Título: Lula prefere Costa a Temer para vice de Dilma
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2010, Política, p. A2

A preferência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no PMDB para vice na chapa da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é o ministro das Comunicações, Hélio Costa, mas esta é uma decisão que somente será tomada depois que PT e PMDB decidirem como vão se compor em relação à disputa pelo governo de Minas Gerais. O deputado Michel Temer (SP), presidente da Câmara e do partido, é o nome mais citado para a vaga de vice pelos líderes pemedebistas, especialmente entre os deputados.

Lula conversa sobre a indicação de Costa com a bancada do PMDB do Senado desde maio do ano passado. Ele estimulou a filiação ao partido do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que também reivindica a parceria com Dilma, mas é considerado um "cristão novo" no partido, com chances remotas de ser indicado por iniciativa dos pemedebistas. Com Meirelles, aparentemente, sem retaguarda partidária, Lula disse aos senadores que prefere Hélio Costa.

Embora no passado recente Lula e Temer tenham divergido sobre as relações do partido com o governo, a escolha do presidente da República seria decorrência de puro cálculo político. O senador está bem posicionado nas pesquisas ao governo de Minas e ajudaria Dilma a firmar uma boa posição no segundo maior colégio eleitoral do país. Além disso, como vice na chapa de Dilma o ministro seria um candidato a menos na disputa por uma cadeira do Senado, o que facilitaria ainda mais uma eleição que se julga tranquila do atual vice-presidente, José Alencar.

Partido tradicionalmente dividido, até agora o PMDB teve relativo sucesso no discurso da unidade partidária em torno do nome do presidente da Câmara, Michel Temer. A cúpula do partido entendeu o recado do presidente Lula quando ele sugeriu que a sigla deveria apresentar uma lista tríplice com os nomes dos candidatos a vice - caberia à candidata Dilma a escolha do companheiro de chapa. Esse é um argumento mais sensível aos senadores que aos deputados, mas a reação imediata do PMDB à intervenção de Lula foi dar apoio institucional a Temer.

Hoje, a Executiva Nacional do PMDB deve se reunir para discutir a data da realização da convenção nacional para a eleição de seu novo presidente. O deputado Michel Temer deve ser reconduzido ao cargo, mas a tentativa de antecipar de março para 6 de fevereiro a data da escolha esbarra na resistência dos governadores Roberto Requião, do Paraná, e de Santa Catarina, Luiz Henrique, que deve apoiar o candidato do PSDB a presidente. O mandato de Temer termina no dia 10 de março.

A indicação de Temer também passou a ser contestada pelo grupo dominante no PT, a corrente Construindo um Novo Brasil (CNB). A tendência reuniu-se no fim de semana em São Paulo. Hoje, PT e PMDB devem conversar sobre as alianças regionais entre os dois partidos. Uma demonstração da inclinação dos senadores para apoiar as posições de Lula - como ocorreu em todo o mandato - é que eles passaram a defender que primeiro sejam resolvidas as questões estaduais e só então seja discutida a escolha do vice, exatamente o contrário do que aconteceu com a decisão sobre a aliança.

Pesquisa Vox Populi divulgada ontem pelo jornal "Hoje Em Dia" indica que Hélio Costa mantém a liderança das intenções de voto para o governo do Estado, mas está na faixa dos 37%, quando outras pesquisas realizadas ano passado chegaram a lhe dar 45%. Essa oscilação anima o ex-prefeito do PT Fernando Pimentel a se manter no páreo - ele tem 34%, enquanto outro petista, o ministro Patrus Ananias está com 28%. Patrus já declarou que acompanhará a decisão do vice José Alencar, que é favorável à composição com o PMDB que for melhor para Dilma.

Uma das duas vagas ao Senado é dada como certa para o governador Aécio Neves, se ele não decidir ser candidato a vice na chapa presidencial de Serra. A outra, para José Alencar, que nas contas do mineiro pode até ter uma votação maior que Aécio, pois será a segunda opção do eleitor do governador mineiro. Sobram para Costa, Pimentel e Patrus a candidatura ao governo do Estado pela oposição.

Se Costa for o candidato a vice do PMDB, Patrus pode concorrer ao governo estadual e Pimentel coordenar a campanha de Dilma. O ex-prefeito diz que sua intenção é concorrer ao governo do Estado, mas em suas articulações praticamente deixou Costa sem uma porta de saída. Aliado político de Dilma, o ex-prefeito é seu amigo de juventude e faz parte do grupo que coordena a pré-campanha, mas é incerto seu lugar num eventual governo da ministra da Casa Civil. O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci também é um influente assessor da campanha da petista. No jogo de pressão e contrapressões da política mineira, Hélio Costa chegou a dizer que poderia se aliar a Aécio, na falta de um acordo com o PMDB. Mas a manifestação do ministro é vista como um blefe pelos políticos mineiros.