Título: PSDB discute propostas para fortalecer atuação do BC no câmbio
Autor: Agostine , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2010, Política, p. A6

O grupo de economistas que deve trabalhar para a campanha do pré-candidato à Presidência do PSDB, governador de São Paulo, José Serra, defende a manutenção da atual política macroeconômica, com meta de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal, mas propõe mudanças. O tema mais delicado é o controle do capital nas operações cambiais.

"Não é que defendemos o controle sobre o capital, mas é preciso instrumentos para moderar situações do mercado", disse Geraldo Biasoto, economista da Unicamp, da ala desenvolvimentista do PSDB e que deve compor a equipe econômica da campanha de Serra. Ele reclama do controle do mercado financeiro por "especuladores". O grupo de Serra, até o momento, diverge da ala mais monetarista, da PUC-Rio, de onde veio a equipe do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Para Biasoto, é preciso dar um freio nas operações de câmbio para que o Real não permaneça tão apreciado. O desafio na nova equipe será moldar a proposta sem assustar o mercado financeiro.

Consultor informal de Serra, o economista e diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Giannetti da Fonseca, embora nada fale de controle sobre operações cambiais, diz que o mercado de câmbio precisa de maior eficácia e vê a atual sobrevalorização do câmbio como insustentável para as contas externas. "Tem que desmontar o viés do mercado financeiro. A mesa do BC é operada pelo mercado, que sabe de antemão se vai ter leilão, qual taxa o BC está trabalhando. A especulação ficou barata", afirmou. Sua estimativa é de o déficit em conta-corrente chegar a US$ 90 bilhões até 2012 se o câmbio continuar valorizado. "Não conheço nenhum país, a não ser os Estados Unidos por causa do privilégio de ter moeda internacional, consegue manter déficit em conta-corrente acima de 5% durante anos seguidos sem entrar em curto prazo em processo de moratória e de iliquidez cambial."

O grupo deve eleger o déficit externo como a "herança maldita" do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Em artigo, o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas prevê déficit em conta-corrente de US$ 60 bilhões ao fim de 2010, projeção mais pessimista que a do mercado, de US$ 50 bilhões.

Os economistas de Serra criticam o aumento de despesas correntes no governo Lula, como os gastos com pessoal e de custeio da máquina, o que reduziria a capacidade do Estado para investir em infraestrutura. Entre os gastos com custeio, está o Bolsa Família. O PSDB tem como desafio defender a redução de despesas sem que a oposição o acuse de querer cortar o programa.

Para Biasoto, é fácil reduzir as despesas correntes. "Há um descalabro absoluto no repasse de recursos, nas transferências voluntárias do governo federal a Estados e municípios", disse Biasoto que aponta um viés político nessas escolhas. Segundo o economista, é possível fazer ajustes, embora mexer no gasto de pessoal seja mais complexo. "O desafio na área de pessoal é mais difícil porque o governo Lula consolidou um novo patamar. Mas será mais fácil para Serra reduzir esses gastos do que para Dilma. Ela teria que cortar parceiros."

A equipe de Serra defenderá o aumento dos investimentos em infraestrutura. Os economistas tentarão mostrar que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), bandeira petista, é uma "farsa", pois é insuficiente para fazer frente à demanda interna. Se a economia continuar crescendo, dizem os tucanos, os investimentos em aeroportos e portos, por exemplo, se mostrarão insuficientes.

Assim como o PT, o PSDB deverá defender um Estado forte. "Mas há diferenças", disse Biasoto. "Uma coisa é o Estado dar crédito para um setor importante da economia, viabilizar políticas públicas; outra é dirigir a economia", disse. A ideia é o Estado induzir o fortalecimento do empresariado a partir de políticas que não signifiquem aumento da participação estatal na economia. Giannetti defende a manutenção do sistema de metas de inflação, mas com queda nos juros e corte de gastos. "Se a taxa de juro é reduzida, sobra dinheiro porque cai o pagamento de juro sobre a dívida pública. O governo pode trabalhar para diminuir o gasto e ter superávit primário. Isso acaba com o problema da inflação."

Além de Biasoto, já está garantido na equipe de campanha de Serra o economista Gesner de Oliveira, coordenador técnico do programa de governo do PSDB na eleição de 2002. Ambos mantiveram-se próximos a Serra e fazem parte do governo estadual. Gesner preside a Sabesp (estatal de saneamento) e é professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Presidiu o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Antes esteve nas secretarias de Acompanhamento Econômico e de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Biasoto é diretor-executivo da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) de São Paulo. Foi assessor de Serra em 1996, no Senado e o acompanhou no Ministério da Saúde, na Prefeitura de São Paulo e no governo estadual.

Devem participar também da elaboração do programa na área econômica os secretários estaduais Francisco Vidal Luna (Planejamento) e João Sayad (Cultura), o economista Andrea Calabi e o deputado federal Luiz Paulo Velloso Lucas, presidente do Instituto Teotônio Vilela, fundação de estudos do PSDB. O economista de carreira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) José Roberto Afonso, que sempre atuou como técnico do PSDB, disse que não trabalhará diretamente na campanha, mas deverá ser consultor durante a campanha.