Título: Governo nega licença de Lula para fazer campanha
Autor: Ulhôa , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/03/2010, Política, p. A7
O governo negou, ontem, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha a intenção de tirar licença do cargo para dedicar-se à campanha da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) à Presidência da República. Mas o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), relatou ter conversado com Lula, em outubro de 2009, sobre a possibilidade da licença, durante visita às obras de transposição do Rio São Francisco: "Eu sugeri ao presidente que tirasse uma licença de 30 dias para viajar pelo país, para cuidar da campanha da ministra. Ele disse que, se pudesse, tiraria dois meses."
Na opinião do pemedebista, Lula tem disposição para se afastar temporariamente do cargo para viajar pelo país, na companhia de Dilma, caso sua presença mais constante seja necessária para alavancar a candidatura. "Se precisar, acho que ele tira a licença, não só para ajudar a Dilma, mas para poder se despedir do povo brasileiro, agradecer. Isso faria muito bem a ele, afetivamente."
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que "nunca foi cogitada pelo presidente essa hipótese". O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) considerou "uma maluquice" a possibilidade da licença. Para o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), "o presidente nunca pensou nisso". Porém, a licença do presidente era realmente uma hipótese nas discussões dos seus auxiliares, meses atrás, caso a campanha da ministra não a tivesse levado ao topo das intenções de voto.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), por sua vez, disse não ter fundamento a notícia de que Lula vai se licenciar e que a Presidência será ocupada por ele. "Isso não existe, não tem fundamento. Se o presidente não se licenciou na candidatura dele (em 2006, à reeleição), como vai se licenciar para a candidatura de outra pessoa? Isso é procurar cabelo em casca de ovo", disse.
Sarney é o terceiro na linha sucessória, após o vice-presidente, José Alencar, e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Ambos estão impedidos de assumir porque são candidatos nas eleições de outubro. Sarney tem mais quatro anos de mandato e não concorrerá nessa eleição.
A notícia da licença de Lula e da interinidade de Sarney foi publicada ontem pelo jornal "O Globo". Ao ser perguntado se aceitaria ocupar temporariamente o cargo que foi seu (1985-90), Sarney respondeu com uma pergunta: "Quem foi presidente da República, vai lutar para ser presidente interino?"
Um auxiliar muito próximo do presidente também lembrou que nem durante a reeleição o presidente abriu mão de governar para fazer campanha. "Para que ele faria isso se a legislação permite que ele faça campanha depois das 18h e nos fins de semana? "