Título: Por ação do PT e omissão do PSDB, Dilma cresce
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/03/2010, Opinião, p. A12

A divulgação da última pesquisa Datafolha provocou intensa pressão sobre José Serra (PSDB). O governador de São Paulo, que manteve a dianteira durante todo o período pré-oficial da campanha para a Presidência, declina nas pesquisas à medida que a campanha oficial se aproxima, sem que isso pareça a ele razão suficiente para ceder aos apelos de seus aliados e assumir claramente sua candidatura. As intenções de voto na candidata do PT, Dilma Rousseff, que jamais disputou uma eleição, têm crescido de forma constante. Antes do esperado inclusive pelo seu partido, Dilma está em empate técnico com Serra. A eleição, como era previsível, polarizou-se entre a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, segundo pesquisa do mesmo instituto divulgada ontem, chegou a 73% de aprovação - e o tucano; como não era previsível, pelo menos tão cedo, Dilma Rousseff é a favorita.

A pesquisa Datafolha de fevereiro mostra que foram bem-sucedidos os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tornar conhecida do eleitor a sua ministra da Casa Civil, identificá-la com ele e seu governo e transferir para ela sua popularidade. Um dos dados que permitem essa leitura é a pesquisa espontânea: as intenções de voto em Lula nessa sondagem caíram à metade (de 20% para 10%) e Dilma obteve 10%, contra 7% das intenções de voto a Serra - a adesão espontânea a Dilma cresce na mesma proporção em que se reduz o número de eleitores que declaram voto em Lula, à medida que se aumenta o conhecimento de que o presidente não é candidato à sua própria sucessão.

A candidata do PT nunca disputou eleição, mas tornou-se conhecida e identificada com o popular Lula em tempo recorde por razões que dizem respeito às ações de seu padrinho, mas também por omissão do adversário mais forte. Lula escolheu Dilma e a impôs ao PT; desde então, nenhuma inauguração deixou de contar com a presença e o protagonismo da ungida. A ação em favor da ministra tem ficado no limite da legalidade: sem dúvida, a máquina administrativa está em andamento para identificar Dilma com as ações de um governo que continua francamente popular. Outras razões existem, no entanto, para que Dilma tenha se firmado de forma tão efetiva no quadro eleitoral. Uma delas é a unidade partidária.

O PT se submeteu à vontade de Lula, é fato. No entanto, o presidente e seu partido alinhavaram uma unidade em torno de Dilma que o PSDB está a léguas de distância de ter conseguido - ou de ter conhecido algum dia, em qualquer eleição, com qualquer candidato. As divisões internas que se manifestaram no Congresso do PT, no mês passado, ficaram adstritas a definições de programa de governo. Nenhuma tendência colocou em questão a candidatura de Dilma. Ela não foi vítima de "fogo amigo".

Os resultados da pesquisa Datafolha refletem, todavia, não apenas as ações do PT e de Dilma, mas a ação correspondente de seus principais adversários, Serra e o PSDB. Os aliados do governador de São Paulo cobram dele uma definição desde o fim do ano passado. Antes, a falta de clareza de Serra no cenário eleitoral era relevada pelo fato de existir um outro postulante à legenda para a Presidência, Aécio Neves, o governador de Minas. Aécio retirou-se da disputa- e então, a pretexto de evitar confronto direto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Serra se manteve apenas como "provável" adversário do PT. Não assumiu a sua postulação, embora, no momento anterior, tivesse mostrado agressividade suficiente para tirar um correligionário da disputa. Um dos resultados disso é que se submete a permanentes especulações de que pode sair da disputa.

Sem contar com um articulador interno com o peso de Lula, Serra não conseguiu desempenhar esse papel, pelo menos até agora. Sem uma liderança sobre PSDB e aliados, dificilmente conseguirá reverter tendências consideradas preocupantes por correligionários. Nas pesquisas, Dilma já superou Serra no Nordeste - onde o lulismo ainda é absoluto -; está tecnicamente empatada com Serra no Norte/Centro-Oeste; não superou o tucano, mas cresceu bastante no Sudeste e no Sul, redutos tucanos. A campanha oficial está prestes a começar e ainda tem chão até as eleições. Mas é muito mais difícil para um partido desunido carregar um candidato contra um governo que chega ao fim com altos índices de aprovação.