Título: Nível da capacidade instalada volta a crescer, diz CNI
Autor: Galvão , Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 11/02/2010, Brasil, p. A4

O nível de utilização da capacidade instalada da indústria, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), voltou a crescer, atingindo 81,7% em dezembro. Em novembro, o indicador estava em 81,3% e, em dezembro de 2008, em 79,4%. O economista-chefe da entidade, Flávio Castelo Branco, procurou ressaltar que esse nível deve continuar subindo neste ano, mas, na sua visão, não representa um problema para a inflação porque o investimento também se recuperou depois de superada a crise internacional. "Ociosidade é custo e também desestimula o investimento", explicou.

Na análise da CNI, não há pressão inflacionária dos preços industriais e o cenário, portanto, é tranquilo para a economia. Castelo Branco também informou que o atual nível de 81,7% ainda está 1,3 ponto percentual abaixo do que havia em setembro de 2008 (pré-crise). "O uso da capacidade vem crescendo de forma constante, mas há espaço para aumentar a produção. Ao mesmo tempo, há estímulos para a retomada dos investimentos. Do ponto de vista da indústria, não há risco de aceleração da inflação", disse.

No fim do ano passado, o Banco Central (BC) já avaliava que, mantido o ritmo da produção, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria (este, medido pela Fundação Getulio Vargas) atingirá 86,5% em maio, perto de bater o recorde registrado em junho de 2008. Se esse movimento mostrou que a economia brasileira está próxima de se recuperar inteiramente da crise internacional, também sinalizou que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode começar nova rodada de aperto monetário para combater possíveis pressões inflacionárias.

No mercado financeiro, a maioria dos analistas acredita que a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 8,75% ao ano está com seus dias contados. Muitos esperam alta já na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom). A economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro, tem visão diferente da CNI. Ela argumentou que os preços dos produtos industriais, no atacado, já estão mais elevados.

Tatiana também afirmou que, no primeiro semestre de 2008, antes da crise, a média do nível de utilização da capacidade instalada da indústria foi de 83,2%. Com base na informação da CNI de que o nível de dezembro já chegou em 81,7%, ela concluiu que a distância do auge é pequena. "É complicado começar o ano com expectativa de inflação acima da meta. Se em 2009 houve deflação dos preços industriais, agora a conversa é outra", comentou.

O estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, disse que é "quase consensual", entre os analistas do mercado, que a taxa de juros de 8,75% jogou a economia para cima durante a crise, mas, agora, traz pressão inflacionária. "Esses 8,75% não são sustentáveis e serão corrigidos em algum momento", afirmou.

Padovani reconheceu que o argumento da CNI é válido quando sustenta que a ociosidade representa aumento de custos e inibe investimentos. Mas ele também alertou para o fato de que há um rápido movimento de elevação do nível de utilização da capacidade instalada da indústria.

Nos outros indicadores industriais divulgados pela CNI, dezembro teve fortes altas no faturamento (12,2%) e nas horas trabalhadas (4,7%), na comparação com dezembro de 2008. Emprego e massa salarial elevaram-se 0,2%. Quando os números de dezembro são confrontados com os de novembro (dessazonalizados), há aumentos do faturamento (3,5%) e do emprego (1,2%), mas queda de 0,4% nas horas trabalhadas.

A comparação de 2009 com 2008 trouxe o retrato da crise financeira internacional, com intensas quedas em todos os indicadores medidos pela CNI: faturamento (-4,3%), horas trabalhadas (-7,6%), emprego (-3,1%) e massa salarial (-1,5%). Para Castelo Branco, emprego e horas trabalhadas (atividade) ainda estão abaixo do nível pré-crise, mas o processo é de retomada.