempo de colheita.

"Aqui, vamos fazer até quatro safras por ano, sem gente parada nemmaquinário ocioso", diz o empresário Luiz Augusto Weschenfelder.Formado em direito, mas forjado na lida industrial da Incotril, o jovemde 25 anos mudou-se com mulher e filha para erguer a fábrica, capaz deprocessar 250 toneladas diárias de tomate.

Navizinha Luziânia, a 60 km de Brasília, o entusiasmo é semelhante. Acidade tem o sétimo PIB industrial do Estado, lidera as exportaçõesagropecuárias e abrigará, a partir de 2011, um novo frigorífico de R$100 milhões da brasiliense Asa Alimentos. "Luziâniatem, além do benefício tributário, muito milho para garantir o abatediário de 600 mil aves que faremos no futuro", resume o empresárioAroldo Amorim. A Asa, que demanda um milhão de aves por semana em suasquatro plantas, fará a integração de 400 aviários com capacidade para20 mil aves cada. "É um novo modelo de desenvolvimento".

Sede estadual de agroindústrias como a multinacional Bunge, a tradicional Goiás Verde e a Minuano-JBS, a cidade também tem a Brasfrigo, coligada do grupo financeiro BMG.A indústria gera mil empregos e investiu R$ 10 milhões para modernizare verticalizar a produção de milho, ervilha e tomate em sete fazendas,com 12 mil hectares.

Na mesma região de influência econômica, na cidade de Goiandira, a mineira Emifor Alimentosfará nova fábrica de R$ 5,8 milhões para produzir macarrão instantâneo,achocolatados, leite em pó, caldos e temperos culinários. A empresa fazalimentos para Carrefour, La Valle e União. Próximo dali, em Morrinhos, a Conservas Olé industrializarámilho, ervilha, tomate e outros legumes em uma nova planta. Atradicional empresa da família Auricchio investirá em 85 mil metrosquadrados no distrito industrial local, onde terá a companhia dacooperativa láctea Complem, situada em uma das maiores bacias leiteiras do país.