Título: Temer vence e convenção será em fevereiro
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2010, Política, p. A9

Nos bastidores da gravação do programa partidário do PT, que vai ao ar no início de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, "se o PMDB quiser que o vice seja o Temer, o vice será o Temer". Lula se referia ao presidente da Câmara e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), cuja indicação para vice na chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é contestada por setores do PT e do governo. Além de Lula, Dilma e outros petistas participaram da gravação - comandada pelo jornalista João Santana -, realizada ontem, em mansão no Park Way, bairro nobre de Brasília.

O PMDB reuniu ontem sua Executiva Nacional para marcar a data da convenção que vai eleger o novo comando partidário. Será no dia 6 de fevereiro, numa demonstração de força de Michel Temer. A ala governista quer ter mais legitimidade e força para negociar a aliança com o PT. O PMDB oposicionista, especialmente as seções do Paraná e de Santa Catarina, queria adiar a convenção para 10 de março, quando expira o atual mandato de Temer.

O deputado preside o PMDB desde 2001. Será reconduzido na convenção de fevereiro, que vai eleger o novo diretório nacional - que, por sua vez, escolherá uma nova Executiva Nacional pró-Dilma, se as articulações entre o Palácio do Planalto e o partido continuarem bem-sucedidas. O passo seguinte será a declaração do apoio formal pemedebista à coligação com a candidata do PT a presidente em outra convenção, em junho.

Na reunião de ontem, o deputado Darcísio Perondi (RS), integrante da ala do partido que defende candidatura própria a presidente - contra a aliança com o PT -, fez questão de mostrar os jornais com notícias sobre a resistência de Lula e do PT à indicação de Temer para vice. "É uma campanha orquestrada e desavergonhada de setores do PT", disse Perondi, explorando a divisão. O líder na Câmara, Henrique Alves (RN), defensor da aliança, minimizou. Chamou de "intriga" da imprensa.

Temer, que ganhou a solidariedade dos integrantes da Executiva, fez um desabafo após a reunião. "Lamento que essas coisas se processem dessa maneira, por meio da imprensa. É evidente que, quando a imprensa noticia, ouviu em algum lugar", disse. E completou: "Por enquanto, não atrapalha a aliança. Mas não é bom. Política tem que ser feita com diálogo, transparência e conversas francas."

Se prevalecer o desejo de Dilma e Temer, a escolha do candidato a vice será o desfecho da negociação entre as duas siglas, que inclui também a aliança entre PT e PMDB nos Estados - talvez a maior dificuldade a ser superada pelos partidos para compor a parceria. "Quem vai decidir (o candidato a vice) é o PMDB. Tem que decidir conversando com o PT, que é aliado, e com a candidata. Mas a decisão é do PMDB", ponderou Temer.

No momento, Temer é o alvo do fogo disparado de vertentes diversas, que se cruzam na pré-campanha. São três os principais obstáculos à sua candidatura a vice. O primeiro deles, segundo apurou o Valor, é a corrente do PT que se opõe à aliança com o PMDB. É liderada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Genro foi quem assinou o primeiro acordo formal de entendimento entre PT e PMDB, mas no Sul os pemedebistas são os principais adversários dos petistas - a vitória da terceira via, Yeda Crusius, do PSDB, surpreendeu em 2006 os analistas da polarizada política gaúcha.

Outro grupo que veta a aliança PT-PMDB é integrado pelos petistas dos Estados onde são maiores as dificuldades de convivência entre as duas legendas, entre os quais, Pernambuco, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No Pará, ainda há possibilidade de conversa entre os dois partidos, apesar de o deputado Jader Barbalho (PMDB) julgar ter havido "quebra de confiança" na relação política com a governadora Ana Júlia Carepa.

Pará e Bahia, aliás, são dois Estados onde a composição PT-PMDB é considerada importante para a finalização da aliança. Na Bahia é dado como certo que a candidata terá dois palanques - o do governador Jaques Wagner (PT) e o do ministro do PMDB Geddel Vieira Lima (Integração Nacional). O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) viajou às pressas ao Pará, no domingo, para reunião com Jader e os petistas locais. Ontem deveria conversar com Ana Júlia.

A terceira vertente que conspira contra o nome de Michel Temer apoia, no entanto, a aliança com o PMDB. A diferença é que aposta no nome do senador e ministro Hélio Costa (Comunicações). Esse grupo é basicamente integrado pelos mineiros, entre os quais o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e o vice-presidente José Alencar, que é do PRB. Os dois primeiros são candidatos ao governo do Estado, disputa até agora liderada por Costa, segundo as pesquisas. Alencar quer a vaga do ministro no Senado.

"PMDB e PT têm de parar com essa discussão sobre a escolha do vice", disse o deputado João Paulo Cunha, do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT. "O vice quem escolhe é o PMDB e o melhor nome do PMDB é o Temer", acrescentou. Ex-presidente da Câmara, João Paulo integra o grupo majoritário do PT Construindo um Novo Brasil (CNB), que se reuniu no fim de semana no interior de São Paulo.

Com a declaração, espera desfazer as versões segundo as quais a tendência petista é contra a indicação de Temer. É certo, no entanto, que o próprio Lula falou a senadores do PMDB que, entre Temer e Costa, preferia o segundo. Principalmente se o governador mineiro Aécio Neves concordar em ser o candidato a vice na chapa do governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

O ministro Hélio Costa defendeu ontem a indicação de Michel Temer para vice da ministra Dilma Rousseff. Ele reiterou o desejo de concorrer ao governo de Minas Gerais, aliado ao PT. PT e PMDB devem definir na primeira semana de março o candidato ao governo mineiro. Dirigentes dos dois partidos definiram ontem que não haverá dois palanques no Estado. O critério de escolha deve ser o resultado de pesquisas qualitativas e quantitativas: quem estiver melhor colocado será o indicado. A sugestão foi feita por dirigentes pemedebistas em reunião ontem com o presidente do PT, Ricardo Berzoini, e José Eduardo Dutra, presidente eleito da sigla. "Não haverá dois palanques em Minas", sustentou Hélio Costa.

Para Dutra, a escolha poderia ser feita somente em abril, depois que o vice-governador, Antônio Anastasia, assumir o governo no lugar de Aécio Neves. "Precisamos ver qual o efeito que isso vai ter nas pesquisas", comentou Dutra. Até março, o PT pretende resolver o impasse entre o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias. A prévia interna está descartada, segundo o futuro presidente do PT. (Colaboraram Cristiane Agostine e Danilo Fariello)