Título: Não podemos só apagar incêndios
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 27/06/2010, Cidades, p. 31

Governador reconhece a dificuldade de atender todas as demandas da população do DF, mas garante que tem trabalhado por melhorias

Com pouco mais de dois meses de governo, Rogério Rosso já cumpriu quase 30% de um mandato totalmente atípico.Em 17 de abril, foi eleito pelos deputados distritais para administrar o GDF até dezembro.Do dia em que tomou as rédeas do Executivo até agora,Rosso já consegue fazer um diagnóstico das carências da população e das dificuldades do governo, mas não sabe até que ponto promoverá avanços em curto prazo.¿Nosso maior desafio é fazer funcionar o governo a contento, de acordo com as demandas e necessidades da população e, ao mesmo tempo, avançar em áreas importantes, como a da saúde.

Não podemos só apagar incêndios¿, disse o governador.

Diante de um leque variado de necessidades, Rosso elegeu a saúde pública como seu principal investimento. Em entrevista ao Correio, o governador assumiu que os usuários da rede pública vão sentir melhoras importantes até dezembro. ¿Quem necessitar de um remédio de alto custo não vai precisar sair de casa, terá o remédio entregue em sua residência. As consultas serão marcadas previamente e teremos o prontuário eletrônico desse paciente para que a secretaria possa acompanhar seu histórico¿, promete.

Paralisações Apesar das dificuldades, Rosso avalia que sua administração devolveu a normalidade institucional ao DF.Na última semana, no entanto, ele foi surpreendido com o agravamento da greve dos rodoviários, que, em conjunto com os donos de empresas de ônibus, interromperam os serviços de transporte em coletivos. A crise foi contornada na sexta-feira e os ônibus voltaram a circular.Mas a greve dos policiais civis permanece.

Na mesma semana em que Rosso sofreu o desgaste em função das paralisações, o Supremo Tribunal Federal agendou o julgamento da intervenção na capital.

Para o governador, no entanto, trata-se de uma ¿coincidência¿.

Ele considera a iniciativa do STF natural, mas assegura ¿empenho¿ para garantir a tranquilidade administrativa. ¿Da nossa parte, tudo o que podemos fazer, estamos fazendo. Todos temos limites como seres humanos, gestores e homens públicos.¿ GREVE ¿Existe greve em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco, na Bahia. Em todos os estados brasileiros há paralisações de vários segmentos.

Sobre o caso dos rodoviários, a data-base da categoria sempre se dá em maio ou junho e, neste caso, o sindicato dos empresários não tinha feito, até então, uma proposta de reajuste de rodoviários, o que deflagrou a greve. Até hoje, o problema vinha sendo contornado sem aumento de tarifa, que era mascarada para a população com incentivos e benefícios para o setor. Quando se joga o problema para debaixo do tapete, uma hora ele aparece. Aí, deu no que deu. O que fizemos foi procurar mediar essa questão entre empresários e trabalhadores.¿ AUDITORIA NO TRANSPORTE ¿Os empresários fizeram uma proposta de reajuste e o governo não aceitou conversar. Eles entregaram uma planilha de custos argumentando que precisavam fazer um reequilíbrio financeiro e, para isso, sugeriram tarifa de R$ 4,25. Não reconhecemos essas contas e determinei que vários órgãos do governo fizessem a mais ampla auditoria nos custos do transporte público. A sociedade precisa saber qual é o custo real da passagem de ônibus no DF.

Em 30 dias, esperamos ter essa radiografia. Aí, sim, poderemos conversar e conhecer a realidade do sistema. A partir do resultado, o governo poderá ter um cenário real a ser discutido com os diversos setores da sociedade.¿ SAÚDE PÚBLICA ¿Nestes 60 dias de governo, constatamos que são vários os problemas na saúde. Desde as carências de abastecimento de medicamentos e suprimentos até a questão do gerenciamento de recursos humanos. É verdade, sim, que cidades limítrofes de outros estados exercem pressão no DF.

Mas estamos nos esforçando para melhorar o atendimento em todos os seus aspectos. Nesse curto espaço de tempo, consideramos a saúde a nossa prioridade, a espinha dorsal do governo. Criamos uma secretaria extraordinária de logística e infraestrutura, que vai ser responsável por toda a parte de programação e planejamento de compra de material, serviço, além de realizar as obras da Secretaria de Saúde. Antes, o secretário tinha de se preocupar desde o prego a ser comprado para fazer um reparo até a aquisição de medicamento e a contratação de profissionais. Também estamos descentralizando os recursos. Os hospitais passaram a ter um suprimento de fundos para que os gestores dos hospitais não tenham de ir de pires na mão à secretaria porque queimou uma lâmpada ou faltou um medicamento, o que fazia parar o hospital inteiro.¿ COMPROMISSO ¿Em dezembro, quem necessitar de um remédio de alto custo não vai precisar sair de casa, terá o remédio entregue em sua residência. As consultas serão marcadas previamente e teremos o prontuário eletrônico desse paciente para que a Secretaria possa acompanhar o histórico do paciente. Com isso, a família do doente, primeiro, ficará mais segura de ir a um posto ou centro de saúde antes de recorrer ao hospital. Hoje, a população não confia no sistema e vai direto aos hospitais, mas nem sempre essa é a melhor opção.¿ POLICIAIS CIVIS PARADOS ¿A Constituição prevê que o reajuste das carreiras de segurança pública, militar e civil do DF seja feito pela União. O governador Wilson Lima (PR) remeteu à presidência da República uma mensagem dispondo sobre aumento das categorias da segurança pública.

Essa mensagem, por não ter sido discutida previamente com o governo federal, não foi analisada.

Isso dificultou o encaminhamento da proposta com o governo federal.

Fizemos vários encontros com ministros para abrir um canal de entendimento, mas, por enquanto, a União tem sido muito firme com relação à impossibilidade de praticar algum reajuste em 2010 para as categorias de segurança.

As portas, no entanto, não estão fechadas e essas reuniões técnicas vão continuar a ocorrer nos próximos meses.¿ OBRAS ¿O governo não está fazendo oba-oba nem foguetório nas inaugurações de obras. Mas todas as semanas temos entregado de 10 a 15 construções à comunidade.

A maior obra em andamento hoje é a da EPTG. Qualquer pessoa que for lá de madrugada vai ver que aceleramos esse projeto.

E vamos concluí-lo até o fim do ano. Também estamos para entregar a Estrada Parque Guará (EPGu), obras nos condomínios, recapeamento nas cidades e algumas vilas olímpicas. Na saúde, inauguramos, por exemplo, o laboratório do Hospital Regional de Taguatinga, a farmácia de alto custo da 102 Sul, o pronto-socorro e a obstetrícia do Hospital do Gama e a unidade de odontologia do Hospital da Asa Sul.¿ IMPOSTO DE RENDA ¿Fomos surpreendidos com o comunicado da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional de que, a partir do fim de junho, o Imposto de Renda do Fundo Constitucional seria retido no governo federal, o que significaria na prática que o DF teria por mês algo em torno de R$ 32 milhões a menos. Segundo esse entendimento da Procuradoria-Geral, a cobrança dos atrasados desde a criação do fundo constitucional tomaria mais de R$ 2 bilhões dos cofres locais. Assim, o DF seria incluído no cadastro de inadimplentes, gerando a interrupção de uma série de repasses, inclusive de organismos internacionais. A nossa Procuradoria entrou com ação cautelar no Tribunal de Contas da União e conseguiu reverter a situação.

Trinta e dois milhões de reais a menos por mês equivaleria à média de aplicação no programa de obras do governo, da ordem de R$ 500 milhões por ano. Seria um caos financeiro.¿ PMDB ¿Sempre entendi que uma eleição polarizada é muito ruim para Brasília, tem que haver alternativas, o PMDB poderia ter sido essa opção. Não como coadjuvante (na convenção regional, o partido optou pela candidatura de vice-governador na chapa encabeçada pelo PT), mas como líder de um grupo. Não foi possível, então bola para frente e foco nas ações de governo.¿ INTERVENÇÃO ¿Os ministros do Supremo são competentes. Na minha avaliação, o fato de terem marcado o julgamento da questão para esta semana em nada tem a ver com a questão da greves. Foi uma coincidência, uma determinação natural, legítima do presidente do Supremo. Compete ao STF julgar o pedido de intervenção. Da nossa parte, tudo o que podemos fazer, estamos fazendo. Todos temos limites como seres humanos, gestores, homens públicos.¿ DESAFIO ¿Não tivemos tempo de transição, aquele prazo de três ou quatro meses em que um governo passa para o outro toda uma radiografia da situação, principais problemas, projetos e ações.

Tomamos posse em abril e, a partir daí, iniciamos o trabalho de continuar com os serviços do governo e atender os anseios da população, auditando uma série de contratos em andamento. Nosso principal desafio é fazer funcionar o governo a contento, de acordo com as demandas e necessidades da população e, ao mesmo tempo, avançar em áreas importantes, como a da saúde. Não podemos só apagar incêndios.¿